29 junho 2008

Farei

Farei
qualquer coisa por você.
Mas, tudo não.

Ademauro Coutinho

Caninha

senti-me pesado
tomei uma caninha...
aliviei meu fardo.

Philippe Wollney

Poema

Com essas míseras palavras
Eu faço um poema
Com esses versos simples
Eu vivo o poema
Com essas pequenas demonstrações
Eu sou o poema...

Pollyanna Gomes

...

Eu não sou poeta
e nem sei fazer rimas
sou apenas um homem
cumprindo a sua sina
eu não sei o verso fácil
nem a palavra difícil
nem construir com a fala
uma farsa ou edifício
não tenho fluência nas letras
nem a certeza do zero
a eloquência dos sábios
só a agudeza dos sinos


Luizinho Duarte

Nem que seja pela última vez...

A sua ausência faz doer todos os meus órgãos
Meu corpo parece querer explodir e minha mente desfalecer
Meu coração já está na laringe.

O tempo é um algoz pior que a morte
Pois pelo menos sabemos que após a morte
Nada mais importa.
E depois do tempo, tudo importa
Tudo sempre importará.

Acho que o pensamentos tentou criar uma felicidade pura
Que se sujou numa lama de diferenças óbvias.

Espero que você volte
Nem que seja pela última vez...

Mayra Le Fay

***

sinto
absinto
abstenho-me de quaisquer radicalismos
ismos
sofismas
cismas
rimas.

o que eu acho?
não importa...
as letras vivem
revivem
eternizam
engravidam as mentes.

Carol Vitall

Gota

O poema é uma gota
que pinga no olho
de quem lê.

Cristina Souza

22 junho 2008

Nessa vida já morri uma porção de vezes pra não morrer uma vez só

As horas passam devagar na noite fria,
Deserta, perdida.
Enquanto possuído de inteligência
O abismo do inferno tragou
O tempo incontinente.
Um silêncio ensurdecedor
Me levou a outra realidade.
Ao avesso do visível e
As portas do umbral estavam abertas
Ligando brutalmente os espíritos sórdidos
A conquistar e seduzir outras almas.
Inutilmente tentei compreender mas,
Inerte o meu sangue parou de circular
E o desejo da morte já não me passava pela cabeça
Ao ver espíritos suicidas recém desencarnados
Sentindo sua auto decomposição.
E demônios transfigurados, inumanos, gritando,
Gemendo de dor, almejando minha alma.
Vi também anjos resgatando almas arrependidas.
Até que voltei pra minha realidade
Onde a noite continua fria, deserta, perdida.
E percebi que nesta vida
Já morri uma porção de vezes
Pra não morrer uma vez só.

Wendell Nascimento

Jornada

Sigo por caminhos marcados,
Imutado por barreiras entre o ser e o pensar.
Siga a correnteza de um rio,
Que deságua sobre o turbilhão de medos camuflados dentro de mim mesmo.
Transito entre mundos opostos, vidas opostas,
Em busca de uma única estrela no meio dessa poeira,
Que queima meus olhos e atordoa meus sentidos.
Sigo com esta lança cravada em meu peito,
Que atravessa o espírito, já morto e nunca revivido.
Sigo repleto de chagas, feridas abertas pelo tempo,
Que não cansam de revirar os segredos que deveriam ser esquecidos.
Sigo por uma estrada de pedras,
Que nunca se bifurca e sempre acaba.
Sigo por entre o vazio,
Onde encontro da imensidão de universos micrométricos.
Sigo por todos os países,
Por todos os solos deletérios que chamam meu nome como a um igual.
Sigo por entre raios de luz,
Que se confundem com a escuridão que me rodeia.
Sigo apenas cambaleando,
Pelos tortuosos segundos que ainda restam nessa interminável canção.
Apenas cantando,
Apenas sorrindo,
Pois sei que quando a noite acabar,
Todos os caminhos serão um só;
E poderei findar meus gritos,
Com alguém que estenderá os braços aos meus.

Thiago Albert

Ausência de Mim

Não... Eu não me vejo no seu sorriso.
Não estou aí, nem qualquer vestígio de mim.
Não há meu vulto, minha lembrança ou qualquer adereço que me deixe fazer parte do seu cenário.
Mas eu estou aqui, e estarei enquanto eu viver.
Estou em você como você está em mim, na mesma medida, na mesma proporção.
Estou isolada dentro de você.
Só pra você, ou para o seu esquecimento.
Você se isolou em mim, só pra mim.
Não tenho você.
E você não me tem.
Somos cercados, e somos tão sós.
Se me engano, então falo apenas por mim.
Cercada e sozinha, sou assim.
Que todos explodam de risos e gozos.
Que todos amem, traiam, finjam, vivam, pousem.
Que algum dia você pouse outra vez em meus braços.

Suely S. Araújo

Cosmos temporal.

Torrente de sol inunda a beira do rio.
Banha tranças de folhas prateadas.

Poeira de lua flutuando nos ares.
Iluminando as ondas dos mares solares.

Flores se abrem num ritual matinal
para doar o néctar dos beija-flores.

A brisa sussurra no carnaval da paisagem,
escondendo o canavial pela miragem
da ilha envolvida pelo cosmos temporal.

Sandro Gonzaga

protesto

jogarei meu celular
no asfalto
da Cde. da Boa Vista:
UM DIA DE ÓCIO
dia de vida
fuga do e-mail
do chefe
do ônibus
do relógio de pulso
quero uma fuga
pra uma grama
cama
lama
ama, até a manhã seguinte de terça-feira.

Carol Vitall

20 junho 2008

Novo Rumo

Pelo tempo que me resta
Palavras suspiro
Nessas águas quentes.

Em mim bate uma calma
Uma tensão de dor
É a morte que está por vir

A cada virada vejo sombras
Uma cruz faz brilhar
Vejo um mundo encantado por ele.

Em um olhar profundo me afogo
Vou-me em paz
Tranqüilo, feliz e só.

Pollyanna Gomes

Poeta nu

Vim aqui hoje mostrar-me poeta nu
Poeta sem moral e educação,
Sem cultura, sem pátria, sem filosofia.
Vim pra mostrar-me só desejo.
O que sempre deveria ter sido,
O que vinte anos de pulsar cardíaco
Pode compreender. – Vim, para ser.

Sem nome.

Não é muito fácil se livrar das coisas
Principalmente aquelas que achamos serem fáceis.
Ser poeta nu para ser verbo, e não pronome.
Para ser terno, e nunca ranço.

Philippe Wollney

Liberdade

Aparece de repente
Quando se vê, chegou
Despudorada e faminta
Sem receio de se mostrar.

Sentada numa pedra
O chama, como feiticeira
Mas não lança um feitiço
E sim uma verdade.

Ela diz: - Vem
E você vai sem perguntar
E então a liberdade o abocanha
O devorando por inteiro.

Mayra Le Fay

A Alberto Campos

As galinhas existem
Como a América – ou o que quer
que seja que chamamos América – existem,
sem que as chamemos, antes de ovo
Invejo-as, mais que a qualquer mendigo,
Só por serem. Só por não serem pessoas
e nem darem por isso.

Afora tudo isso,
Sou americano antes de mim,
Fumo e escrevo versos
Porque há metafísica bastante
Em fumar e escrever versos
Para todos os filhos pilhados
Na solidão do silêncio.

Marcelo Arruda

Daqui vejo um amor antigo

Uma cena rara
Que me surpreende ainda mais
Quando noto que não ilusória
Não é fruto do que
Eu quero me imaginar
É real!
Mesmo disfarçando
Todos olham, todos se derretem
e por um minuto
Esquecem seus destinos.
Tudo torna-se tão perceptível
É como entender que o tempo passa
É como sentir que existe o existir...
[...]
Mãos no rosto notando olhares enrugados.
Mãos nos cabelos grisalhos .
Boca emitindo cochichos privados.
[...]
O vento ritmando e as árvores dançando
Dificuldades ao levantar
E com as mãos enlaçadas
Terminam por caminhar.

Marcelly Vidal

19 junho 2008

A noite

A noite se entregou
A lua, a minha amada
Se entregou a mim
Completamente nua.

Ademauro Coutinho

1984

Há uma forte razão
em ser víbora

pois não há mais lugar
para o cordeiro.

José Torres

Ausência

Ausência, palavra cortante.
Corta a carne e alma amante
Rasga a bolsa das lágrimas
É triste, quando é de pessoas amadas

Ausência, palavra vazia.
Tão repleta de significados
Que por si só se faz poesia
Nos peitos de corações machucados

Ausentes, sempre amados.
Sempre presentes nas lembranças
Nas lembranças dos deixados
Que enfiam no corpo lanças
Mantêm olhos inchados
E o coração em batidas mansas.

Caio Dornelas

HILDEMÁRIO


contribuição do artista plástico Hildemário (Recife-PE), ao Blog do Silêncio Interrompido [observe & absorva]

HILDEMÁRIO

POESIAS GOIENENSES [download]


disponível para download a coletânea virtual de poesias goianeses , o seu conteúdo da coletânea passará a ser postado aqui no blog do Silêncio Interrompido.


Silêncio Interrompido [recomeço]


Junho de 2008, depois de dois anos do primeiro evento (Praça 13 de Maio em Goiana-PE) com alto-falantes, instrumentos precários, muita força de vontade, desejo de provocar e um tesão enorme dos artistas da cidade em gritar e distorcer as ondas sonoras e psíquicas.

Em meio a cabos de guitarras e pedestais de bateria, um grupo de pessoas resolveu levar a poética da cidade aos microfones, imprimi-las em zines.

Esses poetas de corpo e alma jovens tão diferentes de si, com olhares tão díspar, que coletivizá-los seria apenas por motivo de nomenclatura, mas, para quê simplificar? – deixem que se expliquem por si mesmos. Então, Silêncio Interrompido!