17 março 2011

Fragmentos de uma Mente de Criança Nada Admirável

Companheiros e Companheiros, enfim foi chegado a grande hora do fim desta viagem nesta nau retirante de horizontes esperançosos que navegou por muitas águas e atracou em ilhas e continentes sem nome.

Nas varias poças que estivemos, achando-o este dito cujo: mar. Pequeno demais. Apesar de sua preguiça sábia espelhada, transparência transitórias de golfinhos, a demasiada realidade existente de Deus sendo de todo um vento só. Tivemos que ser corajosos e catar alguns marujos que estavam ali, figurando-se no cais, esses loucos, divertidos, humanos e humildes, estes que pela dificuldade da vida só tem uma banda da maça na cabeça. Estes que sempre disseram sim e no medo glorificam a talhada frase: estou contigo.

Vocês sabem bem que eu nunca desempenhei bem meu papel de capitão, mas, sempre fui visto por vocês como líder companheiro, louco camarada e de facetas maiores.

Durante o dia cruzado e a noite vazada, alguns que permaneceram insones ao meu lado viram meus dedos dançar no mapa das horas, sempre indo aonde o extinto aventureiro mandasse. Tivemos que brigar muito neste ano, brigar bastante e meus rivais sabem disto, quando lutei com piratas, quando tremi na frente de meus fantasmas, e os marcianos cabeçudos? Tão estranha criatura que nem muito aguentou meus socos. Houve homens carrancudos com cara de mal, mulheres cobras que se apresentavam como musas, sereias que levou um pouco da minha tripulação. Homens são uma merda, como disse Bengala Veia, grande marinheiro, antes de cair nos seios fartos da sereia.

Hoje meus caros, eu não me encanto por mais nada, nem tão pouco hei de procurar as filosofias orientais. Nem as presenças dos índios. Nem santos e demônios. Nem os becos de beiço estreitos, o fundo do copo. Nem a solidão de um abismo. Só dois tipos de homem fazem trajetos dentro da alma sem ajuda alguma: um cego ou um gênio. Eu não sou nenhum dos dois.

Durante os sois que vieram e as luas que me deram as coisas, tive grandes paixões. Isto não poderia deixar de comentar. Ambas me ajudaram em tudo. Cada uma rasgando a seda de meu coração. Ambas me ensinaram o caminho de cada rua de e de cada nova cidade que eu visitava, conquistava e destruía. Uma me ensinou-me a simplicidade de sentar ao chão e ir nas costas das formigas, beber da chuva quando se tem sede, respirar para poder ir com o peito feito um balão, leve, adoçar os pés com grãos de areia, rir e ser verdadeiro apesar da presença da falsa mágica que há em cada vida, não ser tão doido e pestilento, o hospício realmente não me trás boas saudades. A outra me mostrou a sabedoria escondida em mim, a arte de amar, a poesia mútua e profana, a filosofia de conhecer meu reflexo partilhada em cacos de cem mil cristais, me ensinou quão forte posso ser, quão fraco posso ficar, me ensinou a ser cronista quando se dá de cara na parede, a saber enfrentar os vilões mais altos e fortes do que eu, me ensinou que uma vela acesa e algumas notas não é filme dos anos trinta mas a meninice de pular muros e vê-la nua tomando banho, ter os pés como raízes no chão e buscando sempre os frutos e pássaros para me habitar.Ter realmente o que dar e saber construir algo a mais além de barcos que afundam com a primeira bala de canhão. Amei todas as duas da mesma forma que um agricultor ama a sua terra. Mas a última em especial. Carrego-lhe sempre mais minhas palavras tombadas como um edifício resistindo ao seu tempo. A primeira teve meu relógio última teve as frações dos meus ponteiros.

Lembro-me agora após descrever minhas duas paixões, o renascer de uma luz. Que muitos comentam que é loucura minha, mas, é uma luz que entra na taberna pela noite sempre quando meus pensamentos caem na lama e o escuro lambe as velas acessas. O preto consome por completo tudo aquilo que se entrega, eu nem sempre resisto, mas, ela, a luz, tímida vem até mim e abre um sorriso. A esta nova. Não posso dizer amor que isso são para os corpos tardios pela falta de banho tem o grude um do outro, mas, a pureza da coisa, tem o trajeto suficiente de chegar na alma do outro. Atravessar a ponte e acender as luzes, enriquecer o campo com verdes vaga-lumes, trazer no perfume um raro mar. É a esta moça coberta de sol que agora estou sempre a buscar.

Ao fundo a tempestade certo dia derrubou uma frota vindo atrás da gente. Temos sorte. Nas guerras que duraram demais, parecia que não haveria mais amanhecer. Nestas profanas provocações da vida, todos nós perdemos alguns, a estes, que se foram corajosamente, fica uma fotografia guardada no meu criado mudo. Amigas conselheiras, que nos viram sujos, distanciaram-se, tiveram lá suas razões já que nem toda rua passa pela nossa casa. Sei que decepcionamos muita gente. Recebemos tomates na cara, fui acusado de falso herói e por algumas vezes passei dias na prisão. Felizmente. Vocês não passaram comigo. Tem lá suas próprias prisões. Comendo os dedos, não enxergado, bebendo as horas e dormindo no lado aonde a luz não alcança. Mas minha fuga foi mencionada em vários poemas homéricos e por muitas cidades, orgulhando há um pequeno público.

Juntos abençoada tripulação: Choramos, rimos, gritamos, amamos, amamos, amamos, fizemos, esquecemos, começamos, terminamos, bebemos demais, dormimos em camas macias, camas duras, lençóis das ruas , fomos sábios, mágicos, malandros e malandras, vilões e vilã, herói e heroína, covardes, revolucionários e revolucionarias e idiotas demais. Hoje reconheço todos familiares que há em mim, vocês fazem parte disto em formato de anjos e outro milagres. Durante nossa passagem por estes lugares também perdoamos, perdoamos e também não nos esquecemos. Foram uma porrada de coisas Né?

Agora caros companheiros e companheiras, eu agora, vos deixo, em seus devidos lugares. Não se preocupe comigo, repartimos este tesouro de estarmos vivos e juntos, igual por igual, o que foi meu eu dei a quem precisou e hoje o gasta da melhor forma. Não Preciso de muito. Apenas do que posso carregar na bolsa e nos bolsos. Chegamos, meus queridos, ao que considero ser o fim da paisagem. Desçam, vão, vão encontrar seus familiares, seus cães e gatos, suas garrafas de rum e vodca, deixa-me, sozinho neste navio. Com os cadernos cheios de planos de fuga e mapas, os alçapões cobertos de bugigangas, algumas garrafas de água e vinho vazios e uns punhados de arroz, oito ou cinco moedas de prata e ouro e um papagaio que voou quando eu o esqueci. Deixa-me velho velejar e novo seguir.

O sol vai perdendo força e sonolento, cai leve num lugar inalcançável, além do mar. A lua fria melancia, estrelas parecem brincos na orelha da preta noite, uma brisa gelada, sei que meus olhos vão avistar um novo lugar, sinto que meu senso solitário diz que estou prestes a chegar há algum lugar. Quem sabe eu atraque, sinta uma nova terra, quebre os remos, furo as velas, arrombo o fundo do navio e o verei naufragar, respirarei sua morte doce tragada por águas de piso raso e mole, darei as costas pro que foi e o que ficou. Chamar esse novo lugar quando eu chegar de - meu lar.

Não esqueçam companheiros e companheiras, nós nos veremos por ai, na verdade estamos sempre a ir? No momento não dá para ficar. Mas nem por isso, não parem a música, não apartem as brigas, não parem o gole de uma nova bebida, nem interrompam os atos de sexo, não aplauda antes de qualquer poema terminar. É uma forma de eu dizer que vou estar aonde todos vocês lembrar de mim.

Como disse caros companheiros e companheiras a viagem foi longa mais conseguimos atravessar todo esse tempo chamado: MAR.

Então vos desejo um: Brinde, abraços, beijos, apertos de mãos, acenos e ponta-pés. E bem vindos a sua nova terra e novo mar.

Do jovem-velho: Aldemir Suku.

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