30 dezembro 2008

Silêncio Interrompido 27/12/08

ADEMAURO COUTINHO

ADINHO VIDAL

CHARLES MARINHO

EDVALDO CARNEIRO

FELIPE ANDRADE

NINHO DO RAP

PHILIPPE WOLLNEY

SANDRO GONZAGA

THIAGO ALBERT

WENDELL NASCIMENTO


SILÊNCIO INTERROMPIDO

Recital Poético para encerrar as atividades poéticas de 2008.

Realizado na praça 13 de Maio (praça João Pessoa) no dia 27 de Dezembro de 2008 na cidade de Goiana, teve a participação de poetas e músico da cidade, contando com a participação dos poetas Ademauro Coutinho, Adinho Vidal, Charles Marinho, do poeta cordelista Edvaldo Carneiro, Felipe Andrade com os versos Augustinianos, os músicos Ítalo Pay, Mônica e Tácio, e os poetas, Ninho do RAP, Philippe Wollney, Sandro Gonzaga, Thiago Albert, Wendell Nascimento.


O Silêncio Interrompido agradece a participação de todos, e a contribuição de Ítalo, Clóvis, Jairo, Dona Guiomar, Lucinha e Iêda que sem a tamanha compreensão não seria possível nossos delírios.

"Balança mas não cai"
Era o único morador dum corpo prestes a ruir. Ficou a ver as rachaduras
crescerem e a ouvir os estalidos da vida rangendo em seus ossos.

(Francisco Espinhara)

26 dezembro 2008

RECITAL POÉTICO 27/12



Recital Poético // Silêncio Interrompido
Quando? - 27 de dezembro (amanhã)
Onde? - Praça João Pessoa / Goiana -PE
(em frente ao Banco de Caixa Econômica)
Apartir das 19:30h

Horizonte (Natureza)



Ademauro Coutinho

Vil

A lombra me deixou alumbriado,
Disposto a gritar intimidades,
Sem maldades, com prazer,
Os prazeres do passado.

De volta a si, sinceramente...
Não fiz nada de errado,
Dei de volta a ti o retrato,
Que pendurado na parede,
Deixava-me perfeitamente amargurado.

Você viu?
Meu corpo em vão, vil,
Antes são, a mil.
Agora fingindo ter...
Sangue frio.

Vidal

[...]

o céu tava com nuvens que a gente viu naquele céu daquela outra tarde.

é sem ânsia (corpórea)
de poeira de ponteiro
uma plenitude de três palavras e ponto final
aquela espera pela
noite.

vem você e adentra barreiras com que permissão se me subjugaste
como se...
pecado por ser desejo de olhar o que deus pôs atrás das íris:
olha que é mistério, e é por isso mesmo
por ele mesmo
que a gente acorda e anda
muitas vezes fingindo ser mortal.

Carol Vitall

Gole

Fico B Ê B A D A
EM-TOR-PE-CI-DA!
Que inebriação desconfortante!
Bebo versos desta vida
E a poesia me morde.

Cris Souza

Certeza estranha

Na primeira dentada é rasgada
A estranha certeza
Como se pratos sobre a mesa
Fossem sempre porcelanas
Como se tudo que fere
Fosse o aço do punhal
Como se toda a terra fosse plana
Todo verde fosse cana
Todo parecido, igual

Mas, a estranha certeza
Que bocas abertas derramam
De nítidas, transparentes
Mostram tão somente
Um lado do olho.

José Torres

LIBERDADE

Huuu...huuu...huuu
Tem dias que ÀS VEZES

Faço do ÀS VEZES um eterno

ÀS VEZES cada minutinho

Daquele ÀS VEZES ilusório

Revela-me que todas ÀS VEZES
EU QUERIA TODO DIA!!

Marcelly Vidal

Ócio é a idade dos poetas mortos

Gostar de futebol e ser marido
Inspira mais cuidados que um poema
Barroco, porque se quer pena
Com que se compense o proibido

Embriagar-se à noite, sob estrelas
Faz-se mister, porque romantikitsch
E, à sobra inevitável do fator humano
Celebraremos o que não existe.

De sorte que ilusão e morte
Sob a égide da vida coexistem
E, fosse eu o mago do universo,

Faria apenas uns poemas tristes
Com o dom de reviver o mar vivido
Coma a alegria de quem sobrevive.

Marcelo Arruda

O sussurro do vento...

Buscas relativamente simples buscamos
Tentando decifrar o enigma da vida
Mas, não é tão fácil descobri-la
E fechando os olhos escutamos
O sussurro do vento...

Coisas que nunca tínhamos escutado
Pelo fato de não termos nunca parado
Um pouco do que estávamos fazendo
Para fechar os olhos e escutarmos
O sussurro do vento...

Pare um pouco e escute
A voz que vem de longe
É um pouco distante
Mas, ela está lá
O sussurro do vento...

Lembranças distantes te invadem
De um passado desconhecido
Não se sabe ao certo da onde vem
Sabe-se apenas que tem algo a ver com
O sussurro do vento...

Mas, da onde será que vem essa voz?
Ontem, quando eu fechei meus olhos novamente percebi
A voz é doce e triste, monólogo do meu ser
Que parece uma cena onde a trilha sonora é
O sussurro do vento!!!

Mayra Le Fay

Feliz natal

25 de dezembro e alguém te mata dizendo: - hou, hou, hou feliz natal.
Um infanticida comemora o nascimento do menino cristo, talvez deseje o lugar de Gaspar,Melquior ou Baltazar para quem sabe se no lugar de ouro, mirra e incenso, presenteá-lo iria com uma forca, facada ou uma mamadeira de veneno.
Feliz natal, é tempo de renovação.
Feliz natal, um tiro no pé, banho frio e sete anos de prisão.
Feliz natal, mais um morre colocando luzinhas envolta do menino no presépio.
Feliz natal diz o peru da Sadia empalado.
Feliz natal quem te deseja é Barrabás atrás da árvore piscante com uma escopeta de espoleta pra simular guerrilha no carnaval.
Feliz natal, feliz natal Papai Noel morreu quando foi comprar crack no baldo do rio.
- eles sabiam que não iriam ganhar presentes.

Philippe Wollney

Alaqa

Ele não me levou
Não foi fácil não me entregar
Parecia um carrapato
Não conseguia me desgrudar.

Tudo parecia não dar certo
E ele continuou
Grudando e desgrudando
Não conseguia me soltar.

Às vezes parece loucura falar
Mas não falo de um amor
Falo dele no qual tememos tanto
E sobrevive para contar.

Em momentos de solidão
Vejo tudo aquilo passar em minha mente
E ao tocar em mim
Lembro-me!
Eu estou viva.

Tão viva
Mas não porque eu escapei
E sim porque superei
Algo que jamais poderia
Deixar-me aqui.

Então?
Vivo!
Diferente de ontem
Agora eu sinto
A pureza de ser feliz.

Pollyanna Gomes

Eu

Caio num lugar estranho.
Vôo na velocidade da luz em todas as direções.
Sinto o vento impulsionar meu espírito
nas nuvens que se desfazem com lembranças.

Permaneço mergulhado em sonhos.
Saio duma atmosfera.
Entro noutra.
Nada é o que parece.
Tudo se transforma no fogo
que queima minhas entranhas
e me deixa sem saber quem realmente sou.

Meus átomos formam novas substâncias,
as quais surgem para concretizar um ciclo
que descreve a maior das órbitas.
Vislumbro a eternidade.
Não sou mais a gota do oceano.
Compreendo o todo.
A solidão se esvai
e na unidade encontro total sentido.

Sandro Gonzaga

Nosso Eterno Amor

Não há amor maior que o nosso amor, sobrevivente do tempo, de chuvas, de tempestades.
Não há amor mais corajoso e nem mais covarde.
Este que é capaz de tudo, e que quase nada faz.
Este que por nada abriremos mão de sentir, mas por ele de nada abdicamos.
Não há amor maior que o nosso amor.
Este que habita em canções, em lembranças e reminiscências.
Que traz nos registros do tempo a força do que ele é, a capacidade de eternizar-se por si só.
Este que mesmo não sendo vivido, com pouco já se mantém forte.
Este que sabemos que existirá em nós até a hora da morte.
Não há amor maior que o nosso amor.
Este que não cabe numa infinita frase, ou na breve emoção de um poema.
Este que não se reproduz, que não se vive em qualquer ficção ou qualquer tema.
Não há amor maior que o nosso.
Este que já nasceu querendo morrer.
Este que já nasceu para a eternidade.
Não importa se não podemos zerar nossas vidas, desde que façamos amor sempre pela primeira vez.
Pois não há amor como o nosso, que fazendo-se de morto vive o luto da própria viuvez.

(Suely S Araújo)

Neve na cidade

Está nevando na cidade
Uma neve tão fina, que despenca dançando ao som dos ventos.
Esta neve tão linda, tão negra
É fruto que sai da terra, ainda verde.
É o doce flutuar da vida que arde
Pelo rubro estalar do horizonte em combustão.
Esta neve que pertence aos trópicos
É sangue negro a pleno vôo
Buscando nas mãos da criança
O recanto fértil da eternidade.
São malungos e malunguinhos
Num só viajante alado
Iluminados por sóis
Que dão força e luz bastante
Para tornar invisível esta tão fina neve
que cai do céu da cidade.

Thiago Albert

Onde estou

O meu despertar não tem compreensão,
Não tem café da manhã,
Não tem abraço
Ou desejos de bom dia.
Não tem direitos autorais,
Não tem família, tia, prima, pai ou irmão.
No meu despertar,
Eu sou um planeta gigantesco,
Sozinho, desabitado.
Sou uma resposta sem pergunta,
Uma pergunta sem razão.
Sou horas pós-horas,
Sou meu próprio tempo.
Em meu despertar,
Eu sinto que vou morrer sem ter nascido.
Sou constelação de estrelas,
Nesse oceano de exclusão.

Wendell Nascimento

01 dezembro 2008

Protesto na Praça do "Artesão"

No dia 15 de novembro, integrantes do movimento cultural "Silêncio Interrompido" realizaram um protesto contra o abandono e a depredação da Praça do Artesão, localizada na rua Padre Batalha, centro de Goiana.

Sujos de barro, os manifestantes declamaram poesias e denunciaram com bom humor a grave situação do local que já foi um símbolo da cutura da Zona da Mata, anunciando com o auxílio de um carro de som a existência de 8 vagas para esculturas na praça, cujo o nome já não faz justiça ao que ela se tornou.

No final do protesto os manifestantes se dirigiram até a rua Direita, na frente do Casarão da Cultura, onde funciona a Secretaria de Turismo, Desenvolvimento Econômico, Cultura e Esportes. No local foi criticado o fato da praça não contar mais com a vigilância da Guarda Municipal.

VEJA NO YOUTUBE
http://www.youtube.com/watch?v=hV4xJy26ue8

fonte: http://anoticiaporfelipedeandrade.blogspot.com/

Poética de Parede

NOVEMBRO 2008

SETEMBRO 2008

JULHO 2008

MAIO 2008

ABRIL 2008

MARÇO 2008

FEVEREIRO 2008

JANEIRO 2008

DEZEMBRO 2007

DEZEMBRO 2007



Poética de Parede é uma produção do grupo Silêncio Interrompido que visa divulgar e provocar os pedestres das ruas de Goiana, o material consiste em um cartaz de 100X80 cm de diâmetro que colamos em algumas paredes com algumas poesias de participantes do movimento. desde dezembro de 2007, com um anos de colagem, o material mantém a sua proposta: "quem precisa de ordem pra escrever?"

A fotografia

Eu ficaria muito feliz se conseguisse reduzir o que sinto numa fotografia. Ali ainda não seria o caso, talvez chegasse perto. Mais pra esquerda, mãe! Junta esse aí que eu não sei o nome! Calma! Não empurra!
Faria um dia daqueles, a explosão de fotossensibilidade se agrupando numa harmonia de arrancar suspiro, pouco sol, o suficiente para o brilho natural de uma captação bem feita. A grama sorriria, as flores nem se incomodariam com o câncer de pele carregado no canteiro dos hospitais. Até as rachaduras das paredes ao longe parecendo dizer xis. Sorririam mais que felizes. Diga xis! Não! Não! Calma! Mais pra cá! Você tá cobrindo a Marta, cara! Vai pra trás porque você é mais alto.
Ele se importaria? Estaria apenas centrado numa boa foto, com a turma toda reunida, não repararia em algumas pessoas insignificantes. Droga! Mesmo assim acharia bom, seria um deleite, as coisas caminhariam para um final feliz. Pára de se mexer! Desculpa! E a música lá no fundo, é linda, né? E cantaria com aquele inglês horrível da minha escola. Todo mundo me mandaria parar, se irritariam por não entender minha felicidade. Ele olharia para os lados, desconversaria, afinal, não seria de sua conta, não é verdade? Um fotógrafo com boa fama pela cidade. Ele consegue fotografar até sua alma, as dondocas da alta falando quando de cara com o resultado. Um dia eu conseguiria... Seus resultados, incríveis. Estou emocionada com essa foto! Quando você vem tirar mais? Escuta, eu tenho uma filha linda, ela quer ver se tem jeito pra modelo, tá até de regime, você não quer fotografá-la? Ele repararia nessas, mas não na sua foto mais importante. Eu o faria, com certeza.
Eu teria a chance do perdão, nunca mais reclamaria, ele me amaria outra vez. A praça, os gritos... Por que será que as pessoas não conseguem enxergar coisas assim? Eu quero a família, a paz, o amor, a ordem e o progresso – meus ditos comuns àquela época. O vento da tarde ampliaria a beleza da fotografia, meus cabelos voariam brilhantes, atiraria meu lenço que me sufocava o pescoço às alturas. Diga xis! E os arredores diriam. As estátuas da praça, os muros caindo, as grades esfaceladas de tanto sacudir se envergariam em forma de um largo sorriso. Vocês tão se mexendo demais! Assim a foto vai ficar ruim! Aproveita a posição do sol, a luz tá perfeita! Os policiais passando se esconderiam, as cáries se ergueriam para ficar bem na foto, eu nem se fala... A praça os gritos, a turma, ele lá...
Seria bom se prender totalmente nessa foto... Pra que meus erros se guardassem lá, para que não me massacrassem tanto... Quem mandou dizer o que não devia? Isso não é papel de uma mãe, ainda mais naquelas circunstâncias. Sai da direita, mãe! Assim você não vai sair na foto! Olha, lá vai, hein? Prontos? Lá vai!
- Xiiiiiiiiiiiiiiiiisss!!!
Flash!
Seria tudo uma maravilha, mas isso é só uma hipótese. Se eu soubesse ao menos onde você foi parar esses anos todos...


[Wander Shirukaya]

Endereço

Rua: sete cores
Número – 7
Próximo ao sonho.

Por favor não me
Desperte.

Quero vivê-lo
A cada vão momento.

Porque aqui estou
No universo diferente.

Não quero mais
Acordar.

Por que achei
O endereço
De me harmonizar.

Ademauro Coutinho.

Resto do meu dia

Alimente-se dos segundos que sobram de meu dia,
Abra as portas da gaiola,
Permita que tua parasita haja sobre min,
Degrada-me
Que me agrada te ver sorrir,
Suga o desnecessário que é bom pensar que é feliz,
Pisca não,
Lambe até os ossos,
Pois o que é nosso,
...é em segundos!

Vidal

eu carniceiro de mim

está instituída a política do sadismo!
sem propósito?
SEM PROPÓSITO?
minha raiva não tem propósito
mas meu sadismo
meu sadismo é para devorar
a mim mesmo
meu sadismo procura
o mesmo gosto
que você teve em me comer e não bastar mais e escurecer e me jogar fora
- você pensa que uma dor é pra substituir a outra?

ABERTAS VAGAS PARA MENOS CRETINOS
[ do que quem? ]

- exploda essa razão do engodo -

ah! essa vale a pena ser recitada!
essa vale a pena ser recitada.

auto-existente é quem se alimenta da dor que come a gente
você quer a paz do domingo
eu quero a paz do último salto a 1 km de altura

revirei-me geórgia. toquei fogo na roupa. você colocou os óculos escuros.

eu não quero mais.
eu não quero mais.
eu não quero mais.

eu acho tudo isso muito engraçado:
aprender a ser carniceiro de mim mesmo
mas não me saboto não me nego não me prendo

e sim! ainda vou continuar a gritar
falar em alto volume mesmo que a senhora dona moça se incomode pelos
meus maus hábitos e que a senhora dona moça se afogue a noite toda na cachaça não queira foda e acorde com o esgoto na boca.
agora você vai me ouvir.

esperemos! sim! oh! esperemos um pouco mais para darmos um abraço.

revelo meu lado sombrio sem medo – quem morre tantas vezes ao dia não
tem mais medo de velha faca de menino de interior.

ei, moço moderninho!
jovens
jovens
as pessoas se abraçam.
[ na verdade eu queria ter dito “amigos”
mas doeu demais ]

quando eu tocar fogo na roupa?
olhos nos olhos?
o amor comeu?

esta instituída a política do sadismo!

carol vitall

Visão raio laser

Tenho dois olhos latejos
E muito potentes
Olhos do tipo multiuso cortante;
Mais amolados que as facas Ginsu!
Visão de longa distância
Com espadas medievais de reserva
Para furar os olhos teus
Quando desviam dos meus.
Tenho dois olhos taciturnos
Porém frios como as espadas
Que se recusam a derramar lágrimas
Diante dos atropelos.

Cristina Souza

Apenas mais um trago

Escuro e cansado, eles se escondem por trás de um discreto esforço, sempre a implorar
por um pouco mais de ar.
Apenas mais um trago, mais uma esquina por onde passo, e o coração acelerado pulsa
toda ansiedade desses dias a esperar. Então sinto os teus braços, um beijo de boa noite,
Como você está? Bem... Quase sempre muito bem, ao perceber que teu olhar percorre todo
meu corpo como quem algo quer, mas prefere disfarçar.
Então você me fere, demonstrando não se importar com este sorriso que te consola nas
noites frias, quando por instantes tristes, pensamentos vêm te perturbar.
Então você me fere, ofuscando a luz desse sorriso que tanto diz admirar.
Apenas mais um trago, no momento é o que desejam estes lábios.
Sérios lábios, fiéis confidentes do filtro que se faz presente, nessas horas
que o tempo parece estagnar.
Mais um trago, apenas mais um trago, no momento é o que me encontro a desejar...

Emanuelle Alves

Meu louco pai

O que seria de meu pai
Se retirassem a policial dos jornais?
O que seria de meu pai
Se não ocorressem os crimes habituais?
O que seria de meu louco pai
Se não houvessem mortes nas avenidas principais?
O que seria de meu pobre pai
Se não desabassem elevados nas grandes capitais?
O que seria, o que seria de meu pai
Se não passassem filmes de terror nos cinemas locais?
O que seria de meu pai
Sem seus inseparáveis gibis da FBI?
O que seria de meu louco pai
Sem seus ternos e reuniões formais?
O que seria de meu pai
Se tudo fosse amor?

José Torres

[ ... ]

Ultimamente
Grito meu silêncio
De uma forma tão audível
Que atormenta
Os surdos
Que me rodeiam.

Marcelly Vidal

Da inspiração

Da vida, este mar à noite
E a certeza do sol

Do amor, as estações constantes
Como as voltas de um farol

Da poesia, o frenesi, o choque
Sucedido da palavra urgente

De ti, um monte, um perfume
Um feito que te faz diferente.

Marcelo Arruda

Secreta Declaração

Quantas vezes fico à porta de minha cela
A contemplar seus movimentos através da vidraça
O seu quarto iluminado com ternura e graça
Extasiado fico ao olhar seu perfil à luz da vela

Assim me deixo estar até a luz se extinguir
São os momentos mais felizes de minha vida
Nesses instantes que a alma embevecida
fica, de um amor que nunca poderei possuir

Então, desejo que você não apague a luz
Pois se sua imagem ficasse sempre a refletir
Pelo menos continuaria a aludir

Esses momentos preciosos que conduzem
A minha febril imaginação a conceber
A hipótese de mais que a tua sombra ver

Mayra Le Fay

A CIDADE

É nesta cidade que sufoca
Que esgana quem tenta
Que pisa na cabeça
Dos que ousam alteridade
Que eu saio.
Na noite há pedra e chama.
Nas casas há barro e fome
Nos olhos, rasos, o medo.
O desespero alérgico
Que aleija da porta para fora.
Que angustía da porta para dentro.
Na noite existem torres e holofotes,
Bares e falta de propósito
Bares e algo outra vez
Bares, a noite desaba sobre o balcão
Bares, represa de fé profana.
A noite nesta cidade
Nos priva de nós mesmos.
Rouba o que se esquecera.
Passa a mão e chama de bicha
Entre os dedos enrola o maconheiro
E na boca voz de puta.
É nesta cidade, nesta cidade
Onde a alvorada nunca se faz dia,
Que o rio alimenta de lama.
Em torno, mar de cana
Que amarga nossa boca.

Philippe Wollney

Canções guardadas

Cordas para quê?
Se posso ter as teclas
Oito já se foram
Estão guardadas
Um dia talvez
Serão descobertas
Ou quem sabe até
Reescritas.

Não adianta,
Mostrar ao público,
Para eles pode não significar muito,
Para mim,
É a minha vida
Escrita em composições
Tristes,
Românticas
E melancólicas,
Algumas inacabadas
E perdidas
Mas que no final
Dão origem a canções
Desconhecidas.

Pollyanna Gomes

Alma que voa.

Vastas ondas avulso vibram...
desvairando vasos de vozes vazias.

Vestígios de versos a devanear,
voando num balanço de verão.

Através de voltas mais longas,
como vulto que passa variando,
para viver da vontade de ser livre.

Sandro Gonzaga

Presente

No que vivo existe eternidade.
Em minhas lágrimas existe o peso de todos os tormentos, a força de todo o meu amor, os gritos de todas as minhas dores.
Oh intensidade que me toma, alivia-me um pouco de ti!
Felicidade superficial dos lábios meus, vai-te enquanto estou só, porque agora estou apenas comigo.
Perigo dos pensamentos meus a mortalha suicida de minha dramática alma calada e séria.
O quanto eu sou fraca e forte ninguém jamais há de ver.
O quanto eu morro e vivo, ninguém jamais há de saber.
Todas as cores que pintam a existência, não são capazes de me dar qualquer tom.
Sinto culpa pelo que me causa saudades.
E saudades por minha própria culpa.
Em minha brancura desfalecente copio a hepática esperança de saciar-me em amor enquanto houver tempo.
O meu amor...
Eu tenho mãos para tocar-lhe, mas não o acho aqui.
Eu não vejo você.
Os anos têm passado diante de mim velozmente.
Se eu morrer antes, o grande amor da minha vida tem seu nome.
Por enquanto, tenho o espelho para olhar, para pensar, lembrar, chorar, chorar por estar chorando, chorar pelo que já chorei.
Sinto saudades suas...
Você cabe bem no meu abraço.
Mas estou envelhecendo longe do seu calor.

Suely S Araújo

Pluvial

Vento frio;
No telhado, o grito de quem anuncia o Grande Temporal!
Aproxima-se rápida, porém como um dilúvio...
Lava a terra, as chagas da senhora que não se cansa de reclamar da existência...
Lava a mente, abismo para aqueles que não percebem o perene clamor pluvial!
Abre na terra as curvas de vida e os sorrisos de quem não têm nada para sorrir; mas sorriem!
Pois é o cântico das nuvens carregadas lá do alto...
Alto céu, antes de brilho descontínuo
Agora vermelho, cinza e negro...

Porém a noite sairá depressa
E o que virá será imperfeito demais para ser descrito;
Pois sinto aquela que ainda teima em se adornar
Para a grande dança da existência!

Thiago Albert

Marcas do tempo

O que são as dores?
Os dias retorcem os anos,
Os velhos já não existem mais.
O que é o delírio, se nunca estive são.
Sangue, olhos, beijos e marcas do tempo do nada.
A vida inteira é uma zona?
Eu não estou bem, mas nunca foi tão bom estar assim.
O que são as dores?
Se elas só me servem pra sorrir
Tenho lembranças frias, loucas e minhas.
O que elas são?
A morte justa, ou não, é uma zona.
Eu não estou mal, mas nunca foi tão ruim sonhar tão pouco assim.
Por que tenho de sentir tudo assim?
O que são as dores?
Se elas só me fazem chorar.
Perdi lembranças quentes, curtas e banais.
O que foi que achei?
O mundo cruel, materno, ou não, é uma zona.
O que é mesmo que sinto?
Os novos não vão durar para sempre.

Wendell Nascimento

RECITAL 15 DE NOVEMBRO



15 de NOVEMBRO

Recital na Praça dos Artesões, protesto contra a depredação do patrimônio artístico e histórico da cidade de GOIANA. Na praça haviam oito estátuas de barro com aproximadamente 1,60 m feitas por oito artesões da cidade do qual dois já faleceram.

- São Pedro – Tog.
- Vendedor de Abacaxi – Lázaro.
- Maracatu – Gecino.
- Pescador – Mussum.
- Tirador de coco – Edilson Nunes.
- Maria Camarão – Nino.
- Escravo – Irene (falecida)
- Catador de Caranguejo – George (falecido).

15:00h da tarde de Sábado, munidos de um carro de som um grupo solta seu refrão:
ATENÇÃO, ATENÇÃO
VAGAS ABERTAS PARA ESTÁTUAS
NA PRAÇA DO ARTESÃO

Os poetas Ademauro Coutinho, Adinho Vidal, Philippe Wollney, Thiago Albert, Wendell Nascimento e o anarquista Marcos Aurélio, lançaram seus versos e reversos para todos presentes. Logos após, partiram de andada para a secretaria de cultura, finalizando o protesto e chamando todos que estejam inconformados com a consciência quebradiça dos habitantes de uma Goiana que finge não ver e escutar os sintomas degenerativos de uma rápida urbanização.

assim se faz uma tarde lamacenta em meados de novembro

RECITAL 15 DE NOVEMBRO












A DEGRADAÇÃO DA PRAÇA DOS ARTESÕES, PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA CIDADE DE GOIANA E, A FALTA DE ATENCÃO COM TAL FATO É UMA REAL DEMONSTRAÇÃO DO DESCASO , TANTO DOS ORGÃOS RESPONSÁVEIS QUANTO DE UMA POPULAÇÃO NÃO CONSCIENTIZADA DA IMPORTÂNCIA ARTÍSTICA DO PATRIMÔNIO . NÃO VEJO APENAS COMO UMA FALTA DE INPORTÂNCIA E RESPEITO DA PRAÇA MAS TAMBÉM COMO UMA MAL APLICAÇÃO DO NOSSO GOVERNO GOIANENSE .

Marco Aurélio

Painel 14 de Novembro






Painel elaborado na tarde de 14 de Novembro. Uma criação quimerística de grafite com colagem do artista plástico intitulado Odrac e representantes do grupo Silêncio Interrompido. O painel se encontra na Rua DIreita ao lado da Câmara dos Vereadores.

ATENÇÂO:
VAGAS ABERTAS PARA ESTÁTUAS
NA PRAÇA DO ARTESÃO.

Protesto contra a depredação do patrimônio artístico-histórico da Praça dos Artesões e o abandono do poder público sobre tal patrimônio de extrema relevância para a cidade.