21 fevereiro 2011

NEIM.

Chorar por um filho que ainda não nasceu. Tão pouco pelo dia que ele não morreu. Visitar um quarto que era bom. Pelo tentar esquecer, as aranhas invadiram os cantos das paredes onde fizemos juras, lá por ter tanto espaço em nossa relação, fizeram assim suas habitações. A vista plana que hoje é: favelas de lã.

Tomar um porre por um filho que poderia ser meu, pedir ao açougueiro uma caneca de sangue de minha geração. Alisar uma toquinha branca vazia de idéia, por o sol em seus olhos para que possa, apesar de eu ser de trevas, encandearem-me, risonhas luzes.

Rezar por este que poderia ser eu. Sentar no milho das lendas de nossas mães. Ver Cristo de mexendo e ter vontade de tirar ele do favor que nos fez na cruz. Ter nas madrugadas a visita de um choro. Seria melhor que terem notícia desta bala. Nem sei pra quê: tanto agouro.

Chorar por algo que ainda nem se sabe se vai ou não nascer. Ter fé no milagre que duvidamos se o curandeiro curou. Apostar nos cavalos que nem pernas têm. Esperar na porta o corpo maltratado de meu amor. Imaginar um berço que no escuro o breu chorou. Alisar a cabeça vazia de um neném que a mãe de mim matou.

Aldemir Suku

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