30 dezembro 2008

Silêncio Interrompido 27/12/08

ADEMAURO COUTINHO

ADINHO VIDAL

CHARLES MARINHO

EDVALDO CARNEIRO

FELIPE ANDRADE

NINHO DO RAP

PHILIPPE WOLLNEY

SANDRO GONZAGA

THIAGO ALBERT

WENDELL NASCIMENTO


SILÊNCIO INTERROMPIDO

Recital Poético para encerrar as atividades poéticas de 2008.

Realizado na praça 13 de Maio (praça João Pessoa) no dia 27 de Dezembro de 2008 na cidade de Goiana, teve a participação de poetas e músico da cidade, contando com a participação dos poetas Ademauro Coutinho, Adinho Vidal, Charles Marinho, do poeta cordelista Edvaldo Carneiro, Felipe Andrade com os versos Augustinianos, os músicos Ítalo Pay, Mônica e Tácio, e os poetas, Ninho do RAP, Philippe Wollney, Sandro Gonzaga, Thiago Albert, Wendell Nascimento.


O Silêncio Interrompido agradece a participação de todos, e a contribuição de Ítalo, Clóvis, Jairo, Dona Guiomar, Lucinha e Iêda que sem a tamanha compreensão não seria possível nossos delírios.

"Balança mas não cai"
Era o único morador dum corpo prestes a ruir. Ficou a ver as rachaduras
crescerem e a ouvir os estalidos da vida rangendo em seus ossos.

(Francisco Espinhara)

26 dezembro 2008

RECITAL POÉTICO 27/12



Recital Poético // Silêncio Interrompido
Quando? - 27 de dezembro (amanhã)
Onde? - Praça João Pessoa / Goiana -PE
(em frente ao Banco de Caixa Econômica)
Apartir das 19:30h

Horizonte (Natureza)



Ademauro Coutinho

Vil

A lombra me deixou alumbriado,
Disposto a gritar intimidades,
Sem maldades, com prazer,
Os prazeres do passado.

De volta a si, sinceramente...
Não fiz nada de errado,
Dei de volta a ti o retrato,
Que pendurado na parede,
Deixava-me perfeitamente amargurado.

Você viu?
Meu corpo em vão, vil,
Antes são, a mil.
Agora fingindo ter...
Sangue frio.

Vidal

[...]

o céu tava com nuvens que a gente viu naquele céu daquela outra tarde.

é sem ânsia (corpórea)
de poeira de ponteiro
uma plenitude de três palavras e ponto final
aquela espera pela
noite.

vem você e adentra barreiras com que permissão se me subjugaste
como se...
pecado por ser desejo de olhar o que deus pôs atrás das íris:
olha que é mistério, e é por isso mesmo
por ele mesmo
que a gente acorda e anda
muitas vezes fingindo ser mortal.

Carol Vitall

Gole

Fico B Ê B A D A
EM-TOR-PE-CI-DA!
Que inebriação desconfortante!
Bebo versos desta vida
E a poesia me morde.

Cris Souza

Certeza estranha

Na primeira dentada é rasgada
A estranha certeza
Como se pratos sobre a mesa
Fossem sempre porcelanas
Como se tudo que fere
Fosse o aço do punhal
Como se toda a terra fosse plana
Todo verde fosse cana
Todo parecido, igual

Mas, a estranha certeza
Que bocas abertas derramam
De nítidas, transparentes
Mostram tão somente
Um lado do olho.

José Torres

LIBERDADE

Huuu...huuu...huuu
Tem dias que ÀS VEZES

Faço do ÀS VEZES um eterno

ÀS VEZES cada minutinho

Daquele ÀS VEZES ilusório

Revela-me que todas ÀS VEZES
EU QUERIA TODO DIA!!

Marcelly Vidal

Ócio é a idade dos poetas mortos

Gostar de futebol e ser marido
Inspira mais cuidados que um poema
Barroco, porque se quer pena
Com que se compense o proibido

Embriagar-se à noite, sob estrelas
Faz-se mister, porque romantikitsch
E, à sobra inevitável do fator humano
Celebraremos o que não existe.

De sorte que ilusão e morte
Sob a égide da vida coexistem
E, fosse eu o mago do universo,

Faria apenas uns poemas tristes
Com o dom de reviver o mar vivido
Coma a alegria de quem sobrevive.

Marcelo Arruda

O sussurro do vento...

Buscas relativamente simples buscamos
Tentando decifrar o enigma da vida
Mas, não é tão fácil descobri-la
E fechando os olhos escutamos
O sussurro do vento...

Coisas que nunca tínhamos escutado
Pelo fato de não termos nunca parado
Um pouco do que estávamos fazendo
Para fechar os olhos e escutarmos
O sussurro do vento...

Pare um pouco e escute
A voz que vem de longe
É um pouco distante
Mas, ela está lá
O sussurro do vento...

Lembranças distantes te invadem
De um passado desconhecido
Não se sabe ao certo da onde vem
Sabe-se apenas que tem algo a ver com
O sussurro do vento...

Mas, da onde será que vem essa voz?
Ontem, quando eu fechei meus olhos novamente percebi
A voz é doce e triste, monólogo do meu ser
Que parece uma cena onde a trilha sonora é
O sussurro do vento!!!

Mayra Le Fay

Feliz natal

25 de dezembro e alguém te mata dizendo: - hou, hou, hou feliz natal.
Um infanticida comemora o nascimento do menino cristo, talvez deseje o lugar de Gaspar,Melquior ou Baltazar para quem sabe se no lugar de ouro, mirra e incenso, presenteá-lo iria com uma forca, facada ou uma mamadeira de veneno.
Feliz natal, é tempo de renovação.
Feliz natal, um tiro no pé, banho frio e sete anos de prisão.
Feliz natal, mais um morre colocando luzinhas envolta do menino no presépio.
Feliz natal diz o peru da Sadia empalado.
Feliz natal quem te deseja é Barrabás atrás da árvore piscante com uma escopeta de espoleta pra simular guerrilha no carnaval.
Feliz natal, feliz natal Papai Noel morreu quando foi comprar crack no baldo do rio.
- eles sabiam que não iriam ganhar presentes.

Philippe Wollney

Alaqa

Ele não me levou
Não foi fácil não me entregar
Parecia um carrapato
Não conseguia me desgrudar.

Tudo parecia não dar certo
E ele continuou
Grudando e desgrudando
Não conseguia me soltar.

Às vezes parece loucura falar
Mas não falo de um amor
Falo dele no qual tememos tanto
E sobrevive para contar.

Em momentos de solidão
Vejo tudo aquilo passar em minha mente
E ao tocar em mim
Lembro-me!
Eu estou viva.

Tão viva
Mas não porque eu escapei
E sim porque superei
Algo que jamais poderia
Deixar-me aqui.

Então?
Vivo!
Diferente de ontem
Agora eu sinto
A pureza de ser feliz.

Pollyanna Gomes

Eu

Caio num lugar estranho.
Vôo na velocidade da luz em todas as direções.
Sinto o vento impulsionar meu espírito
nas nuvens que se desfazem com lembranças.

Permaneço mergulhado em sonhos.
Saio duma atmosfera.
Entro noutra.
Nada é o que parece.
Tudo se transforma no fogo
que queima minhas entranhas
e me deixa sem saber quem realmente sou.

Meus átomos formam novas substâncias,
as quais surgem para concretizar um ciclo
que descreve a maior das órbitas.
Vislumbro a eternidade.
Não sou mais a gota do oceano.
Compreendo o todo.
A solidão se esvai
e na unidade encontro total sentido.

Sandro Gonzaga

Nosso Eterno Amor

Não há amor maior que o nosso amor, sobrevivente do tempo, de chuvas, de tempestades.
Não há amor mais corajoso e nem mais covarde.
Este que é capaz de tudo, e que quase nada faz.
Este que por nada abriremos mão de sentir, mas por ele de nada abdicamos.
Não há amor maior que o nosso amor.
Este que habita em canções, em lembranças e reminiscências.
Que traz nos registros do tempo a força do que ele é, a capacidade de eternizar-se por si só.
Este que mesmo não sendo vivido, com pouco já se mantém forte.
Este que sabemos que existirá em nós até a hora da morte.
Não há amor maior que o nosso amor.
Este que não cabe numa infinita frase, ou na breve emoção de um poema.
Este que não se reproduz, que não se vive em qualquer ficção ou qualquer tema.
Não há amor maior que o nosso.
Este que já nasceu querendo morrer.
Este que já nasceu para a eternidade.
Não importa se não podemos zerar nossas vidas, desde que façamos amor sempre pela primeira vez.
Pois não há amor como o nosso, que fazendo-se de morto vive o luto da própria viuvez.

(Suely S Araújo)

Neve na cidade

Está nevando na cidade
Uma neve tão fina, que despenca dançando ao som dos ventos.
Esta neve tão linda, tão negra
É fruto que sai da terra, ainda verde.
É o doce flutuar da vida que arde
Pelo rubro estalar do horizonte em combustão.
Esta neve que pertence aos trópicos
É sangue negro a pleno vôo
Buscando nas mãos da criança
O recanto fértil da eternidade.
São malungos e malunguinhos
Num só viajante alado
Iluminados por sóis
Que dão força e luz bastante
Para tornar invisível esta tão fina neve
que cai do céu da cidade.

Thiago Albert

Onde estou

O meu despertar não tem compreensão,
Não tem café da manhã,
Não tem abraço
Ou desejos de bom dia.
Não tem direitos autorais,
Não tem família, tia, prima, pai ou irmão.
No meu despertar,
Eu sou um planeta gigantesco,
Sozinho, desabitado.
Sou uma resposta sem pergunta,
Uma pergunta sem razão.
Sou horas pós-horas,
Sou meu próprio tempo.
Em meu despertar,
Eu sinto que vou morrer sem ter nascido.
Sou constelação de estrelas,
Nesse oceano de exclusão.

Wendell Nascimento

01 dezembro 2008

Protesto na Praça do "Artesão"

No dia 15 de novembro, integrantes do movimento cultural "Silêncio Interrompido" realizaram um protesto contra o abandono e a depredação da Praça do Artesão, localizada na rua Padre Batalha, centro de Goiana.

Sujos de barro, os manifestantes declamaram poesias e denunciaram com bom humor a grave situação do local que já foi um símbolo da cutura da Zona da Mata, anunciando com o auxílio de um carro de som a existência de 8 vagas para esculturas na praça, cujo o nome já não faz justiça ao que ela se tornou.

No final do protesto os manifestantes se dirigiram até a rua Direita, na frente do Casarão da Cultura, onde funciona a Secretaria de Turismo, Desenvolvimento Econômico, Cultura e Esportes. No local foi criticado o fato da praça não contar mais com a vigilância da Guarda Municipal.

VEJA NO YOUTUBE
http://www.youtube.com/watch?v=hV4xJy26ue8

fonte: http://anoticiaporfelipedeandrade.blogspot.com/

Poética de Parede

NOVEMBRO 2008

SETEMBRO 2008

JULHO 2008

MAIO 2008

ABRIL 2008

MARÇO 2008

FEVEREIRO 2008

JANEIRO 2008

DEZEMBRO 2007

DEZEMBRO 2007



Poética de Parede é uma produção do grupo Silêncio Interrompido que visa divulgar e provocar os pedestres das ruas de Goiana, o material consiste em um cartaz de 100X80 cm de diâmetro que colamos em algumas paredes com algumas poesias de participantes do movimento. desde dezembro de 2007, com um anos de colagem, o material mantém a sua proposta: "quem precisa de ordem pra escrever?"

A fotografia

Eu ficaria muito feliz se conseguisse reduzir o que sinto numa fotografia. Ali ainda não seria o caso, talvez chegasse perto. Mais pra esquerda, mãe! Junta esse aí que eu não sei o nome! Calma! Não empurra!
Faria um dia daqueles, a explosão de fotossensibilidade se agrupando numa harmonia de arrancar suspiro, pouco sol, o suficiente para o brilho natural de uma captação bem feita. A grama sorriria, as flores nem se incomodariam com o câncer de pele carregado no canteiro dos hospitais. Até as rachaduras das paredes ao longe parecendo dizer xis. Sorririam mais que felizes. Diga xis! Não! Não! Calma! Mais pra cá! Você tá cobrindo a Marta, cara! Vai pra trás porque você é mais alto.
Ele se importaria? Estaria apenas centrado numa boa foto, com a turma toda reunida, não repararia em algumas pessoas insignificantes. Droga! Mesmo assim acharia bom, seria um deleite, as coisas caminhariam para um final feliz. Pára de se mexer! Desculpa! E a música lá no fundo, é linda, né? E cantaria com aquele inglês horrível da minha escola. Todo mundo me mandaria parar, se irritariam por não entender minha felicidade. Ele olharia para os lados, desconversaria, afinal, não seria de sua conta, não é verdade? Um fotógrafo com boa fama pela cidade. Ele consegue fotografar até sua alma, as dondocas da alta falando quando de cara com o resultado. Um dia eu conseguiria... Seus resultados, incríveis. Estou emocionada com essa foto! Quando você vem tirar mais? Escuta, eu tenho uma filha linda, ela quer ver se tem jeito pra modelo, tá até de regime, você não quer fotografá-la? Ele repararia nessas, mas não na sua foto mais importante. Eu o faria, com certeza.
Eu teria a chance do perdão, nunca mais reclamaria, ele me amaria outra vez. A praça, os gritos... Por que será que as pessoas não conseguem enxergar coisas assim? Eu quero a família, a paz, o amor, a ordem e o progresso – meus ditos comuns àquela época. O vento da tarde ampliaria a beleza da fotografia, meus cabelos voariam brilhantes, atiraria meu lenço que me sufocava o pescoço às alturas. Diga xis! E os arredores diriam. As estátuas da praça, os muros caindo, as grades esfaceladas de tanto sacudir se envergariam em forma de um largo sorriso. Vocês tão se mexendo demais! Assim a foto vai ficar ruim! Aproveita a posição do sol, a luz tá perfeita! Os policiais passando se esconderiam, as cáries se ergueriam para ficar bem na foto, eu nem se fala... A praça os gritos, a turma, ele lá...
Seria bom se prender totalmente nessa foto... Pra que meus erros se guardassem lá, para que não me massacrassem tanto... Quem mandou dizer o que não devia? Isso não é papel de uma mãe, ainda mais naquelas circunstâncias. Sai da direita, mãe! Assim você não vai sair na foto! Olha, lá vai, hein? Prontos? Lá vai!
- Xiiiiiiiiiiiiiiiiisss!!!
Flash!
Seria tudo uma maravilha, mas isso é só uma hipótese. Se eu soubesse ao menos onde você foi parar esses anos todos...


[Wander Shirukaya]

Endereço

Rua: sete cores
Número – 7
Próximo ao sonho.

Por favor não me
Desperte.

Quero vivê-lo
A cada vão momento.

Porque aqui estou
No universo diferente.

Não quero mais
Acordar.

Por que achei
O endereço
De me harmonizar.

Ademauro Coutinho.

Resto do meu dia

Alimente-se dos segundos que sobram de meu dia,
Abra as portas da gaiola,
Permita que tua parasita haja sobre min,
Degrada-me
Que me agrada te ver sorrir,
Suga o desnecessário que é bom pensar que é feliz,
Pisca não,
Lambe até os ossos,
Pois o que é nosso,
...é em segundos!

Vidal

eu carniceiro de mim

está instituída a política do sadismo!
sem propósito?
SEM PROPÓSITO?
minha raiva não tem propósito
mas meu sadismo
meu sadismo é para devorar
a mim mesmo
meu sadismo procura
o mesmo gosto
que você teve em me comer e não bastar mais e escurecer e me jogar fora
- você pensa que uma dor é pra substituir a outra?

ABERTAS VAGAS PARA MENOS CRETINOS
[ do que quem? ]

- exploda essa razão do engodo -

ah! essa vale a pena ser recitada!
essa vale a pena ser recitada.

auto-existente é quem se alimenta da dor que come a gente
você quer a paz do domingo
eu quero a paz do último salto a 1 km de altura

revirei-me geórgia. toquei fogo na roupa. você colocou os óculos escuros.

eu não quero mais.
eu não quero mais.
eu não quero mais.

eu acho tudo isso muito engraçado:
aprender a ser carniceiro de mim mesmo
mas não me saboto não me nego não me prendo

e sim! ainda vou continuar a gritar
falar em alto volume mesmo que a senhora dona moça se incomode pelos
meus maus hábitos e que a senhora dona moça se afogue a noite toda na cachaça não queira foda e acorde com o esgoto na boca.
agora você vai me ouvir.

esperemos! sim! oh! esperemos um pouco mais para darmos um abraço.

revelo meu lado sombrio sem medo – quem morre tantas vezes ao dia não
tem mais medo de velha faca de menino de interior.

ei, moço moderninho!
jovens
jovens
as pessoas se abraçam.
[ na verdade eu queria ter dito “amigos”
mas doeu demais ]

quando eu tocar fogo na roupa?
olhos nos olhos?
o amor comeu?

esta instituída a política do sadismo!

carol vitall

Visão raio laser

Tenho dois olhos latejos
E muito potentes
Olhos do tipo multiuso cortante;
Mais amolados que as facas Ginsu!
Visão de longa distância
Com espadas medievais de reserva
Para furar os olhos teus
Quando desviam dos meus.
Tenho dois olhos taciturnos
Porém frios como as espadas
Que se recusam a derramar lágrimas
Diante dos atropelos.

Cristina Souza

Apenas mais um trago

Escuro e cansado, eles se escondem por trás de um discreto esforço, sempre a implorar
por um pouco mais de ar.
Apenas mais um trago, mais uma esquina por onde passo, e o coração acelerado pulsa
toda ansiedade desses dias a esperar. Então sinto os teus braços, um beijo de boa noite,
Como você está? Bem... Quase sempre muito bem, ao perceber que teu olhar percorre todo
meu corpo como quem algo quer, mas prefere disfarçar.
Então você me fere, demonstrando não se importar com este sorriso que te consola nas
noites frias, quando por instantes tristes, pensamentos vêm te perturbar.
Então você me fere, ofuscando a luz desse sorriso que tanto diz admirar.
Apenas mais um trago, no momento é o que desejam estes lábios.
Sérios lábios, fiéis confidentes do filtro que se faz presente, nessas horas
que o tempo parece estagnar.
Mais um trago, apenas mais um trago, no momento é o que me encontro a desejar...

Emanuelle Alves

Meu louco pai

O que seria de meu pai
Se retirassem a policial dos jornais?
O que seria de meu pai
Se não ocorressem os crimes habituais?
O que seria de meu louco pai
Se não houvessem mortes nas avenidas principais?
O que seria de meu pobre pai
Se não desabassem elevados nas grandes capitais?
O que seria, o que seria de meu pai
Se não passassem filmes de terror nos cinemas locais?
O que seria de meu pai
Sem seus inseparáveis gibis da FBI?
O que seria de meu louco pai
Sem seus ternos e reuniões formais?
O que seria de meu pai
Se tudo fosse amor?

José Torres

[ ... ]

Ultimamente
Grito meu silêncio
De uma forma tão audível
Que atormenta
Os surdos
Que me rodeiam.

Marcelly Vidal

Da inspiração

Da vida, este mar à noite
E a certeza do sol

Do amor, as estações constantes
Como as voltas de um farol

Da poesia, o frenesi, o choque
Sucedido da palavra urgente

De ti, um monte, um perfume
Um feito que te faz diferente.

Marcelo Arruda

Secreta Declaração

Quantas vezes fico à porta de minha cela
A contemplar seus movimentos através da vidraça
O seu quarto iluminado com ternura e graça
Extasiado fico ao olhar seu perfil à luz da vela

Assim me deixo estar até a luz se extinguir
São os momentos mais felizes de minha vida
Nesses instantes que a alma embevecida
fica, de um amor que nunca poderei possuir

Então, desejo que você não apague a luz
Pois se sua imagem ficasse sempre a refletir
Pelo menos continuaria a aludir

Esses momentos preciosos que conduzem
A minha febril imaginação a conceber
A hipótese de mais que a tua sombra ver

Mayra Le Fay

A CIDADE

É nesta cidade que sufoca
Que esgana quem tenta
Que pisa na cabeça
Dos que ousam alteridade
Que eu saio.
Na noite há pedra e chama.
Nas casas há barro e fome
Nos olhos, rasos, o medo.
O desespero alérgico
Que aleija da porta para fora.
Que angustía da porta para dentro.
Na noite existem torres e holofotes,
Bares e falta de propósito
Bares e algo outra vez
Bares, a noite desaba sobre o balcão
Bares, represa de fé profana.
A noite nesta cidade
Nos priva de nós mesmos.
Rouba o que se esquecera.
Passa a mão e chama de bicha
Entre os dedos enrola o maconheiro
E na boca voz de puta.
É nesta cidade, nesta cidade
Onde a alvorada nunca se faz dia,
Que o rio alimenta de lama.
Em torno, mar de cana
Que amarga nossa boca.

Philippe Wollney

Canções guardadas

Cordas para quê?
Se posso ter as teclas
Oito já se foram
Estão guardadas
Um dia talvez
Serão descobertas
Ou quem sabe até
Reescritas.

Não adianta,
Mostrar ao público,
Para eles pode não significar muito,
Para mim,
É a minha vida
Escrita em composições
Tristes,
Românticas
E melancólicas,
Algumas inacabadas
E perdidas
Mas que no final
Dão origem a canções
Desconhecidas.

Pollyanna Gomes

Alma que voa.

Vastas ondas avulso vibram...
desvairando vasos de vozes vazias.

Vestígios de versos a devanear,
voando num balanço de verão.

Através de voltas mais longas,
como vulto que passa variando,
para viver da vontade de ser livre.

Sandro Gonzaga

Presente

No que vivo existe eternidade.
Em minhas lágrimas existe o peso de todos os tormentos, a força de todo o meu amor, os gritos de todas as minhas dores.
Oh intensidade que me toma, alivia-me um pouco de ti!
Felicidade superficial dos lábios meus, vai-te enquanto estou só, porque agora estou apenas comigo.
Perigo dos pensamentos meus a mortalha suicida de minha dramática alma calada e séria.
O quanto eu sou fraca e forte ninguém jamais há de ver.
O quanto eu morro e vivo, ninguém jamais há de saber.
Todas as cores que pintam a existência, não são capazes de me dar qualquer tom.
Sinto culpa pelo que me causa saudades.
E saudades por minha própria culpa.
Em minha brancura desfalecente copio a hepática esperança de saciar-me em amor enquanto houver tempo.
O meu amor...
Eu tenho mãos para tocar-lhe, mas não o acho aqui.
Eu não vejo você.
Os anos têm passado diante de mim velozmente.
Se eu morrer antes, o grande amor da minha vida tem seu nome.
Por enquanto, tenho o espelho para olhar, para pensar, lembrar, chorar, chorar por estar chorando, chorar pelo que já chorei.
Sinto saudades suas...
Você cabe bem no meu abraço.
Mas estou envelhecendo longe do seu calor.

Suely S Araújo

Pluvial

Vento frio;
No telhado, o grito de quem anuncia o Grande Temporal!
Aproxima-se rápida, porém como um dilúvio...
Lava a terra, as chagas da senhora que não se cansa de reclamar da existência...
Lava a mente, abismo para aqueles que não percebem o perene clamor pluvial!
Abre na terra as curvas de vida e os sorrisos de quem não têm nada para sorrir; mas sorriem!
Pois é o cântico das nuvens carregadas lá do alto...
Alto céu, antes de brilho descontínuo
Agora vermelho, cinza e negro...

Porém a noite sairá depressa
E o que virá será imperfeito demais para ser descrito;
Pois sinto aquela que ainda teima em se adornar
Para a grande dança da existência!

Thiago Albert

Marcas do tempo

O que são as dores?
Os dias retorcem os anos,
Os velhos já não existem mais.
O que é o delírio, se nunca estive são.
Sangue, olhos, beijos e marcas do tempo do nada.
A vida inteira é uma zona?
Eu não estou bem, mas nunca foi tão bom estar assim.
O que são as dores?
Se elas só me servem pra sorrir
Tenho lembranças frias, loucas e minhas.
O que elas são?
A morte justa, ou não, é uma zona.
Eu não estou mal, mas nunca foi tão ruim sonhar tão pouco assim.
Por que tenho de sentir tudo assim?
O que são as dores?
Se elas só me fazem chorar.
Perdi lembranças quentes, curtas e banais.
O que foi que achei?
O mundo cruel, materno, ou não, é uma zona.
O que é mesmo que sinto?
Os novos não vão durar para sempre.

Wendell Nascimento

RECITAL 15 DE NOVEMBRO



15 de NOVEMBRO

Recital na Praça dos Artesões, protesto contra a depredação do patrimônio artístico e histórico da cidade de GOIANA. Na praça haviam oito estátuas de barro com aproximadamente 1,60 m feitas por oito artesões da cidade do qual dois já faleceram.

- São Pedro – Tog.
- Vendedor de Abacaxi – Lázaro.
- Maracatu – Gecino.
- Pescador – Mussum.
- Tirador de coco – Edilson Nunes.
- Maria Camarão – Nino.
- Escravo – Irene (falecida)
- Catador de Caranguejo – George (falecido).

15:00h da tarde de Sábado, munidos de um carro de som um grupo solta seu refrão:
ATENÇÃO, ATENÇÃO
VAGAS ABERTAS PARA ESTÁTUAS
NA PRAÇA DO ARTESÃO

Os poetas Ademauro Coutinho, Adinho Vidal, Philippe Wollney, Thiago Albert, Wendell Nascimento e o anarquista Marcos Aurélio, lançaram seus versos e reversos para todos presentes. Logos após, partiram de andada para a secretaria de cultura, finalizando o protesto e chamando todos que estejam inconformados com a consciência quebradiça dos habitantes de uma Goiana que finge não ver e escutar os sintomas degenerativos de uma rápida urbanização.

assim se faz uma tarde lamacenta em meados de novembro

RECITAL 15 DE NOVEMBRO












A DEGRADAÇÃO DA PRAÇA DOS ARTESÕES, PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA CIDADE DE GOIANA E, A FALTA DE ATENCÃO COM TAL FATO É UMA REAL DEMONSTRAÇÃO DO DESCASO , TANTO DOS ORGÃOS RESPONSÁVEIS QUANTO DE UMA POPULAÇÃO NÃO CONSCIENTIZADA DA IMPORTÂNCIA ARTÍSTICA DO PATRIMÔNIO . NÃO VEJO APENAS COMO UMA FALTA DE INPORTÂNCIA E RESPEITO DA PRAÇA MAS TAMBÉM COMO UMA MAL APLICAÇÃO DO NOSSO GOVERNO GOIANENSE .

Marco Aurélio

Painel 14 de Novembro






Painel elaborado na tarde de 14 de Novembro. Uma criação quimerística de grafite com colagem do artista plástico intitulado Odrac e representantes do grupo Silêncio Interrompido. O painel se encontra na Rua DIreita ao lado da Câmara dos Vereadores.

ATENÇÂO:
VAGAS ABERTAS PARA ESTÁTUAS
NA PRAÇA DO ARTESÃO.

Protesto contra a depredação do patrimônio artístico-histórico da Praça dos Artesões e o abandono do poder público sobre tal patrimônio de extrema relevância para a cidade.

07 novembro 2008

22 de NOVEMBRO / GOIANA - dia do músico




22 de NOVEMBRO comemorando o dia do MÚSICO na PRAÇA 13 de MAIO em GOIANA, o pólo SILÊNCIO INTERROMPIDO terá as BANDAS:
PRISMA ORBE
PROCESSED
FLORES MORTAS
INFÚRIA

O DIA DO MÚSICO EM GOIANA é um projeto do cantor e compositor ÍTALO PAY, está em sua 3° realização trazendo 24h de MÚSICA em pólos espalhados na cidade, vale apenas parar e ouvir.

O que: DIA DO MÚSICO
Quando: 22 de NOVEMBRO (sábado), 19:00h
Onde: Praça 13 de Maio / GOIANA – PE
Vou para que??? - Assistir as bandas PRISMA ORBE / PROCESSED / FLORES MORTAS / INFÚRIA (QUE PERGUNTA MAIS IDIOTA)

04 novembro 2008

Apresentação Arthur Moreira Lima



Considerado uma das mais importantes personalidades da nossa cultura, Arthur Moreira Lima o mais popular, versátil e completo dos intérpretes clássicos brasileiros, se apresentará em Goiana com seu caminhão palco no dia 18 de Novembro (terça-feira).
Num feito inédito na música clássica no Brasil, o pianista Arthur Moreira Lima criou seu caminhão teatro como forma de levar a grande música de concerto aos mais diversos públicos.

No ano de 2008, pretendemos cumprir o roteiro "Brasil Sertões", formado por 60 concertos nos estados da Bahia, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Temos muitos pedidos de cidades para serem incluídas no roteiro, o que será feito, levando-se em conta sua importância histórica, geográfica, econômica ou política. Atendendo, sobretudo, às mais carentes. Lavar música clássica ao alcance de todos. Esse é o ideal do projeto Um Piano pela Estrada, que leva Arthur Moreira Lima e seu Caminhão Teatro para todo e qualquer lugar do país.

http://www.arthurmoreiralima.com.br

03 novembro 2008

1° Concurso Fotográfico de Goiana



Participe já do concurso que vai revelar novos talentos em Goiana e ganhe prêmios.

Para participar acesse o site do concurso www.fotogoiana.com.br/concurso leia as regras, escolha sua categoria e inscreva sua foto.
Inscrições de 01 de Outubro à 20 de novembro de 2008.

Local de Inscrição:
Xérox Líder Color
Rua Cordeiro de farias, nº 13, S-04, Centro, Goiana-PE,
CEP: 55900-000, Ao Lado da Caixa Econômica Federal

1º Concurso Fotográfico de Goiana
http://www.fotogoiana.com.br/e_mails/20081002_concurso.htm

site: www.fotogoiana.com.br
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Em sua primeira edição, o 1º Concurso Fotográfico de Goiana é a estréia de um projeto ousado, pronto para se consolidar como uma referência regional em premiação e figurar no calendário dos próximos anos entre os principais eventos do cenário fotográfico.
O tema desta edição de estréia é “ Visões de Goiana” e vai premiar os trabalhos que apresentarem a somatória de técnica, contextualização,Criatividade e plástica.

O 1º Concurso Fotográfico de Goiana é promovido pela G-4 Grupo de Empresas, com o apoio do Jornal A Província e da Radio Maravilha FM 88,9. e tem caráter exclusivamente cultural e social, sem qualquer modalidade de sorteio ou pagamento, nem vínculo à aquisição ou uso de qualquer bem, direito ou serviço. O Concurso será realizado na Cidade de Goiana, de 01 de Setembro de 2008 a 20 de Novembro de 2008.

O Concurso é aberto para fotógrafos amadores, brasileiros ou estrangeiros radicados no Brasil, sem limite de idade. Menores de 18 anos poderão participar mediante autorização expressa por escrito e representados pelos pais ou responsável legal.
O tema da 1ª edição do Concurso é “VISÕES DE GOIANA” e obrigatório para todas as Categorias. Só serão aceitas fotografias realizadas em Goiana e nos Distritos da Cidade.

O Concurso será dividido em 2 categorias para exploração do tema: Fotojornalismo, Fotografia Livre com Manipulação Digital. A participação em qualquer uma das Categorias é aberta e livre para qualquer participante, independente da sua profissão.

01 novembro 2008

Mereço

Fim
É o fim que espero
Não pelo cansaço ou pelo medo
Mas pelo começo.
Fim
É o fim que me leva
Toda vez que não posso partir
Ou até mesmo chegar.
Fim
Fim de tarde
Fim do jogo
Fim é o que quero.
Não tomo café
Mas pelo café começo pelo fim
Fim da guerra,
Da pálida paz invisível
Fim da comodidade
da falsidade
de promiscuidade
quero o fim das verdades
pelo começo.
Fim é só o que mereço.

Wendell Nascimento

[...]

Não tenho nos olhos as lágrimas detentoras de todo sentimento do mundo.
Não tenho nas mãos as palavras que trarão conforto a povos.
Não tenho a voz que toca, o som que alimenta a palavra mais certa.
Não, não possuo nada!
Não tenho alegrias, nem medo, apenas vazio.
Tenho sim, palavras secas que ficam perdidas no meio desse deserto.
Tenho apenas a solidão, perdida no meio de outro tantos,
Tenho apenas esse instante, que não passa de menos de um segundo
Na engrenagem do tempo, esse grande moinho que avassala,
Ao mesmo tempo tudo,
Ao mesmo tempo nada!

Thiago Albert

Insensível

Olhe para as suas unhas...
Sua delicadeza automática é ofensiva.
Você parece ser tão frio quanto o seu silêncio.
Sua busca por superficialidades nutre seu próprio vazio.
Seu vazio deriva do aborto dos seus sentimentos instantâneos.
Seus olhos são foscos.
Impossível você ter amor.
Olhe para as suas unhas...
É inútil. Nelas não há resquícios do meu cadáver.

Suely S Araújo

Sítio de Santa Luzia.

Ao meu redor é só mato.
É só verde.
É o som de pássaros, grilos, sapos, cigarras...
Ando pela terra...
Sigo tranqüilo
observando as transformações do sítio de Santa Luzia.
Onde, quando menino, brincava, passeava...
Vou sem medo.
Sou neto de Seu Mandu.
Homem da enxada e da semente.
Cabra-macho.
Honesto e valente de mãos e alma calejadas.
Negro que andava com uma faca
e tinha uma espingarda debaixo da cama.

Tem de tudo no sítio:
banana, abacate, manga, jaca...
Margarida, jasmim, angélica, sorriso...
Boi, cavalo, galinha, calango...
Muitos frutos, muitas flores, muitos animais.
As crianças correm de medo a me ver passar.
Aceno com a mão, mas não respondem.
Elas me olham até que eu suma da vista delas.
A insistência do canavial distorce a boniteza do sítio.
Os coqueiros predominam.
Casas pequenas e simples.
Cumprimento o senhor que corta mato com a estrovenga.
Ele responde com alegria.
Sento no banco de coqueiros.
Onde antes sentei com minha estrela para depois...
Ah! Perfeitas lembranças.
Olho para dentro de uma casa,
vejo um senhor desconfiado,
estendo a mão e ele vem ao meu encontro.
Falo que sou neto de Seu Mandu
e conheço Seu Benedito Bezerra,
meu primo de quarto grau.

Há muitos anos, Seu Geraldo,
com um saco cheio de amendoins crus, cozidos e torrados,
percorre o sítio atravessando terras e gerações com uma bicicleta.
Diariamente se escuta sua voz:
“olha o amendoim, faz crescer e namorar.
Moça bonita arruma namorado.
Faz donzelo casar na hora.”
Mas a urbanidade veio
trazendo o conforto-destrutivo,
e num carro bateu nas pernas do vendedor.
Hoje, ele vende amendoim caminhando com dificuldade.

A capela construída com o sangue dos meus antepassados.
O sorriso daquela senhora me comove.
O vestígio que sobrou do pau-brasil.
Alguns olham a rua para ver quem passa.
Os matutos conversam sobre celulares.
A ciranda toca.
A cachaça alegra e entristece.
A poeira se levanta.
Caem tanajuras.
A roça consola.
Pipa, peão, bola de gude, futebol...
O açude jardim lustral,
fonte de água mineral.
Lata d’água na cabeça.
Fogo à lenha.
Luz de candeeiro.
Muito verde.
Cheiro verde.
Verde claro.
Verde escuro.
Verde-vagalume.
Oh! Santa Luzia, se fores mesmo dona deste paraíso,
fazei com que o sítio não sofra ainda mais.
Porque senão o sítio não agüentará tanta maldade.
E, em breve, deixará de ser sítio para ser cidade.

Sandro Gonzaga

Labirinto

Isso é um labirinto
Se olhar a frente vê-se paredes
Inacabadas.
Seguimentos distorcidos
Caminhos sem rumos
É o mesmo que está
A beira de uma estrada
Sem destino
Sem nada.

Pollyanna Gomes

Palavras agras

O que me resta é esta sensação de mal estar que invade as entranhas. É implorar por uma garrafa de bebida. Tudo que me resta é colocar um sorriso na cara e aceitar o palhaço sem graça que me tornei. É usar palavras e tentar transcender no papel. Palavras amargas, azedas, vivas como células sangüíneas misturadas em catarro. O que me resta é a sobra de algo que já experimentei.

Agora, exatamente agora com estas palavras deixo-me nu, fico envergonhado. Mas, acima de tudo estas palavras me deixam sozinho...

Philippe Wollney

Manhã de abril

Agora estou aqui
Sem querer estar
Mas o absurdo não é
Algo a ser explicado.

A coragem geralmente se esvai
E só a dúvida fica
Talvez eu não consiga novamente
Olhá-los nos olhos.

Não preciso que me diga mentiras,
Nem cuspa no meu rosto verdades,
Prefiro apenas o silêncio
Desta primeira manhã de abril.

Mayra Le Fay

A nós num carnaval

Derrubam os grandes muros
Constroem outros menores
Uniformenazificação
Vamos seguir o exemplo alemão

Nada é novo na história
Só cada carnaval de nossas vidas

E haja fantasia
Pra nos socorrer!

Há homens que derrubam os muros inteiros
Esse são os que mais sabem viver.

Marcelo Arruda

Noite Fria

No meu mundo
Sofro só
Não quero nada de profundo
Não quero que me tenham dó

Sozinha não estou
E não consigo fugir
Desta dor que me acalentou
Na noite em que não me vi sorrir

Por não querer tristeza
Causei a fútil distância
Da razão com a certeza
Do agir com a ânsia

Mas o primorde de outrem
Trouxe um olhar expectante
Fazendo do eu um alguém
Revelando um sol mais inebriante

Marcelly Vidal

Revolução

Muitos tombaram
Sentiram o sabor do sangue

Muitos outros calaram
E sentiram-se sós.

José Torres

Pode me castigar.

Acabei por cometer um pecado
O culpado não fui eu, foi o meu desejo.

E se o desejo for inocentado?
E eu o apenado por ter alimentado o meu desejo?

Assumo o crime.

Pequei, não posso mentir.
Mas Deus há de me perdoar

O maior pecado de todos já foi consumado
E Deus concedeu o perdão

Eu sou apenas mais um pecador
A minha pena certamente será mansa.
Afinal Deus já concedeu o perdão para o mesmo crime.

Simplesmente desejei algo que esteve ao meu alcance
Não posso ser condenado por um simples desejo.

Contudo, se desejar é pecado.
Pode me castigar Senhor!

Deixa-me sentir todas as fases de meu desejo.
Mas deixe-me consumar meu pecado
Deixa-me sentir o prazer do proibido.

E eu sou inocente
Até que se prove o contrário.

Pecado não é crime,
Afinal existe o perdão.

E a culpa não é minha, Senhor.
A culpa na verdade é de quem me deu esperanças.

Eu sou inocente.
Mas se ainda assim, eu for condenado...

Deixa-me sentir todas as fases de meu desejo.
Mas deixe-me consumar meu pecado
Deixa-me sentir o prazer do proibido.

Hugo Farias

''Verdade em partes-1''

O tempo passa...
Apenas o que é real perdura, capaz de fazer pulsar o coração
como também, de calar os pensamentos e confundir as tais
palavras.
A realidade abre as portas do entendimento, faz desabrochar
as rosas que perfumam delicadamente os caminhos a seguir...
Temos que parar de negar, parar de fingir, olhares cegos que
escondem a dor de um sorriso forçado. Sofrimentos por vezes
voluntários, trancafiados, pelo medo de encarar a verdade com as
nossas próprias armas...
Estamos sempre a procura de alguém, algum lugar,onde possamos
por hora descarregar todo peso da nossa insegurança.
A Verdade meu caro, ela não segue a correnteza,
ela é a força d'água,vive em cachoeiras,buscando a liberdade podemos
até pular. Mas em meio a ela, ao sentir o seu peso, o que faremos
para não nos afogar?...

Emanuelle Alves

''Destino''

Ao cair da noite descalça sempre vou
Saudando os meus, te encontrar...
Salve a força da Lua
Salve a força do Sol
Salve a força dos Rios e das Pedreiras
Salve as cachoeiras
As Matas Virgens, o Congo e a Bahia
Salve os Caboclos, as forças Indianas
Salve as forças de Aruanda, e tudo o que me guia...
Sob o sereno sinto a proteção
Que corre em minhas veias
Que limpa a minha áurea
E ilumina o meu caminho
Por onde descalça sempre vou
Seguindo o meu destino
Ouvindo a tua voz
Que meio rouca anseia encontrar
Os meus ouvidos e sem nenhuma pressa lhes falar
Sobre coisas desconhecidas
Coisas estas que nos ligam
Há tempos, há vidas e vidas...
Com tal poder que reencarna
A espera de uma alma
Por aquela que lhe completa
Ao cair da noite nossos corpos já se unem
Sem roupa e sem medo
Certos de que se entrelaçam por um único desejo
O de amar...

Emanuelle Alves

Despedida

Ao te afastares de mim, minha vida se tornou uma eterna reprise
de momentos, em caminho que ainda tínhamos por percorrer...
Me restou apenas ânsia, querer e não poder esquecer. Sei que breve outras
sensações estarão em cartaz, mas nada a me fazer perder de vista tuas estréias
e sucessos.
Só tu me percebestes por completo, sem ter de me distinguir em meio a todos,
me reconheceste sem ao menos me ler, e me traduziste por meio de emoções,
que nem eu mesma jamais pensara possuir...
Tu és o livro secreto de minhas vidas passadas, diário de nuas páginas e capa
selada, de alegrias, lágrimas, e fantasias, que somente a ti confiei.

Emanuelly Alves

[...]

Tenho poucos amigos.
O suficiente para guardar
entre os dedos, como anéis preciosos
Jóias raras, difíceis de se encontrar.
Poucos
O suficiente para tomar um chá
Ou um suco de uma goiaba só.
Amigos que servem de sol
Para aquecer-me nos dias frios
Como barcos que me ajudam atravessar os rios
E compor a paisagem
Do meu arrebol.

Cristina Souza

retalhos

eu questiono a simetria...
na verdade, trata-se, para mim, de uma substância
mas apenas como coisa incômoda.
e eu, que uso tanto o pronome eu.
egonia.

Carol Vitall

Efeito da caninha

Entra pinga
E gira o espaço
Aonde eu fico
Me embaraço.

Ademauro Coutinho

31 outubro 2008

Eu daria tudo

Eu daria tudo
Para ser aquela
Que irá te ajudar
A percorrer esse caminho
Desgovernado.

Ser aquela
Que irá te orientar
A chegar a esse vazio
No qual você tanto deseja.

Ser aquela
Que irá te fazer rir
Nos momentos mais felizes
Consolar-te nos difíceis.

Ser aquela
Que completa a nós dois
Como almas gêmeas
Inseparáveis.

Ser aquela
Que te olha
E te entende
Apenas com esse olhar.

Ser aquela
Que vai te libertar
Desse tormento
Dessa solidão que parece infinita

Ser aquela
Que briga com você
Quando o que parece certo
Está errado.

Ser aquela
Que entrou na sua vida
Para fazer dela
Uma vida com sentido

Ser aquela
Companheira
Amiga
E mais...

Pollyanna Gomes

10 outubro 2008

A fila

Passa tempo
E horas.
Entre um a cem
Ou até mais de mil.
Estou na fila
Fazer o quê?
É Brasil.

Ademauro Coutinho

Feito a mão

Minha terra tem coretos
Onde poeta vai declamar
Os versos feitos à mão
Para o povo acordar.

Nosso passado é mais digno
Que o presente e seus atores
Que se chamam de políticos.
Eu chamo é de impostores.

Sem vacilar, sozinho, à noite,
Um manifesto vou aprontar
Os versos feitos à mão
Para o povo acordar

Minha terra tem história
De um povo revoltado
Que lutou por liberdade
E para não ser injustiçado
Por português ou flamingo
Ou qualquer endinheirado.

Não permita deus que eu morra
Sem antes declamar
Os versos feitos à mão
Para o povo declamar

Caio Dornelas

PSICANÁLISE DO CONSUMO

ontem fui ao hipermercado
super consumidora
apenas como transferência da dor
para objetos a serem usados
comidos
jogados
num canto do quarto.

Carol Vitall

[...]

Há uma tristeza em mim
tão antiga
Nesse canto do olho que não a vejo mais.
Há uma tristeza em mim
Como uma amiga que veio me visitar.

Cris Souza

Atroz

Quem se atreve a ser trigo
Na trilha do trem?

Quem se atreve a ser trava
No trato da sorte?

Quem se atreve a ser trote
No trole da vida?

Quem se atreve a ser traça
No trono do rei?

Quem se atreve a ser troça
Na trama dos astros?

Quem se atreve a ser troca
No truque do mágico?

Quem se atreve a ser trova
No trivial descaso?

(José Torres / verso avesso – 1987)

ILUSIONISMO CORRIQUEIRO

A arte se repete
Deixando a ilusão
me abranger
Fazer de mim
A vítima constante
Me tornando feliz
Com os atos que não decoro
Com as cenas que esqueço
E que monta
Esta felicidade farsa
Onde me vejo construir
Sob alicerces de papel
Que o vento mais leve
Faz virar a página
Revelando a
Intacta verdade
Que contorno com
A ilusão corriqueira.

Marcelly Vidal

Inventário (V)

ainda posso ouvir estrelas
tenho lutado por isso
e é mais real então vê-la
num céu sem o compromisso
de atender a um só sentido
sem senhor e sem partido.

eu acredito no homem
por não ter crença melhor
só não quero não quero que me tomem
meu quinhão de amor e dor
estar vivendo é a maior
coisa que estou metido.

Marcelo Arruda

Inventário (VI)

Depois do vento dos anos
Esculpindo o coração
A forma final com o brilho
Da emoção

A cor da pele da alma
Cumpre que acompanha o tom
Das estações, faça chuva
Ou tempo bom

Que o som da palavra timbre
Como vindo de alto sino
Tocando pelas mãos leves
De um menino.

Marcelo Arruda

Inventário (VII)

Somos homens. Nunca houve anjos
Santos, deuses, demônios não há.
Há um certo papel que vestimos
Pra não estarmos dispersos no ar.

Nós nascemos pra ter ódio aos pais
E ter filhos pra neles mandar.
Nossos cônjuges, nunca tão íntimos
Quanto as cobertas ao despertar,

Fazem parte do pequeno mundo
Que anda em torno de nós a girar
Os amigos, os mestres, os ídolos

Todos, tudo assim disposto está
Que nos conteste ou que nos confirme
Só a nós conseguimos amar.

Marcelo Arruda

Inventário (VIII)

Quatro anos de Jacó
Servindo à Lia
Que a vida deu-me
E mais não poderia,
Mercê de ser judeu errante
Sem errar ainda.

Quatro anos construindo um edifício/vida
Que, mais que abrigo, é forte
E farol e porto e ponto de partida
E de chegada, início e fim
Da peregrina solidão do artista:
Curtida, admirada
E nunca compreendida.

Quatro anos.
Quantos dias,
Quantas noites com?
Se faz a embarcação de navegar amor?
Se há vento, que navegue,
E mais não sei.
Que amor assim
Há poucos hoje em dia.

Quatro anos.
Pertencendo a
E possuindo:
Um reino,
Uma rainha
E uma princesinha.
Talvez sem abrir mão de um destino
Que enxergo de Quixote
No meu desatino.

Marcelo Arruda

Quotidiano

Nas linhas do tempo
O mundo gira
O momento passa
Os pássaros cantam
As flores murcham
As folhas caem
Os rios se encontram
O vento sussurra
O sol se esconde
Um novo horizonte se ergue
A lua surge
A escuridão predomina
A esperança repousa
O amanhecer nasce
E o mundo gira...

Mayra Le Fey

[...]

[...]

Só os infinitos sonhos me caberiam.
Aonde me encontro
Não faço existir.
O AMOR, efervesceu em minhas lágrimas.
Um punhado de pó
Minhas mágoas
Pele morta do meu aparente.

Philippe Wollney

De mansinho

Você foi chegando bem de mansinho
Parecia não notar
De tempo em tempo
Os olhares se encontraram
Aproximando-se devagar.

Tu és a bela rosa
De um buquê
Vermelho
Ardente
Apaixonante.

És a beleza
O dono
Que sufoca o coração
Que de tantas idas e vindas
Cansado está.

Apertou-me com um abraço
Abraçou-me com um beijo
Segurou-me em seus braços
Matou sua vida
E renasceu aqui
Ao meu lado.

Pollyanna Gomes

Graça.

O teu rosto límpido,
rara estrela substancial,
deixa o rastro seqüencial
numa réstia que repousa
em rústicas formas rubras...

Do teu rosto límpido,
brotam rios que regam
ruas andadas para reabitar
a robustez permitida em risos,
onde a mágoa em névoa ressurge...

Sou teu rosto límpido,
quando cristalizado na rocha
recente da relevância,
relembro lugares guiados pela terra
que germina rapidamente na rasa percepção.

Verei teu rosto límpido
presente em cada passo multilateral.
Por teu rosto límpido
morreria antes mesmo de nascer.
Em teu rosto límpido
farei a minha última morada!

Sandro Gonzaga

O Meu Amor

O amor que eu sinto me mostra sempre uma luz quando tudo vira treva.
O amor que eu não tenho me mostra novas trevas.
O amor que eu sinto me alimenta a esperança, me traz a ternura no olhar, a pureza do crer naquilo que nem sempre tem fundamento.
O amor que eu não tenho me alerta para um futuro desgraçado e pequeno, contábil, desconfiado, inseguro, um futuro sem futuro.
O amor que eu sinto respira, inspira, fecha os olhos, chora, tenta relaxar, está sempre tentando se recuperar.
O amor que eu não tenho me asfixia de dor, me arranca os meus olhos, e me devolve quando está quase tarde pra isso, porque devolve quando não vejo mais o que eu via antes.
O amor que eu sinto, me mostra sempre um nunca é tarde.
O amor que eu não tenho, é o que eu não quero ter.

Suely S Araújo

Adeus

Adeus...
E foi-se como o último raiar do poente,
Deixando trilhas que só o passado insiste em trilhar.
Foi sem fazer alarde;
Arrumou as roupas,
Passou até a última saia por mim dada
E esvaiu-se...
Caminhou por entre estradas e montes,
Até onde a parca vista alcança,
E se fundiu ao horizonte inatingível.
Ficaram apenas as palavras,
Os cheiros e os sons de passos ecoados;
Tudo perdido na embriaguez deste silêncio
que enterra a alma dos móveis sem gestos,
Enterra o sono das noites
E os sonhos que deixei de viver;
Embebidos pela simplicidade
e pela contraditoriedade
de um à Deus,
Adeus.

Thiago Albert

O relógio despertador

Tic-Tac, Tic-Tac, Talvez não seja
Hora de acordar, mas também
Não seja a de dormir. trimmmm.

Wendell Nascimento

30 setembro 2008

recital 27/09 (contra os velhacos da literatura)




recital Silêncio Interrompido 27/09







Sábado 27/09

Contra os velhacos da literatura

Novamente fomos para a feira livre de Goiana com os nossos incensos, algo para molhar a garganta, bandeira colorida, placa da garota rosto-megafône e... uma troça de coco e maracatu (poesia na feira para não ficar em estantes levando poeira). Recitamos, riram de nós, rimos deles, cantamos para eles (cocos de Sebastião Grosso) e dançaram conosco.
Diante de tanto lixo nos ouvidos provenientes da poluição sonora dos candidatos às vésperas das eleições municipais, as pessoas mal acreditaram que uma porção de jovens estavam recitando e fazendo coco de roda no meio da feira. Vi o sorriso no rosto de muita gente, vi muitos pararem para tentar entender o que se passava. Ademauro Coutinho, Adinho Vidal, Carol Vitall, Fred Gadelha, Lucas Mendonça, Marcão Aurélio, Philippe Wollney, Thiago Piaba, Thiago Noiado. Foram este os responsáveis por ganharem a feira com palavras e tambores.
E ainda gritaram: - ô café gostoso!