06 novembro 2011

calei


                                              "quem nunca rasgou o coração"
Vinícius de Morais


 e, calei-me.
auto-exílio nos confins de mim mesmo. talvez, há tempos, vinha me atrofiando. em silêncio. mal dos cancerianos, seres alérgicos das intempéries, e sua estúpida ilusão na carapaça. agora, o sapo engolido, está maior que antes, não passa pela garganta, e embutido, incha em meu peio. coaxa no ritmo de minha dor.

calei-me.
simultaneamente fui o coveiro e o cadáver. a sete palmos cuidando do jardim. consoante ao silêncio dos vermes quando se cansam da carne acre. enfadado, como um suicida, de explicar o que não há sentido, assim, melhor fiz, cimentando a saída.

calei-me.
os ouvidos, aborrecidos. a minha ladainha, de recitar apenas as miudezas que me motivam. e lhe enjoa e lhe maltrata.

então, decidido, calei.
por respeito à minhas palavras.

P.W

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