18 junho 2011

Indecisão

a)

Se os meus olhos dizer pudessem que eu te quero,
Certamente diriam o que minha língua,
Não podendo dizer o que propriamente não pode:
– teme e se repele de dizer.

E fato é que não o posso agora dizer
Por não me sentir apto a tal intento;
Embora mal me esforce eu – com tanto talento,

Não basta muito o esforço meu,
Pois pesada como a minha língua ‘stá – nesse momento,
por demais que eu tente e me esforce mais – não sai do lugar.

Ora, se a língua parte é do corpo meu e posso, com efeito,
O que penso “aos que a podem ouvir” clamar:
o que impede de bem longe ir dizendo, senão por palavras,
– o que eu desejo tanto: que é te amar?

Pois o caldo do seu beijo nunca eu esqueci...
Nem dos dias de abraço onde o calor se movia
Nas profundezas dos nossos pedaços.

Pois de tudo aquilo que eu mais senti
Era ser eterno o beijo que a nós nutria
Era ser perfeito e fraterno o calor dos nossos abraços...

E como eu penso em círculos, oh meu Deus!
Como um cão a correr atrás do seu próprio rabo
– não sei se eu percebo errado:
Mas do lugar, penso eu, que também não saio.

Indecisão – coisa grave, séria:
se eu disser donde provém, minto eu.
Ignoro tudo, pois nada disso, contudo, escolhi eu!

Ter assim a vida atada à força por um Deus que eu mal conheci?
O seu nome distante permanece de mim,
Como tudo aquilo que eu não vivendo: eu não vivi.

Pulsa e bate como um trovão todo o coração meu.
Já se ouve chuva! Já se vê o sol!
Pois assim o é que cada um sente, dentro-de-si, tudo o que é – emoção seu.
Quero agora a chuva dessa sombria tarde. Quero também: o seu Arrebol.

b)

Quando chora, vê na lágrima o espelho do seu rosto:
– a própria compaixão.
E dor também na lágrima e comoção há e existe tanta,
Quando saudade sente dentro-de-si também batendo...

Como alguém que a esperança perdendo
Apenas lamenta não ter podido “ir atrás uma única vez”...
pra ver se acerta aquilo que o Destino lhe pôs como Lei Excelsa;
para ser testado “uma segunda vez”.

Descobre, e nisso se frustra, resumo:
“o Destino, em sua sacola nos leva a todos;
não tem parada: não volta atrás”.

Descobre, e nisso se abisma, eu vos digo:
“o Destino, em sua infinda caminhada,
Para onde vai, senão, encontrar a Morte?
O Destino à Morte ama.
Um e Outro ao lado da Vida mesma!
– o que somos nós, senão, Destino?”.

Mas houve dias em que “o homem que eu sou” acordou entusiasmado...
Com língua-poética e pose de Apolo:
– acreditou o Passado corrigir e lá voltar;
Para tudo ter como pensaria o seu melhor proveito – Egoísta!

Um perfeito amor viver!
De qualquer modo nisso almejava feliz ser.

Mas tudo se lhe revirou a cabeça de ponta a baixo;
Fugiu-se o seu controle.
Para onde foi não se sabe aonde
E em vão sua mão tentou abarcar a água – o seu arrependimento.

E cada lembrança reviveu dentro-de-si
Como se não quisesse abrir os olhos;
No interior de sua alma, como se não quisesse acordado ser:
– duro e estatelado permaneceu.

E embora sua mãe o notasse daquele modo angustiado,
Nada fazer podia senão calar-se...
Para conter-se o seu soluço:
– apaziguar o suspirar.

Nada fazer podia senão esperar
Para que o Tempo (a mãe mais velha do Mundo)
O pudesse curar:
– o seu coração rachado.

Henrique de Shivas Gr.

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