No embalo do côco o Tôco
Tropeçou em Aluisio
Num Rojão que, sem aviso
Pipocou na noite afora,
Meu verso afoito e preciso.
Afoito e fora de hora
Meu verso de rima à pique
Foi fazer um piquenique
Pras bandas da Impoeira,
Com fome e poucas maneiras
Danou-se a comer poeira.
Baldo do Rio baldeado
Sêco rio, sêco roçado,
Ninfa do peito arriado
Sem macho que dela cuide
Se as barbas de um tal Luiz
Que nunca ficam de molho
Me juram sinceridade,
Quero ver quem aposta um olho
E se arrisca a ficar zarolho
Se isso tudo não é verdade
Um tal Rosildo cantando
Trepado numa Oliveira
É a prova mais certeira
Dessa terra de milagres
Dessa usina de doidos
Dessa fábrica de malucos
Confusões de mamelucos
Cafusos mandando brasa.
Confissões dentro de casa
Festa doida nas campinas
Maracatús, catarinas
Catarinetas, nausvios
Pianos de cauda curta
Meninas de saia justa
Só não gosta quem não vê,
Só não gostou quem não ouviu.
O fogo queima o pavio,
O pinto pia seu piu
O sol trespassa a vidraça,
Vassoura varre na praça
Tanta esperança no cio.
Espera de cem mil anos
Que a história mude de rumo
Que o que está torto se aprume
Que o feio fique bonito.
Vou teimando que acredito
Suscito em minha embolada
Que isso tudo um dia mude
E continuo na estrada
Sonhando como um menino,
Correndo ao encontro do tempo
Quebrando sina, destino;
Maldição de homens malinos
Que há tanto enganam a gente.
Boa terra, má semente
Cenário de mil porquês
De esperanças sem respostas
Tantas dores sobrepostas,
Tantos anos de talvez.
Às vezes desencantando
Cantando e expondo o que sei
Na esperança esperançando
Com teimosia de rês.
Mas quando desanimado,
Indignado, arretado
Com os rios de sordidez
Sintetizo minha revolta
Com uma palavra concisa
Que em minha terra é a mais precisa,
Serve ao servo e serve ao rei
E, antes de perder o senso
Mais vale perder o siso
Berro sem preciosismo:
VAREI!
Paulo dos Anjos
Nenhum comentário:
Postar um comentário