12 novembro 2009

ZEFA-DEÃO E O CINE URUBATAN

Foi nas décadas de 70 e 80
No município de Goiana
Vou contar uma estória
Para estes povos bacana
A terra é muito fértil
Mas o povo só planta cana

Existiu ali um ser estranho
Que era uma sensação
Seu nome ficou conhecido
Pois chamavam de ZEFA-DEÃO
Andava sempre falando só
De chapéu, guarda-chuva e um cajado na mão

O cinema era ponto de encontro
De uma geração privilegiada
A violência era pouca
Podia-se andar pelas calçadas
Hoje esta muito diferente
Todos atentos para não serem roubadas

Mas o que eu quero dizer
É lembrar, de ontem, hoje e amanhã
De tanto filme bom
Que assistir na tela do Urubatan
Terminada a primeira secção
Já anunciava o filme de amanhã

As saudades são tantas
Que eu nem gosto de lembrar
Tantas gentes interagindo
E outras querendo sentar
A parte debaixo logo enchia
E logo todos subiam para o primeiro andar

Um detalhe curioso
Era a primeira cadeira do andar direito
Pois ninguém queria sentar
E si tinha o maior respeito
Pois era quase cativa
E quem sentava, tinha que ter peito

Hoje está esclarecido
É se sabe o que é
Mas no tempo passado
Era difícil saber se homem ou mulher
Estou falando do ser
Que era nativo de Condado ou Itambé

Vamos ficar atento na estória
E vocês tenham convicção
Começamos a descrever agora
A vivencia de ZEFA-DEÃO
O bicho era feioso
E parecia um boi tungão

Certa vez um rapaz sem saber
Ficou na cadeira a sentar
Ele veio logo dizendo
Este gostoso, pode se levantar
O cara demorou a sair
Ele quis logo lhe maltratar

Canal 100 apresenta
Todos corriam ligeiro
Para ver parte dos clássicos
Que acontecia em SAMPA E RIO DE JANEIRO
Dos grandes jogadores e craques
Goleiros e artilheiros

A modernidade modifica as coisas
Que não volta já mais
Como a tranqüilidade na ruas
As pessoas transmitindo paz
Hoje está tudo diferente
É o ser humano e voraz

Quem sabe que SPLISH SPLASH?
Não foi dado no Urubatan
E alguém ouvindo aquilo
Não passou copia de manhã
Para espirar a letra da musica
Dos cabeludos cobertos de lã

Uns iam assistir os filmes
Outros iam para sarrar
Aqueles mais comportados
Si diziam namorar
Depois que terminava a comedia
Queriam logo casar

Como todo vivente
Ele tinha sua moradia
Até hoje ninguém sabe
Se era sua casa ou si escondia
Mas também era notado
Quando chegava no buraco da gia

Quando foi conhecer a praia
Foi transportado numa rural
O povo queria saber quem ele é
E ele quase morre no pau
Pois queriam descobrir o sexo
Daquele ser anormal

Então pedindo socorro
Logo veio gente ajudar
Não deu tempo para ver nada
Ele logo ficou a comentar
O negocio nem ta mole nem ta duro
E também não vou mostrar

Ate hoje não se sabe
E ficou a interrogação
Se era macho ou fêmea
Aquela composição
E assim continuo sendo conhecido
Com o nome de ZEFA-DEÃO

Sua ultima moradia
Ficava perto do cabaré
Era pau para todas as obras
Seja para homem ou mulher
Quem quisesse que mexesse com ele
Quando estivesse cheio de mereré


Morava em um lugar conhecido
Que se chamava beco das pedras
O cara era invocado
E só gostava de dinheiro em cedas
E quando pagava com outro tipo
Dizia que não queria aquela merda

Às vezes era engraçado
Quando ficava sentado no banco da praça
Fumando feito uma caipora
Muitas vezes fazendo pirraça
E para chamar os cuidados
Gostava de picolé de cachaça

O prédio ainda existe
É um ponto comercial
Do capitalismo selvagem
Que querem acaba com cultural
Pois daqui algum tempo
Não vai existir nem babau

Quem é que não lembra
Digo mulheres e maridos
Do filme que foi recorde de publico
Que foi Império dos Sentidos
De um amor compulsório
Por nós nunca assistidos

A telona esta difícil no interior
Só existe alguma na capital
Os filmes são piratiados
Mas tudo hoje é quase normal
As leis só existe para os pobres
E quem falar leva pau

O cinema viveu nossas adolescências
E hoje somos cidadão
Das boas lembranças na memória
E também das recordações
O tempo passa e não envelhece
Vamos sempre lembrar de tu, Urubatan e Zefa-deão.

Carlos Antonio Vieira

Um comentário:

fimdafarsa disse...

Caro amigo Carlos,

eu construí uma máquina do tempo que viaja no passado de Goiana, do seu aparecimento aos dias de hoje.

Zefa Deão era um solitário emafrodita e o cinema que ele verdadeiramente frequentava era o Cine Rex, sendo a cadeira cativa dele, a que você citou, só que no Rex. Tenho o desenho de seu aspécto e de outros populares daquele tempo.

O filme recordista na verdade foi "Sobrevivente dos Andes", com uma multidão lotando os dois andares do Urubatã e outra multidão lotando as ruas em volta do cinema todos os dias de sua exibição.

Um abraço.
fernandojn@ig.com.br