27 julho 2008

Limitação.

Você percorre longas distâncias.

Mas retorna sempre ao ponto de partida.

Seu discurso é bastante conhecido.

Pensa saber distinguir o certo do errado.

Vive na ilusão da certeza.

Tem respostas imediatas.

Escuta apenas o que quer ouvir.

Não vê nada além de si mesmo.

Está entre quatro paredes.

E as paredes não deixam a luz entrar.

Sandro Gonzaga

Bem alto.

Subi.
Subi bem alto.
Flutuando.
Subi até as alturas mais distantes.
Procurei o mar
Inutilmente
Não tinha mais horizonte...

Philippe Wollney

O artesão

Com os olhos vê o que vêem todos
E filtra a imagem no coração.
Depois, um deus, dá forma ao pó
Com o instrumento da emoção.

Há que usar água da fonte
De quanto o homem tem sido.
Nunca esquecerá que é barro
Vendo-se assim refletido.

Bate, amassa, afaga, e eis a peça
A que empresta o sopro da vida.
Uns chamam dom, outros de ofício

Ao seu trabalho de criação.
E ele, como que parindo
Vai construindo mundo com as mãos.

Marcelo Arruda

[...]

______________________pronto!
( agora o papel já não é só branco.)

Marcelly Vidal

MATADOURO PÚBLICO

A carne sem esquecer a fome que a devora
serve-se às pressas desses dentes

A carne indiferente à fúria que lhe trai
dá-se tenra e inócua ao crime

A carne incontinenti abrange a morte
abraçada a sorte como que eterna

A carne espreita a lâmina austera
lavando a sangue o gume que a fere

A carne dá-se conta que é tarde
aberta oferecida à fera

José Torres
(verso avesso/1987)

[...]

vez por outra visto luto
por poemas mal realizados
poemas em que não consegui
ao erguer verso sobre verso
transformar idéia em tijolo
fazer de areia e água poesia

poemas em que não mostro
vir a mágica do estalar de dedos
mas de grosseiro ademane
nem mostro um impossível possível
bocados de pedra e desejo
transformando-se em Taj Mahal

um poema mal realizado
não cumpre a promessa
o toureiro se deixa ferir
o enxadrista oferece o empate
um mágico de mãos lentas
e o estalar de dedos não convence

um poema mal realizado
é cerimônia de casamento
em que a noiva diz não
é gestação de ansiado filho
em que a criança nasce com asas
pois deus precisa de anjos

um poema mal realizado
é uma gestação infinita
dum filho mais que querido
um filho necessário
gestação sem parto ou aborto
desfile sem apoteose

um poema mal realizado
é filho indesejado talvez
um incômodo constante
um ser que precisa de amor
mas este nunca será nada
nada além de fingimento

mas o que pode fazer o poeta
com seu mausoléu insípido
com sua mágica revelada
com seu poema flácido
se nele existe alguma coisa
que não cabe em lixo ou livro

Edmilson Madureira Segundo

O poema que se foi

A pena apenas escreve
Algo que se foi, algo que não vem
A vida, a morte, esse trem
Os caminhos sem volta...
Alguém bate na porta
E meu poema voa.
Ecoa nesta sala escura
Eu perdida em mim desisto
Enquanto o meu olho, caolho
Como um risco o procura.

Cris Souza

Libido

cansei.
de todas as normas anti-éticas.
castrantes.
deixarei que a lua cheia me guie,
que meus instintos me levem,
mas que sempre o amor prevaleça...
chega! das coisas pré-estabelecidas,
de todo o cotidiano normal...
...tão antiquado...
...tão rarefeito...
quero ar...!
o mundo é a minha casa,
mas o céu não é o limite...
quero viver a sinergia do universo.

Carol Vitall

A praça

Gigantesca circunferência
Nela se encontra
Outra circunferência,
Uma menor circunferência.

Esta menor circunferência
São meus caros amigos,
Reunidos.
Poetizando.
Ah... Grandes poetas
São meus amigos.

Ademauro Coutinho

25 julho 2008

Dias letais

Nos dias, em que os dias
Se estendem; quando
Não estamos juntos
Parece que a vida não
Tem graça.
É como se a morte não
Precisasse haver, e
Como se o dias não pudessem
Nascer. Fica tudo mórbido,
Gélido, quente demais.
Nos dias em que os dias
São assim, eles são letais.

Wendell Nascimento

Calar

Caí no silêncio,
Sono profundo.
Nada de abraços e beijos,
Nada de cartas ou rimas,
Emudecido.
Amor falho.
Deixei passar a minha melhor oportunidade.

Philippe Wollney

Lua branca.

Ao atravessar
a última fronteira,
consegues avessar,
descobrir a parte inteira.

Movimentos precisos.
Momentos incisivos.

Ecos ressoam.
Sussurros enlouquecem.
Corpos soam.
Odores se querem.

Não sou mais meu.
Sou todo teu.

Sandro Gonzaga

Subterrâneo

Longe das vistas
As trevas se escondem
Entre cavernas úmidas
E fontes de água fétida.

O egoísmo reina
Em seu trono de sangue
Os corpos vão se amontoando
A maldade se consolidou.

A podridão na alma é tão grande
Que já afetou a face
Porque em um sorriso dado
Pode-se descobrir a intenção de alguém.

Mayra Le Fay

A visita do fantasma

Contemplo, absorta, em pé,
Um fantasma em minha porta
Convido-o para um café
E ouvimos discos de outrora

A aurora se apressa em chegar...
Distraída danço a valsa
Que meus pés não sabem dançar
Há fermata... Mas a despedida é breve.
O fantasma cochicha de longe
Um beijo suave, leve
Me deixa por trás da porta
Morta
Uma saudade quente d’água morna
E segue.

Cris Souza

Chega!

Chega de tanta hipocrisia no mundo
Chega de falar palavrões
Puta-que-pariu!
Se quem pariu foi a puta por que amas tanto a ela?

Chega de contar o tempo
Que se dane os ponteiros dos relógios
Se não for necessário
Não os use.

Chega de dizer aí meu “Deus”
Fica na tua
Assume os erros
Ninguém vai assumir por você.

Chega de olhar para os pés
Levanta a cabeça
Fala feito gente
Olha pra frente.

Chega de besteiras
Merda!
Foi o que fizeste ainda de manhã
O qual denominamos de número dois.

Chega de virar a casaca
Até parece que perder é doença
Fraco!
Acorda marmanjo.
Vê se cresce.

Pollyanna Gomes

No bar

Tudo acontece.
Até garçons surdos.
Falando de música
E se sentindo uma geração atrás
Descobre-se o círculo do tempo.
As mesmas brincadeiras:
“Belchior de novo?”
Ainda os mesmos.
Papo de folho, tarefas domésticas.
A barra da vida,
A verdadeira batalha,
É sempre bem prosaica,
Em qualquer ponto da grande marcha.
Há sempre a parada pro chopp,
Aquela música, o papo em dia...
Vamos deixar a revolução pra amanhã.
Chegando em casa cansado,
Jantar, os chinelos, uma trepadinha...
(e a reunião?)... acesso de egoísmo?
Então não vamos fazer a história?
E a aposentadoria daqui a vinte e cinco anos?
E o trabalho servindo pra nada?
E o arrocho salarial?
E o humor?
Saco!

Marcelo Arruda

[...]

Meu dia está nascendo
novamente
nova-mente
novamente.

Marcelly Vidal

Os peixes

Brancos
Azuis
Dourados
E pretos
Brincam
E saltam
Os belos
Peixes.
Peixes brancos
São curiosos e francos.
Peixes azuis
Gostam de ir muito a fundo.
Os dourados
São tão safados
E adoram dar saltos.
E os pretos, então...
Oh, obscuro!

Ademauro Coutinho

24 julho 2008

Cicatrizes

Na escuridão da noite
Sentei e dormi, na sombra do silêncio.
Ouvi vozes e via vultos.
O vento marcou sombras negras
Queimadas, vozes loucas desesperadas,
Negros homens lutando por dignidade
E esmolando respeito.
Perturbando marcas que não deixaram
Cicatrizes.

Marciano Axé

Meu ultimo poema

Um poema de dor
Um poema de agonia
Um poema de ajuda
Um poema de socorro
Um poema de lembrar
Um poema para falar
Da minha ultima poesia

Diego Manoel

[...]

voa_________sim,
senhor avestruz
Pois ele não...
Não!!!!!!!
Pender, pular, cair...
Voar

Hernando Siqueira

[...]

Se a minha língua coça
A tua me perturba.
Eu sou poeta marginal
Não distingo Leminsk de Coutinho
Pra mim é loucura ou carnaval.

Luziano Jardim (Mago)

22 julho 2008

Recital Silêncio Interrompido 19/07/08



Poetas Goianenses

Realizado no dia 19 de julho o Silêncio Interrompido com o recital de poesias, artesões e a participação musical com alguns atores da nova cena da cidade. Apesar da constante chuva os artesões, com a iniciativa de Marcos Vinícius, expuseram seus trabalhos no sábado. O recital contou com a participação da ilustríssima poetisa Sebastiana de Lourdes (Dona Lurdes), o cordelista Edivaldo de Lima, o cantor e compositor Gedê e os terroristas poéticos da cidade Adeilton Vidal, Carol Vitall , Liedja Marques, Lucas Mendonça, Mayra La Fey, Philippe Wollney, Thiago Albert, Wendell Nascimento. E os músicos Thiago Pedro (noiado) , Lucas Mendonça e Suely S. Araujo. e não se pode deixar de mencionar a grande ajuda do nosso amigo Jairo (Dj Mobius) com a iluminação e decoração.
Até uma próxima, Observe & Absorva.

Recital Silêncio Interrompido 19/07/08



O Grupo de Poetas
em pé:
Thiago Albert, Liedja Marques, Mayra Le Fay, Wendell Nascimento, Suely S.,Edvaldo Lima, Philippe Wollney, Carol Vitall, Adinho Vidal
agachado: Jairo(Dj Mobius) & Lucas Mendonça

Recital Silêncio Interrompido 19/07/08



Carol Vitall

Recital Silêncio Interrompido 19/07/08



Thiago Albert

Recital Silêncio Interrompido 19/07/08



Adinho Vidal

Recital Silêncio Interrompido 19/07/08



Philippe Wollney

Recital Silêncio Interrompido 19/07/08



Sebastiana de Loudes

Recital Silêncio Interrompido 19/07/08



Mayra Le Fay

Recital Silêncio Interrompido 19/07/08



Liedja Marques

Recital Silêncio Interrompido 19/07/08



Wendell Nascimento

Recital Silêncio Interrompido 19/07/08



Thiago Pedro (Noiado)

Recital Silêncio Interrompido 19/07/08



Suely S. Araujo

18 julho 2008

Silêncio Interrompido



estamos voltando com apresentações públicas, a 1° desta ano será amanhã, dia 19 de julho na praça 13 de Maio aqui na cidade de Goiana-PE. Contará coma participação de alguns poetas contemporâneos da cidade e suas versáteis poesias.
também terá apresentação musical e uma feirinha com alguns artesões que participaram da FENEART-PE 2008.
Observe & Absorva.

15 julho 2008

O que escondem estas sombras?

O que escondem estas sombras
Que teimam em se refugiar em universos tão pequenos?
Como as novas que a tudo sugam como um ímã,
Brincando de mudar tais infinitos?

Como um abismo onde um eco fragmentado pelo tempo
Traz lembranças tão atordoantes,
Não consigo meus pés no chão,
Mas reconheço aquele tão radiante feixe de ondas espelhadas
De uma tarde de domingo.

De tão negro e tão claro tudo se compõe,
Meus sentidos se perdem com a dança desta compassada valsa triste.
Perdem-se como espasmos voluntários
Como se tudo estivesse sempre no lugar...
Como se a vida estivesse na mesma estante empoeirada.
Bastava só fechar os olhos e pensar naquilo que deixamos escapar,
Naquilo que deixamos de pensar...
Naquilo que deixamos de sentir...
Pelo medo de eclipse total ao meio-dia,
Onde a vida ao meio se destrói.

Thiago Albert

Fardo

Ninguém carrega de mim
Essa dor infinda
Linda
De ser tão feliz e ser tão triste ainda!

Cris Souza

Homem Combustível

Um homem que se acostuma a andar na negra fumaça
Não percebe nada além
De sua cegueira e sufocamento

Quando, enfim, por algum motivo, a nuvem passa
Ele traz impregnado na pele o cheiro incendiado
Seu suor, cinzento
sua lágrima, carvão

Quando, no corpo, lhe escorre a água limpa
Aos seus pés, enegrecida,
Evapora em névoa de escuridão.

Vitorino da Silva

Se procurar, acha.

Embaixo de pedras
Acho lacraias.
Traças
Dentro dos livros.
Dentro das gavetas
Cacos de vidros.
Nos armários
Vencidos enlatados.
Nos ouvidos,
Cera.
Entre os dentes
Bife mal passado.
Mãos segurando
Violão desafinado.
Na garganta pobre grito.
Lombrigas
Em intestinos constritos.
Dentre coxas
vênus-púbis.
Lábios,
Tórridos beijos.
O que importa
Que atrás da porta
Haja desespero?
Ducto oco
É um corpo.
No crânio
Pouco cérebro.
No papel
Infinitos mistérios
E nomes não conhecidos.
Na liberdade
Encontrei o amor.
Nas tuas previsões
Achei o marasmo.
Os modos
Estão todos errados:
Extirpamos, sistematizamos,
Uniformizamos a consciência.
Se procurar, acha.
Quando achar
Não se faça de completo idiota.

Philippe Wollney

[...]

insônia: o mar à minha frente
dormindo
domino
o domingo:
cotidiano que se vê quebrado
monotonia fulminante

Carol Vitall

Poesia Moderna

São várias as vezes
Que me peguei abraçando o nada
Contando atenciosamente os degraus da escada
Amando e não me sentindo amada.
-Pode vir outra!
Que a notícia do mês que vem já está passada,
E é só mais um brinde com água.

Aí está você novamente;
"como você mente"
Encontrando soluções em cinzeiros de prata
Vadiagem de burguês
Polindo e afiando faca por faca.

Rico morreu de câncer, porque câncer mata
Pobre, porque plano de saúde não paga.

Agrada com flores na rua
Em casa chicote com espinhos a mulher amada.
Conversa pra boi dormir...
o que dirão as vacas?
Não se iluda
Nem confunda álcool com água;
-Um é pra encher outro para lavar a cara,
Deportarei o filósofo que citou estas palavras
-Um mendigo me disse que foi "um cara"...
Ele não lembra porque estava muito ocupado
Enumerando sua casa.

"Poeta no século 21"
Hum.....sei...
Sem patrocínio
Não matuta em lugar algum.

Geisiara lima

As madrugas

Se o tempo me desse mais um tempo para pensar nas coisas que não pensei, eu nunca teria errado, mas também não aprenderia as coisas que hoje sei.
Quando pensei que o universo era grande demais pra mim, a eternidade era o meu objetivo. Então, conhecendo bem a loucura e a sanidade, e desconhecendo a vida e a morte, nas vezes que me perdi, nos olhos ocultos, sempre tentei dar um fim a uma solidão que eu conhecia bem, assim como conheço meu reflexo no espelho.

Wendell Nascimento

Ausente despertar.

Raios de sol revelam vida.
Refletida em inúmeras coisas,
surge a face revestida
que constantemente muda
diante dos olhos do tempo.

A criação desfaz-se submersa no além,
quando o fogo da essência acaba.
Tudo, a partir da mesma semente oculta.
Estamos na frente dum infinito espelho,
onde ninguém se vê.

Atrás dos passos do sentido,
a mente descobrirá no fim do caminho,
a chave da porta que nunca foi aberta.
Mistério vivo como a noite
que se refugia na voz do silêncio.

Sandro Gonzaga

Porque teu sorriso me cativa

Saudades tenho de vê-lo
De me sentir perdida só de olhar.

Ver lágrimas em seus olhos
Entristece-me.
Que pena que sinto.

Você é exclusivo
Pelo menos para mim.

Porque simplesmente te amo?

A única coisa que tenho para te oferecer
É o silêncio.

Algum dia saberás
Afastar-me
Foi só o começo
Pra te amar ainda mais
E mais.

Pollyanna Gomes

(Uni)Verso

Sem nada tenho tudo
Com tudo tenho nada

Antes preferia
Não ter que decidir

Porque ambos me levam
Pro fim e começo

De uma linha interminável
Denominada Universo.

Mayra Le Fay

POETA / POEMA

Se o poema perde a rima
Tudo bem
Porém, se o poeta perde o rumo
O poema escapa-lhe das mãos
O poeta sem poesia morre
O poema sem rima não.

José Torres (verso avesso/1987)

Mágoas

Vou indo com a bagagem do viver
Que se chama vida.
Bebo e tampo as minhas feridas.
A felicidade não é tão querida,
A dor é quem resolve a minha vida.

Ademauro Coutinho

09 julho 2008

POESIAS DE ADEMAURO COUTINHO



Disponível para download o livreto de poemas do poeta Goianenses Ademauro Coutinho.
Em formato de papel oficio A6, o livreto possui 13 poemas que caracterizam o tom de sua produção. Estamos disponibilizando o livreto aqui no blog Silencio Interrompido(link: POESIAS GOIANENSES), ou podem solicitar por e-mail ou nas ruas e praças de Goiana onde estiver rolando uma roda de cachaça com poesia. O livreto está organizado para ser impreco e ficar do formato original. Espero que apreciem e aguardem novas publicações. Produzido pela nova organização do Silêncio Interrompido.

Azuis

Comprei tecidos azuis
Para melhor vestir minh’alma.
Fazer uma bela casaca,
Calça, terno, gravata, luvas.
Tudo na melhor moda.

Apresentarei minh’alma a todos
Vestida de trajes azuis.
E dirão:
- olha lá o rapaz vestindo o céu.
Caminharei sobre as nuvens com elegância.

Gastei tudo que possuía,
Para vestir minh’alma em trajes azuis.
Azul celeste, azul anil, azul turquesa,
Azul marinho, claro, escuro, infinito.

Trajei minh’alma com tecidos azuis
E em meados de novembro
Fez-se chuva
Eu estava fora de moda.

Philippe Wollney

...

de repente comecei a ver o mundo pulsar
(a dificuldade de olhar o aparentemente extático)
- carregada como se fosse primavera.
- essas tardes chuvosas de flamboyant me lembravam alguma coisa.

Carol Vitall

Libido

Faz-me perder os sentidos outra vez;
Apressando-me com os dedos e a língua,
Amarrotando-me o corpo com tua nudez;
Amordaçando-me no vapor da saliva;

Morde-me o pescoço e aquece-me a nuca;
Profana-me com palavras os ouvidos;
Percorre-me pele, pêlos e vulva,
Sufoca entre tuas pernas meu gemido;

Ata-me os pulsos com tuas mãos;
E prende-me forte a tua cintura;
Atira-me as roupas dispersas no chão;
Faz-me refém de tua irremediável loucura;

Persegue-me como a fissura a teu vício;
E entrega-te como o corpo a morte;
Deseja-me como o fim ao início;
E como ao sangue a dor insuportável do corte;

Experimenta-me até o cansaço;
E mantém incansável o membro erguido;
E enquanto me ocupa o tempo e os espaços;
Penetra-me os poros com tua libido.

Liedja Marques da Silva

Troca de Palavras

Quando vai encontrar as palavras certas
Aquelas que irão te guiar
Para um mundo diferente
Talvez desconhecido por ti
Mas vai te ajudar
Seguir a intuição
Caminho certo e distante
Talvez pensasse isso
Mas não fizera.

Um mundo moderno
Só flores e cultivo
Claro que não existe
Haverá então obstáculos,
Como também haverá compaixão.

Não estou distante,
Não nego,
Já corri umas vezes
Agora não me recordo
Pois o que me importa
É o que temos para oferecer
Um ao outro
Embora você não perceba
Nem ao menos saiba
O que pode ocorrer.

Mentir!
Por isso não,
Eu também mentir.

A magoa,
Curei com forças
E é com essas mesmas forças
Que vos digo:
Não te apresas,
Quero a realidade,
Não um conto de fadas.

Paciência eu tenho,
De sobra até
Mas talvez mais tarde não tenha,
Pois chegou o fim
E você de perdido no tempo
Não notou!

Eu entrei na sua vida
E nunca saí desta...

Pollyanna Gomes

Arco-íris noturno

Esse gosto de vinho
Que trazes na boca
Tem o gosto de sangue
Que sai do meu pulso.
E a minha alma pulsa
Rebusca a realidade.
Sem plural e sem pronome
Eu sou um arco-íris noturno
E pelo gosto e desgosto
Que tenho da vida
Embriago a sorte
Pois eu estou em tudo
Porém, sou um eclipse,
Mas não tenho medo da morte.
Sou a água da fonte seca
Que foi para o mar
Sou tempestade de sol
Em noite de luar
Nesse gosto de vinho.

Wendell Nascimento

Acorda Goiana.

Terra adorada de encantos.
Mal te vejo
querendo acordar do sono da morte.
Longo pesadelo da rainha da mata norte.
Acorda Goiana para a poesia,
se liberta desta agonia colonial,
vista na insensatez do vasto canavial,
na arrogância do engenho,
na submissão da senzala,
e no poder da influência portuguesa ou católica.

Acorda Goiana litorânea que retrata com tristeza
a ausência do povo de grandeza
e a presença do público de migalhas.
Acorda Goiana africana.
Embalada pela fúnebre cantiga da tarde.
Que no fogo da história sangrenta arde.
Acorrentada pela escravidão.
Se libertando pela coragem dos quilombos.
Acorda Goiana esquecida pela política suja
como as ruas de ratos e baratas que exalam chorume.
Esgoto a céu aberto.
Crianças da noite.
Mendigos que dormem.
Predominante pobreza periférica.
Vítimas da violenta covardia.

Goiana de todas as rodas:
roda da loucura,
roda da liberdade na “13 de maio”,
roda das idéias.
Goiana da juventude que sonha...
No bar, a roda da cachaça.
Na praça, a roda da maconha.
Duquesa dos refinados poemas do crepúsculo.
Goiana do “Silêncio Interrompido” por grandes talentos.
Acorda meu bem...
Queremos te ver cantando em círculos aéreos.
Acorda Goiana adorada.
Esquece o pesado fardo da longa noite passada
e abre os olhos para a demorada alvorada.

Sandro Gonzaga

Hora do chá

Quantos cubos de açúcar, meu bem???
Sente-se enquanto tomamos o chá da morte.
Ele está um pouco amargo???
Então o adoce mais.

Esqueça o que sabe
O além é muito mais interessante
do que dizem.

E então brindemos o próximo minuto
O último
De sua miserável vida.

Apressado, sempre apressado
O coelho branco já passou
E com ele todas as expectativas
De sonhos nunca concretizados.

País monocromático
Conto de terror que ninguém contou
Não olhe agora mas...

A foice já está no seu pescoço
E o chá já acabou.

Mayra Le Fay

(Anti?) – Auto – Retrato

Sou sensível.
Assim como todos são.
Não há medida para isso
Que seja igual para as pessoas.
Dentro disso, gosto de escrever.
Assim como de comer, beber, dormir,
Trepar... tudo isso é vital pra mim.
Sou um poeta bundão.
Um poeta funcionário público.
Escritor de domingos e feriados.
Sou amigo da ordem e da temperança,
Da provisão e da abastança.
Nada é mais importante pra mim
Que o bom juízo dos outros e
Garantir a feira e o leite das crianças.
Não há nisso nenhuma filosofia
Que não o meu prazer pessoal.
E foi tão fácil confessar-me o burguês
Que sempre fui. Não doeu nada.
Hoje transo sem culpa
Os meus baratos burgueses sem buscar
Nenhuma explicação exotérica para isso.
Gostaria de ter nascido na idade média.
Mas como não nasci, não acredito em
Menestréis. (nem mesmo menestréis
Acreditam em menestréis. Mas como viveriam,
Se não fingissem acreditar em si mesmos?)
Acredito em bobos da corte
Que amargam uma existência somente
Tentando provar que não querem
Sentar no trono. Isso é lá
Motivo bastante para se viver?

E no capítulo das contradições
Não sou melhor do que os outros:
Tudo o que chamo ridículo
No fundo quero imitar.
Achando as minhas fraquezas,
Quero mais forte ficar.

Marcelo Arruda

Impotente ou hipotética?

Este chão frio
me acomoda
e dele não consigo sair.
Talvez pelo peso
que o teor alcoólico
deixou em mim
ou pela certeza
de não alcançar
qualquer alavanca.
Embora os meios
estou bem,
daqui estou vendo
meu mundo com mais cores
e ao contrário de você
eu não as oculto.
Permito-as nadar
nesse preto que impera
e que se faz um pano fundo
para elas mesclarem,
misturarem,agonizarem comigo
Arquitetando meros desenhos
que decifram em "porquês",
em brilhos alcoolizados,
em alavanques alados,
no mesmo eu acomodado.
Mas fazendo emergir
o diluído desta noite.

Marcelly Vidal

Amarelosa

Longe de lógica
É lógico
O lago de cristal de rocha
Espelho mágico de ótica
Água doce cristalina
Água de sal
Chá de ervas daninhas
Fonte natural das coisas
Longe de casa
Na roça
Rumores líricos cânticos
Astrais delírios
Lírios brancos
Sublime feto
Véu d’alma
Dedo índico
Indica indícios de sol
Anular lua luar nostálgico
Na memória
Uma outra estória
De um verde lilás
E um amarelo cor-de-rosa.

José Torres (verso avesso/1987)

O cigarro

Fumo um cigarro
Trago, me estrago
Dez minutos de vida
Se passaram.

Vale-menos
Companheiro!

Estou no desespero
Me acabo com o cigarro.

Ademauro Coutinho

08 julho 2008

Escritor cretino



Desajeitado
Sim, sou poeta desajeitado
Pouco hábil
Com as situações metódicas da vida.

Desalinhado
Do molde de civil bem comportado
Onde bons atos é babar escrotos de políticos.

Despreocupado
Se a norma semântica
Apagará a espontaneidade
De minhas palavras chulas.
Que entre em desuso
A opinião dos acadêmicos literários
Pois de onde venho
Todos os patéticos
Estão nas AL’s esnobes
E que me chamem de escritor cretino
Mas, só imagino
Quando todos souberem que poesia é libertação.


AL’s = Academia de letras (Denominação para alguns orgãos que estão longe de ser referência à literatura)

Philippe Wollney

Ponto final.


Farei deste poema
A minha última dor,
Visceral, psicológica.
Este poema
É momento sofrido,
Transcrito,
Com palavras de pouco valor.
É apenas o que possuo,
Enjôo na alma,
Peregrinação pelo vazio,
Tudo me parece impar.
Minhas dores como os poemas,
Também precisam de ponto final.

Philippe Wollney

F. DE FOGUETE

"Febril
Incansável
Doe-me os olhos
As mãos inutilmente tentam tocá-lo
E nos lábios
O gosto de pêssegos febris
Desmancham-se em débeis desejos
Em fumaças do teu câncer
No fio que transfixou seu coração
Quando ele foi carbonizado..."

Agnes Mirra

07 julho 2008

2° festa da ITAMBÉ ROCK HOUSE


2° festa da ITAMBÉ ROCK HOUSE

Soul Sick
Wind Bees
Hefesto
Desvio de Conduta
Simbiontes
Coma Black
Flores Mortas
Grito de Alerta

ONDE?
Itambé/PE
Rua João Paulo Ferreira, s/n°
Bairro Planalto

Quando?
13 de Julho as 13:00h
ônibus de graça saindo de Goiana na Praça 13 de Maio as 12:30h.

Quanto?
3 conto

Porquê ir?
ah... Vá se foder!

02 julho 2008

Gigante Universo

Tão pequenos,
Alimentamos sonhos tão imensos
Que se desfalecem pelo dragão do tempo.
E pouco a pouco
Perdemos a noção do belo,
Nos afastamos do sentimento novo
Que de repente deixamos de cultivar.
Sobra simplesmente o tudo
Que cega o pensamento único
De nenhuma vida nos caber.
Ínfimo desejo retraído
Que só nestas palavras, como grito,
Ousam fugir deste fechado lar.
Pois a vida se torna tão grande
Misturada aos passos, que antes,
Insistia sempre em não trilhar.
Não sei se caminho só
Neste deserto de solidão que nós
Teimamos em achar tão imenso.
São as miragens que os passos
Trilhados a duros fardos
Nos deliram do sentir maior.
De amar sem algum sentido
Sem importar se em frente há perigo
Com a consciência do nosso gigante universo
Que cabe na palma de nossas mãos.

Albert

...

sou ponto final
no meio de orações
entre eu e mim
sujeito objeto

sou adjetivo imperfeito
substantivo irregular
bilionésima pessoa plural
variavelmente singular

sou verbo abstrato
conjugo tempo impreciso
emito interjeições indefinidas
concordo advérbios de negação

eu sou ego mesmo
não faço sentido
perco sensações
procurando vernáculos

sou só reticências

[18.05.2008]

Edmilson M. Segundo

Metáfora ao fogo

A noite se faz de fria
Nesse tempo quente.
Mas, o que os meus sonhos
De outrora diriam se
Eles fossem sonhados agora?
Nossa termologia.
Nesse teorema incabível
Que é o tempo,
A noite se fez de fria
Nesse tempo quente
Que só me traz lembranças e...
Coisas demais.
A noite se fez de fria
Mas, o que os mortos diriam
Se estivessem vivos agora?
Nessa termologia,
Nesse tempo quente.

Wendell Nascimento

Labirinto.

Segredos ocultos
nos olhos brilhantes...
Se descobertos:
caminhos traçados e seguidos.
Nasce, cresce, falece...
Amanhece, acontece, anoitece...

Assombros se sucedem sempre.
Passar sobre as mesmas salas.
Sair pelas portas semi-abertas.
Subir altas pedras.
Descer longas escadas.

Sombras revistas assustam.
Vidas solenes sentidas.
Súbitos sonhos abismais.
Montanhas de sorrisos e tristezas.
Corações partidos ou nascidos.
Instáveis sucessões sagradas.

Assaz cessam saídas pensadas.
Corredores sem novas lembranças.
Riscos convincentes nas paredes.
Pistas sutis somam esperanças vãs.

Sopro suave luz.
Astros, deuses, universos
seus tempos são eternos:
nasce, cresce, falece...
Amanhece, acontece, anoitece...

Aqueles mesmos segredos
são novamente escondidos.
Mas serão redescobertos
noutros olhos brilhantes...

Sandro Gonzaga

Meu eterno amor

Amor
Meu amor do infinito
Meu bem
Meu ser esquecido.

Mata-me
Quero me envolver em tua alma
Como este coração
Que ferido está.

Amor
Meu amor eterno
Quero-te aqui
Mas não posso ter.

Quero me envolver em teus beijos
Entregar-me a vida
A uma vida passada
Na qual eu tinha você.

Meu amor
Amor bandido
Abandonaste-me
Quando eu mais preciso.

Amor
Cura minha ferida
Paixão!
Quero-te só mais uma vez.

Quero me deitar em teu colo
Fugir da solidão
que de escura
amarga está.

Amor
Vida minha
Por favor!
Não me deixa.

Minha criança renasce do nada
Volta pra mim
Não olho ninguém
Só a ti.

Volta Raphael
Deixa-me te ver mais uma vez
Tocar-te como antes
Beijar-te com ternura.

Eu não consigo curar essa dor
Sete anos a esperar
Um remédio
Para curá-la.

Lembro-me do teu semblante
Da tua pele
Do teu cheiro
E olhar.

Quero me entregar ao mundo
Viver!
Acordar amanhã
Ver você ao meu lado.

Paixão desenfreada
Enterra-me
Pois não agüento mais
Viver e não te ter.

Pollyanna Gomes

Cadernos

Me perdi
Em meio a cadernos velhos.
Fiquei esquecido entre as linhas,
Entre as palavras.
Ácaros e traças são companheiros formidáveis.
Todas as noites,
Na escuridão de todas as noites
A solidão se sobressai,
Fluorescente,
Entre as folhas de minha mágoa.

Philippe Wollney

Conformismo

Já nos conformamos com o real
Nada mais nos dilacera
O cotidiano é apenas mais um passo a ser dado
No meio de tantos outros.

Não estamos mais sós
Fazemos companhia de nós mesmos
Nos comunicamos telepaticamente
Nos abraçamos sem a nossa presença.

O tédio não mais nos assola
Porque criamos uma redoma de cristal
Aonde podemos rir e chorar
Sem nos incomodarmos com o sol.

Sim, somos conformados
De morrer e renascer todos os dias.

Mayra Le Fay

Arte e ofício (II)

Pega o barro da palavra
mistura aos sete sentidos,
rega com água da fonte
de quanto o homem tem sido,
bate e amassa bastante
até ficar dolorido.

Agora está consistente.

Dá-lhe forma gentilmente
como a fazer-lhe um afago.
Nunca esquecerás que és barro
vendo-te assim refletido.

Que cresça o mais só possível.
Satisfeitos seus caprichos,
como à noite segue o dia,
verás nascer a poesia
do fundo do indizível.

Marcelo Arruda

Minha (mente)

A vida percorre caminhos
que escolhi
...................(inconscientemente)

A infância vai
me largando
.......................(inevitavelmente)

A dor grita
mais alto
...................(amargamente)

As palavras
formam meus versos
.....................(eloqüentemente)

Marcelly Vidal