22 maio 2009

LINHAS TORTAS

Psicológico distorcido
Cores em fusão de algum
Contraste.

Mãos trêmulas, não consigo
contorná-las, saem linhas
tortas... Há um domínio
De alguma loucura sobre
Em mim.

Quando escrevo saem
linhas tortas.
O psicológico não é o
Mesmo, as cores não
são mais as mesmas foram
Espalhadas.

Vivendo no hospício
Em algum glamour
De uma sinfonia
Erudita.

As artes tendem os
Sentimentos iguais, e,
Encurva-se em linhas tortas.

Ademauro Coutinho

...DE TI.

Nas horas desta noite,
Horas já passadas,
De conseqüência bastante presente,
Teimo em não viver a verdade.

Continuarei de olhos fechados,
Para não me ferir a vista,
Mesmo que me mate,
Teimo em não ver a verdade.

Até se as lembranças sensíveis
Dos teus afagos distantes
Apagarem,
Teimo em não sentir a verdade.

Mas se pode falar,
Reponde-me!
Porque eu só preciso ouvir de ti,
A verdade.

Vidal de Souza

UM CAMINHO.

Tive todas as chances de me despedir
E em todas elas aproveitei ao máximo.
Tive todos os últimos beijos que tinha direito
E todos beijei como se fosse o último.
Com os abraços e carícias não foi diferente
Tudo aproveitado com o maior dos amores.
Agora estou aqui, sem mais direito algum.
A não ser o de te dizer quantas vezes puder.
Que os nossos caminhos são um só.

Caio Dornelas

TEMPO?

EU VI AS VÍSCERAS VERDES DOS SAPOS SALTAREM (ao sapo que teve que engolir todos os sapos que nos impôs)

Havia um sapo no meio do caminho.
No meu caminho havia um sapo.
O sapo era grande, gordo e feio.
Era bigodudo e tinha um enorme papo.

Ninguém por ali passava
Pois o petulante sapo não deixava.
Ele era o dono do caminho.
Mas que sapo mesquinho!

De longe, um zumbido de motor...
E por cima do sapo, passou um trator.

Criz Souza

NÃO HÁ

Não há quem vista essa camisa
Não há quem compre essa briga
Não há quem resista a esta intriga
Não há quem coma desta comida
Não há quem rasgue esta fibra
Não há quem dilacere o coração
Não há quem sane esta ferida
Não há quem beba desta bebida
Não há quem mate esta formiga
Não há quem cace a saída
Não há quem viva esta vida

por mim.

José Torres (Verso Avesso/1987)

VIDA

Verde mar
Luz do sol
Teu olhar fascina

Nova cor
Outro ar
O mundo que gira

Tá ventando
Vai chover
Vida

Luziano Jardim

Soluço

Ouço zumbido das construções privadas
Marretadas e urbanização.
São pedras ou baratas que haverá de ser?
Estou cansado em fazer ligação-direta
Das fotos do álbum bordado no tecido muscular.

Minha televisão em curto-circuito pelas enchentes do país
Melodia como droga para me consolar.
Quando recito existe em meus olhos a fúria
Macaqueada dos lupinos
Bocejando sai atrás da caça dando saudações à lua.
Retrospectiva em segundos
A gargalhada de disparos do uso exclusivo da milícia
Em universitários de Direito.
Justiça?

Eu apelo pra ti meu Deus.

Macro

GOIANA (RE) VISITADA II

A empregadinha do comércio
E a filha da bancária desquitada
Pensam que são inimigas.
Freqüentam a escola noturna
Só pra poderem sair de casa

E pegaram o mesmo colega
(que é um gato, tem um carro esporte
Vermelho e quer comer as duas
E casar com a filha do diácono
Da igreja e, talvez, tocar
Guitarra no conjunto
“Embaixadores de Sião).

Às portas do terceiro milênio,
Ainda se morre de tédio,
Lá ou um Itabira.
Só mesmo um verso bom
A voz de um anjo gouche
Faz toda a diferença!

Marcelo Arruda

JOGO DE AZAR

É como se fôssemos peças
No sórdido jogo do destino
A muitos manuseia com fascínio
A outros lanças, e então desprezas

Joguetes parvos à própria sorte
Que não sabem o rumo a tomar
E se o triunfo não alcançar
Desde já conquistaram a triunfante morte

E depois dos obstáculos a atravessar
Se como conseqüência, talvez chegar
Ao fim do jogo irá encontrar

A custo, uma infâmia e tola ilusão
Dos que conseguiram chegar em vão
Pois, apenas ganharam a própria destruição

Mayra Le Fay

VERSAS EM MIM

Fizeste retornar as rimas
Como flores anunciando primavera
Deixas mais leve esse cretino poeta.
Versar lágrimas e risos é sua sina.

olhar-baixo-tímido-claro-avisa
o quanto sou entendido como verdadeiro.
Abraça-beija-suspira-cheira-deseja
Que seja entrega e pela janela vá o receio.

Philippe Wollney

GUERRA DOS POETAS

Ver e entender os quadros
Eu quero mesmo é escrever.
Apenas olhar para as pessoas; não!
Quero entendê-las.

Ouvir canções inacabadas;
só se forem minhas.
Observar as coisas em minha volta;
viver além delas.

Escrever apenas poesias de escárnio;
eu quero é romance.
Escrever piadas?
Não quero rir.

Saudade envolve poesias, não!
As poesias que me envolvem,
mas que pena,
elas são só para mim.

Pollyanna Gomes

LUGAR PERFEITO.

Advento da vida.
Advir em águas claras
sustentando meu mundo
no sentido da grande órbita.

Mas o adverso destino
me coloca pelo avesso
numa rede de desatino
que dissolve-me na correnteza da falta.
Olha pra mim com sorrir desdentado,
percebendo a barreira intransponível a se erguer.

Sou movido pelo desejo insaciável
de tê-la contida num sonho,
do qual espero nunca acordar.

Vem, com tua presença fulgurante,
para planarmos sobre paisagens desérticas,
inundando-as com mares encantados.

Vem, despertando as coisas mais sublimes,
para aquecer meu corpo glacial
que não encontra em nenhum cobertor
a paz resplandecente da tua chegada.

Vem, amanhece esta noite que não passa,
deixando meus passos sem distância.

Vem, quero as palavras do teu coração,
quero o silêncio da tua mão
a me levar para onde nunca sei.
Só sei que é sempre o lugar perfeito.

Sandro Gonzaga

POÉTICA URBANA I

Uns escrevem em devoção à lua,
outros, para a plenitude do amor da noite passada.
Do coletivo lotado, eu apenas me calo.

Thiago Albert

SACRIFÍCIO

Toda luz produz sombra
e eu não consigo entender
os súbitos de meu coração,
que parece estar dividido,
dominado por um delírio.
Um infinito delírio momentâneo.

Toda sombra se desfaz na luz
e só agora consigo pensar
nas horas que perdi não
perdendo absolutamente nada.

Talvez esse seja o momento
de me entregar ao que eu não vejo
porque a vida inteira é um encanto desconhecido.

Wendell Nascimento