31 outubro 2008

Eu daria tudo

Eu daria tudo
Para ser aquela
Que irá te ajudar
A percorrer esse caminho
Desgovernado.

Ser aquela
Que irá te orientar
A chegar a esse vazio
No qual você tanto deseja.

Ser aquela
Que irá te fazer rir
Nos momentos mais felizes
Consolar-te nos difíceis.

Ser aquela
Que completa a nós dois
Como almas gêmeas
Inseparáveis.

Ser aquela
Que te olha
E te entende
Apenas com esse olhar.

Ser aquela
Que vai te libertar
Desse tormento
Dessa solidão que parece infinita

Ser aquela
Que briga com você
Quando o que parece certo
Está errado.

Ser aquela
Que entrou na sua vida
Para fazer dela
Uma vida com sentido

Ser aquela
Companheira
Amiga
E mais...

Pollyanna Gomes

10 outubro 2008

A fila

Passa tempo
E horas.
Entre um a cem
Ou até mais de mil.
Estou na fila
Fazer o quê?
É Brasil.

Ademauro Coutinho

Feito a mão

Minha terra tem coretos
Onde poeta vai declamar
Os versos feitos à mão
Para o povo acordar.

Nosso passado é mais digno
Que o presente e seus atores
Que se chamam de políticos.
Eu chamo é de impostores.

Sem vacilar, sozinho, à noite,
Um manifesto vou aprontar
Os versos feitos à mão
Para o povo acordar

Minha terra tem história
De um povo revoltado
Que lutou por liberdade
E para não ser injustiçado
Por português ou flamingo
Ou qualquer endinheirado.

Não permita deus que eu morra
Sem antes declamar
Os versos feitos à mão
Para o povo declamar

Caio Dornelas

PSICANÁLISE DO CONSUMO

ontem fui ao hipermercado
super consumidora
apenas como transferência da dor
para objetos a serem usados
comidos
jogados
num canto do quarto.

Carol Vitall

[...]

Há uma tristeza em mim
tão antiga
Nesse canto do olho que não a vejo mais.
Há uma tristeza em mim
Como uma amiga que veio me visitar.

Cris Souza

Atroz

Quem se atreve a ser trigo
Na trilha do trem?

Quem se atreve a ser trava
No trato da sorte?

Quem se atreve a ser trote
No trole da vida?

Quem se atreve a ser traça
No trono do rei?

Quem se atreve a ser troça
Na trama dos astros?

Quem se atreve a ser troca
No truque do mágico?

Quem se atreve a ser trova
No trivial descaso?

(José Torres / verso avesso – 1987)

ILUSIONISMO CORRIQUEIRO

A arte se repete
Deixando a ilusão
me abranger
Fazer de mim
A vítima constante
Me tornando feliz
Com os atos que não decoro
Com as cenas que esqueço
E que monta
Esta felicidade farsa
Onde me vejo construir
Sob alicerces de papel
Que o vento mais leve
Faz virar a página
Revelando a
Intacta verdade
Que contorno com
A ilusão corriqueira.

Marcelly Vidal

Inventário (V)

ainda posso ouvir estrelas
tenho lutado por isso
e é mais real então vê-la
num céu sem o compromisso
de atender a um só sentido
sem senhor e sem partido.

eu acredito no homem
por não ter crença melhor
só não quero não quero que me tomem
meu quinhão de amor e dor
estar vivendo é a maior
coisa que estou metido.

Marcelo Arruda

Inventário (VI)

Depois do vento dos anos
Esculpindo o coração
A forma final com o brilho
Da emoção

A cor da pele da alma
Cumpre que acompanha o tom
Das estações, faça chuva
Ou tempo bom

Que o som da palavra timbre
Como vindo de alto sino
Tocando pelas mãos leves
De um menino.

Marcelo Arruda

Inventário (VII)

Somos homens. Nunca houve anjos
Santos, deuses, demônios não há.
Há um certo papel que vestimos
Pra não estarmos dispersos no ar.

Nós nascemos pra ter ódio aos pais
E ter filhos pra neles mandar.
Nossos cônjuges, nunca tão íntimos
Quanto as cobertas ao despertar,

Fazem parte do pequeno mundo
Que anda em torno de nós a girar
Os amigos, os mestres, os ídolos

Todos, tudo assim disposto está
Que nos conteste ou que nos confirme
Só a nós conseguimos amar.

Marcelo Arruda

Inventário (VIII)

Quatro anos de Jacó
Servindo à Lia
Que a vida deu-me
E mais não poderia,
Mercê de ser judeu errante
Sem errar ainda.

Quatro anos construindo um edifício/vida
Que, mais que abrigo, é forte
E farol e porto e ponto de partida
E de chegada, início e fim
Da peregrina solidão do artista:
Curtida, admirada
E nunca compreendida.

Quatro anos.
Quantos dias,
Quantas noites com?
Se faz a embarcação de navegar amor?
Se há vento, que navegue,
E mais não sei.
Que amor assim
Há poucos hoje em dia.

Quatro anos.
Pertencendo a
E possuindo:
Um reino,
Uma rainha
E uma princesinha.
Talvez sem abrir mão de um destino
Que enxergo de Quixote
No meu desatino.

Marcelo Arruda

Quotidiano

Nas linhas do tempo
O mundo gira
O momento passa
Os pássaros cantam
As flores murcham
As folhas caem
Os rios se encontram
O vento sussurra
O sol se esconde
Um novo horizonte se ergue
A lua surge
A escuridão predomina
A esperança repousa
O amanhecer nasce
E o mundo gira...

Mayra Le Fey

[...]

[...]

Só os infinitos sonhos me caberiam.
Aonde me encontro
Não faço existir.
O AMOR, efervesceu em minhas lágrimas.
Um punhado de pó
Minhas mágoas
Pele morta do meu aparente.

Philippe Wollney

De mansinho

Você foi chegando bem de mansinho
Parecia não notar
De tempo em tempo
Os olhares se encontraram
Aproximando-se devagar.

Tu és a bela rosa
De um buquê
Vermelho
Ardente
Apaixonante.

És a beleza
O dono
Que sufoca o coração
Que de tantas idas e vindas
Cansado está.

Apertou-me com um abraço
Abraçou-me com um beijo
Segurou-me em seus braços
Matou sua vida
E renasceu aqui
Ao meu lado.

Pollyanna Gomes

Graça.

O teu rosto límpido,
rara estrela substancial,
deixa o rastro seqüencial
numa réstia que repousa
em rústicas formas rubras...

Do teu rosto límpido,
brotam rios que regam
ruas andadas para reabitar
a robustez permitida em risos,
onde a mágoa em névoa ressurge...

Sou teu rosto límpido,
quando cristalizado na rocha
recente da relevância,
relembro lugares guiados pela terra
que germina rapidamente na rasa percepção.

Verei teu rosto límpido
presente em cada passo multilateral.
Por teu rosto límpido
morreria antes mesmo de nascer.
Em teu rosto límpido
farei a minha última morada!

Sandro Gonzaga

O Meu Amor

O amor que eu sinto me mostra sempre uma luz quando tudo vira treva.
O amor que eu não tenho me mostra novas trevas.
O amor que eu sinto me alimenta a esperança, me traz a ternura no olhar, a pureza do crer naquilo que nem sempre tem fundamento.
O amor que eu não tenho me alerta para um futuro desgraçado e pequeno, contábil, desconfiado, inseguro, um futuro sem futuro.
O amor que eu sinto respira, inspira, fecha os olhos, chora, tenta relaxar, está sempre tentando se recuperar.
O amor que eu não tenho me asfixia de dor, me arranca os meus olhos, e me devolve quando está quase tarde pra isso, porque devolve quando não vejo mais o que eu via antes.
O amor que eu sinto, me mostra sempre um nunca é tarde.
O amor que eu não tenho, é o que eu não quero ter.

Suely S Araújo

Adeus

Adeus...
E foi-se como o último raiar do poente,
Deixando trilhas que só o passado insiste em trilhar.
Foi sem fazer alarde;
Arrumou as roupas,
Passou até a última saia por mim dada
E esvaiu-se...
Caminhou por entre estradas e montes,
Até onde a parca vista alcança,
E se fundiu ao horizonte inatingível.
Ficaram apenas as palavras,
Os cheiros e os sons de passos ecoados;
Tudo perdido na embriaguez deste silêncio
que enterra a alma dos móveis sem gestos,
Enterra o sono das noites
E os sonhos que deixei de viver;
Embebidos pela simplicidade
e pela contraditoriedade
de um à Deus,
Adeus.

Thiago Albert

O relógio despertador

Tic-Tac, Tic-Tac, Talvez não seja
Hora de acordar, mas também
Não seja a de dormir. trimmmm.

Wendell Nascimento