15 agosto 2011

VIA SATÉLITE II

Nas folhas acesas dos jornais

Cintilam fatos, fotos, notícias.

Em frases que choram e sangram,

As manchetes nos mancham de tristeza e revolta.

Nem tudo são flores, neste mundo

Mas há dor demais na carne exposta

À fome, à bala, à sêde, ao desprezo.

Chorem Europas e Américas

E seu pranto será pouco para fecundar

Tantas Áfricas e Bósnias, Iraques e Haitis

Onde viver virou escárnio e a guerra endureceu os homens

Mas a culpa está no ouro, cintilante, reluzente;

No poder arrogante, de uma ambição demente

Que transforma gente em fera que extermina gente.

O som dos obuses substituiu a sirene das fábricas

E os gritos de pavor; o riso das crianças,

Estraçalhadas e nuas.

Da tela da TV o sangue escorre

E as imagens são úlceras provocadas à ferro e fogo

Por uma ganância impiedosa e corrosiva.

Que ardam os mandantes e mandamentos

Dessa guerra infame e dessa fome insana!

Basta de braços, pernas, cabeças, sonhos, decapitados!

No meio do fogo cruzado uma criança chora

Enquanto uma mãe jaz, moribunda

Em meio aos escombros e destroços

E tudo não passa de notícia.

Enquanto assistimos, passivos,

Às cenas dantescas de vergonha e morte

Em que o homem vira fera,

Nesse circo de horrores,

Transmitido VIA SATÉLITE.

Paulo dos Anjos,
poema retirado de CRÔNICAS D'ALÉM-MAR

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