09 julho 2008

(Anti?) – Auto – Retrato

Sou sensível.
Assim como todos são.
Não há medida para isso
Que seja igual para as pessoas.
Dentro disso, gosto de escrever.
Assim como de comer, beber, dormir,
Trepar... tudo isso é vital pra mim.
Sou um poeta bundão.
Um poeta funcionário público.
Escritor de domingos e feriados.
Sou amigo da ordem e da temperança,
Da provisão e da abastança.
Nada é mais importante pra mim
Que o bom juízo dos outros e
Garantir a feira e o leite das crianças.
Não há nisso nenhuma filosofia
Que não o meu prazer pessoal.
E foi tão fácil confessar-me o burguês
Que sempre fui. Não doeu nada.
Hoje transo sem culpa
Os meus baratos burgueses sem buscar
Nenhuma explicação exotérica para isso.
Gostaria de ter nascido na idade média.
Mas como não nasci, não acredito em
Menestréis. (nem mesmo menestréis
Acreditam em menestréis. Mas como viveriam,
Se não fingissem acreditar em si mesmos?)
Acredito em bobos da corte
Que amargam uma existência somente
Tentando provar que não querem
Sentar no trono. Isso é lá
Motivo bastante para se viver?

E no capítulo das contradições
Não sou melhor do que os outros:
Tudo o que chamo ridículo
No fundo quero imitar.
Achando as minhas fraquezas,
Quero mais forte ficar.

Marcelo Arruda

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