12 junho 2012

RECITAL -- S.I



Vamos que vamos levando um poeminha, fazer aquela fita pra boyzinha e... salvem-se quem puder.
Homenageado da noite: o Poeta Glauco Mattoso.

#4 MANIFESTO COPROFÁGICO [1977]

 "Mierda que te quiero mierda" (García LOCA)
   
                             a merda na latrina
                         daquele bar da esquina
                           tem cheiro de batina
                                      de botina
                                      de rotina
                   de oficina gasolina sabatina
                                   e serpentina

                             bosta com vitamina
                               cocô com cocaína
                   merda de mordomia de propina
                      de hemorróida e purpurina

                            merda de gente fina
                     da rua francisca miquelina
                             da vila leopoldina
                  de teresina de santa catarina
                                 e da argentina

    merda comunitária cosmopolita e clandestina
         merda métrica palindrômica alexandrina

                   ó merda com teu mar de urina
                       com teu céu de fedentina
tu és meu continente terra fecunda onde germina
         minha independência minha indisciplina

               és avessa foste cagada da vagina
                              da américa latina

NOTA: Publicado originalmente no "Jornal Dobrabil" e incluído em
"Memórias de um pueteiro", tem sido freqüentemente reproduzido, dentro e
fora do país: aparece na revista "Escrita" (1980), na coleção "Remate de
Males" da UNICAMP (1981), num dossiê da revista argentina "Grumo"
intitulado "Literaturas abjetas" (2003); é objeto de análise na tese de
Steven Butterman "Brazilian literature of transgression and postmodern
anti-aesthetics in Glauco Mattoso" (2000); foi antologiado por Augusto
Massi em "Artes e ofícios da poesia" (1991) e por Claudio Daniel &
Frederico Barbosa em "Na virada do século" (2002); além da inclusão em
"Poesia digesta: 1974-2004", foi gravado em áudio pelo próprio GM,
produzido por Cid Campos e Walter Silveira. Nas palavras do autor, "A
repercussão começou quando o defendi no VI Concurso de Poesia FALADA da
revista ESCRITA, em 1979. Declamando em tom solene e patriótico,
abiscoitei o prêmio, sob protesto dos outros concorrentes, que me
achavam merecedor dum pinico como troféu. Posteriormente [...] o poema
correu mundo, entrou no script duma peça universitária na Paraíba
(chamada 'Soy loco por ti latrina') e acabou abrilhantando uma
mesa-redonda de poetas na UNICAMP (chamada 'Rebate de Pares'), o que
corrobora a frase que assinei como García Loca: 'Un poema debe ser como
la mierda, que es un mundo y parece un diamante.'".

fonte: http://glaucomattoso.sites.uol.com.br/marginais.htm

Nenhum comentário: