17 março 2011

Sono do sol

O sol abre os olhos em flor
Depois duma tempestade de espadas
Que se refugiam e refletem espelhos de mar
Os olhos do fogo abertos dentro da chuva
Ressoa na atmosfera cambiante
O cântico negro dos pássaros despedaçados
Resplandece a noite na aurora banhada em sangue
A multidão decepada
Joga futebol com suas cabeças radiantes
A luz do vento passa pelas frestas encobertas
E um louvor de cigarras no fim de tarde
Traz a gigante onda repleta das virtudes hediondas
Acordado o sol tem mais força
E modifica a órbita dos planetas em fúria
Dos seus olhos surgem lágrimas que inundam o tempo
As cores crescem no limiar da lua ofegante
E os animais dançam com os homens a música da floresta
Mas a hora do crepúsculo se anuncia na estrada
Um cortejo de peixes no rio das folhas azuis
É sinal que o sol está prestes a dormir o sono das eras
As fontes perdem o vigor do céu
As árvores desmancham sem seiva
O oceano seca e racha a terra
O espaço está na rota de colisão com o cárcere profundo
Tudo isso porque o sol fechou os olhos
E dormiu na cratera sem vestígio de luz.


Sandro Gonzaga

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