28 fevereiro 2011

J.C. Oliveira - re-traços

José César Oliveira
O mar negro
caneta esferográfica e papel [25cmx17cm]

José César Oliveira
JulianaMatias
caneta esferográfica e papel [25cmx17cm]



José César Oliveira
Dança das cores
caneta esferográfica e papel [25cmx17cm]


J.C. Oliveira é estudantes de matemática e artista plástico da cidade de Goiana.

Novas Imagens-Coisas








Novas imagen
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vago, tensão e
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etos vãos.
P.W

todas as imagens são de Vidal de Sousa [bicho coisa design]

O meu eu

O meu eu é como e como um Zeus
que bêbado se perdeu
Sem saber o que era seu
Nem ao menos que era um Deus.
É como uma peça esquecida num museu
Ou uma cor desanimada que o tempo esmaeceu.
Mas como um mendigo que o mundo esqueceu
E que nunca despreza o pouco que alguém lhe deu
levo nas costas o peso do meu eu
Como um soldado que não abandona um companheiro seu
Tentando reanimar aquele que já morreu.

André Philipe

Minha última noite

Oh Amável vida!
Que a cada momento me consome,
Brindo tudo em teu nome
Celebrando minha partida.
Ansioso, cobiço meu apogeu
Cheio de nada e de tudo
Como a palavra proferida por um mudo
Por já não ter mais o que é meu.
Sei que o meu destino é merecido
Como o do livro que nunca foi lido.
E com a certeza de que nada irá me visitar
Eu confesso! Irei para o nada que existe em todo lugar.

André Philipe

O mesmo poeta de sempre

Assim tinha pensado
Estar entrando numa nova fase poética,
Deixei a porta aberta,
Rosa saiu pra comprar cigarros.
Nem lápis,
Nem o papel,
Nem rosas colaboraram,
Esperei tanto que dormi.

Geisiara Lima
Timbaúba, Janeiro de 2011

1º prostituta

Dezembro tem 13º
Mês bom!
Já posso sentir o batom vermelho,
Sombra azul nos olhos,
Colônia barata de jasmim
Roupa de baixo de renda.
Por tantos passou o meu amor,
Ainda sim sinto-me iniciante,
ofegante,
suor escorrendo nas costas,
penetração arrogante.
Sorte de dezembro!
Não depende de mim te procurar,
Fico querendo!
Se o lula fizer o que tá prometendo
Aprovar um novo aumento
Pode se preparar!

Geisiara Lima
Timbaúba, Janeiro de 2011

Circuito do frio

1.
E nos abraçamos fortemente
Enlaçamos nossas pernas
Apertamos nossos corpos contra o outro
E aceitamos que neste país quente
Há aqueles que morrem de frio.

2.
E não há cachecol
Que me proteja
Da frieza de teus beijos

3.
Nesta cidade fria
Só tomando café quente
E colocando em banho Maria
O meu coração

4.
Apesar de tanto agasalho
Há algo de glacial
Dentro de mim

5.
O frio sobe a ladeira
Igual a troça carnavalesca
Chutando jornais de ontem
E vê-se lá todos fantasiados.
Não sei os nomes.

A frieza passa na ladeira
Invadindo quartos, perfurando lençóis
Atrapalhando quem faz da calçada única cama.

O frio, a ladeira e brincadeiras
E aqueles do lado de fora
Continuam em profundeza feroz.

P.W.
Garanhuns, Julho de 2009

EM MIM MESMO

O que eu vejo não ilumina nada nem os meus próprios passos,
As minhas loucuras nem sempre me satisfaz,
O meu medo talvez não tenha um discurso por trás,
A minha beleza talvez não seja interior nem exterior,
A minha face não demonstra o que sinto,
A minha ignorância nem sempre eu ignoro,
As vezes eu me separo do meu apego para enfrentar o meu próprio EU.

R.R

PARECE GUERRA CIVIL

Precisamos de solução.
Será que estamos em guerra civil e ninguém se deu conta
que o caos tomou conta da situação?
As escolas estão fechadas
E as crianças estão nas ruas com armas nas mãos
O governo está desgovernado
Mas, eles estão felizes.
Pois, continuam ganhando altos salários em meio a este turbilhão
A policia está dos dois lados.
Ninguém mais sabe quem é o mocinho ou o ladrão,
Bandido ou cidadão.
Precisamos de uma solução.
Estamos cansados dessa situação.
Quantos filhos teremos que perder nessa guerra civil?
Quantas crianças mais perderão o brio?
Estamos amotinados em nossas próprias casas, fingindo estar
Tudo bem assistindo televisão.
A verdade é que queremos mudar de canal,
Queremos ter o controle remoto em nossas mãos.
Chega de enlatados, embutidos.
Queremos fazer a nossa própria programação.
Não podemos sair de casa
Parece que estamos em guerra civil,
Ninguém está seguro.
Parece que estamos mesmo em guerra civil,
Ouçam os tiros, vejam os mortos.

Wendell Nascimento

EU, VOCÊ E O RECIFE

Em meio ao seu louco desejo de se afastar de mim
Eu estarei entre as pontes do Recife ou a Avenida Conde da Boa Vista
Que agora moram em meus versos
Eu estarei lá sonhando com dias melhores.
Em meio ao desespero e ao caos da capital que felizmente não consigo ver
Eu estarei no sereno da Aurora, fitando o Capibaribe.
Em meio as justas e perfeitas cobranças que acabam por tornar a vida menor
Eu não me abandonarei na Rua da Saudade.

Wendell Nascimento

DISFORME

Ruas, frases, nuvens, flores e motocicletas chovendo
Sem porque sem pra onde.
Automóveis, televisores, retroescavadeiras, hotéis,
e borboletas, camisas, grilos, ervas e trovões chorando em negrito sem noção, sem motivos.
Sapatos, controle remoto, azulejos, cadeira de rodas, luzes,
canetas, navios, creme dental, tudo, todos escrevendo livros
que falam das ciências do mundo.
Mapas, bussolas, radares, satélites, estrelas, pontos cardeais,
todos embriagados, confusos.
E é assim que eu vejo as coisas se estou sem você ."Disforme"

Wendell Nascimento

$audade$ do Amor

Entregue a casa
jogue as coisas fora
ponha os móveis à venda.
Esnobe tudo que vivemos
encontre algum lugar fora de você
onde eu não possa ir e vá na esperança
de se tornar uma pessoa melhor sem mim.
Esqueça esse amor crônico, financeiramente
felicidade não tem nada haver com isso
pois sabemos o que pode nos matar e dinheiro
tem muito haver com isso.
Queime as fotografias
não ouça as canções que cantamos juntos,
porque financeiramente isso é uma grande bobagem.
Entregue a casa
e eu farei outras canções e nelas o dinheiro
não terá nada haver com isso
pois o amor jamais ficará em segundo plano.
Está bem!
Jogue tudo fora
arranque de dentro de você a alma e a jogue fora
se por ventura ela se sentir vazia sem mim.
Afinal de contas as contas ainda não foram pagas,
então esnobe tudo que vivemos e privatize nossa história.

Wendell Nascimento

Aos loucos da "RUA do HOSPÍCIO"

Rua do Hospício
Rua da Matriz
Rua Manoel Borba
Rua do Aragão
Aqui não enlouquecemos com pouco
E por fim tudo acaba no começo do dia com uma boa canção.
Rua Nova,
Sete de Setembro, Conceição.
E se bem me lembro antes que eu vire a noite de um gole só o plano hoje é que nada será em vão.

Wendell Nascimento

24 fevereiro 2011

n° 5 Poesia Itinerante

Baixe o N°5 do POESIA ITINERANTE - o jornal dos poetas timbaubenses. clique aqui

POETAS DESTA EDIÇÃO:
Maurício Manoel - Timbaúba
Geisiara Lima - Itambé
Teresinha (TECA) - Garanhuns
Fabio Rocha - Rio de Janeiro
Osmar Braz - Timbaúba
Júlio Melo - Timbaúba
Certezas de Mário Quintana

CONTATOS:
Participe você também mandando sua
Poesia para edição no POESIA ITINERANTE
o Jornal dos Poetas Timbaubenses.

Peça o POESIA ITINERANTE por e-mail:
(edição do mês, nº atrasados)
poetamauricio@yahoo.com.br
MSN: djmourrice@hotmail.com

RESPONSÁVEL:
MAURÍCIO MANOEL DE LIMA
Rua São Sebastião nº 58 - Santa Terezinha
Timbaúba - PE | Fone: (81) 9655-3287.

Linguagem das flores

Esqueci a porta aberta,

quando saíste
sem olhar por mais um segundo que fosse,

desfiei o cordão de hera ainda verde
por cima da túlipa negra,

adormecida
no pavimento frio da entrada.


(O Transversal -Ricardo Pocinho)

Alquimia

Transformando

sol em ouro,
alquimia de Apolo exuberante,

o mais de profundo
na terra escondido

reflete toda esta alegria

em mim,
de ti.

(O Transversal -Ricardo Pocinho)

Limbo

Hoje,
quando beber a última taça

deste desejo sem esperança,

a chicotada na alma,
ecoará,

incessantemente.

(O Transversal -Ricardo Pocinho)

Uma troca de ideia com a artista plástica Luccy Lopes

Desde pequena que eu desenho só que fui me afastando, outras coisas foram surgindo como praticar esporte e tal, desviou a história e parei de desenhar. De um tempo pra cá vim sacando os desenhos de uma galera que já desenha e veio a vontade de desenhar de novo.
Desenhar porque é bom. Arte de toda forma é boa. É o que estou me concentrando, tendo paciência pra fazer de boa, tranquila, sem muito estresse. Eu não tenho tanta paciência para estudar, tanto quanto para desenhar. Desenho o que vem na cabeça, muitas vezes pego a ideia da galera e transformo em uma leitura própria.

Esses que tem figura de mulher, sexualidade, rostos, foram um documentário que eu vi sobre um artista plástico chamado Moacir, esquizofrênico, e vivia da arte. Quando sentava ele pintava as parada, casa, chão, teto, todo canto. A casa dele por fora tinha várias pinturas, geralmente homens nus, mulheres nuas e figuras de diabo, ele morava no interior de Minas, aí a sociedade botava pra lascar. Aí viajei na estória dele e comecei a desenhar umas paradas parecidas. Gosto também de desenhar os elementos da natureza, árvore, paisagem.

Eu acho que o tema vem de acordo com a fase, eu não tenho um tema determinado nem um modo de desenhar determinado, desenho o que sai na hora. Eu também não desenho quando uma pessoa fica: "desenha um negócio aí pra mim". -Desenho não! Minha irmã está há 2 meses me cobrando um desenho para meu sobrinho e eu não faço porque ela me cobra. Nada do que a galera me cobra faço, não é só com desenho, é com tudo, com desenho principalmente, pois eu acho que tem que surgir a ideia, estar pronta, quando se começa alguma coisa com uma ideia sem está pronta... às vezes ela se transforma mas, durante o processo.

Tem dia que eu desenho três, tem dia que é um só, tem dia que eu passo o dia inteiro no desenho, aquele do gato eu passei três dias, eu parava quando acabava a ideia, a viajem, aí eu dizia deixa como tá, quando voltava (a ideia, a viajem) que eu continuava. Não tem uma regra pra dizer que é esse tipo de desenho, desenho o que rola.

Tem uma parada meio que natural acontecendo com a pintura aqui na cidade, o estímulo das poucas pessoas/artistas que chegam e dizem: DESENHEI ISSO AQUI! Gente que tá perto já vai sacar e querer desenhar também. É uma coisa natural o que está acontecendo em Goiana, esse despertar para o desenho, para arte em geral e com certeza isso é influência do movimento Silêncio Interrompido, dando acesso a cultura, mesmo que seja mínimo. É uma galera da mesma idade que está promovendo, não é ninguém que é mais velho, de um caboclinho que tá querendo que a cultura continue ali. Estar surgindo, tanto o desenho quanto a poesia, tem uma galera que está escrevendo umas paradas massa! E vai rolar umas estórias boas se continuarem nisso. E em breve TRAGA A VASILHA!!!

Vidal de Sousa [design, poeta e cineclubista]
Bicho Coisa Design
membro de Iapôi cineclube
membro do Silêncio Interrompido

Desenhos de Luccy Lopes






































































































Desenhos de Luccy Lopes

21 fevereiro 2011

Algumas considerações.

O blog do Movimento Silêncio Interrompido é um espaço plural, de tantos, para muitos, hipérboles e excessos artísticos. Os artistas apresentados, em sua maioria, fazedores prioritários de poesia (ou não), estão espalhados por aí, por cá e por lá. Observando geograficamente os participantes, novos ou recém postados, ou re-postados vejo que partimos de uma linha de contato que inicia-se em Goiana acompanha a BR-101 indo para o norte e sul, Natal e Recife respectivamente; adentra-se na zona canavieira, Goiana, Itambé, Pedra-de-Fogo, Timbaúba, Carpina. –isto para literatura – o nosso regionalismo-liberal é geográfico, não é estético. Não há uma rigidez sobre quem serão os poetas postados, postamos quem acredita em sua poesia, em seu fazer poético, em seus trilhar estético - por isso serão encontrados neste espaço os mais diversos tipos literários. Esperamos que os leitores escolham, degustem, apreciem e gozem com as postagens ou os autores que lhes agradem, ficando para nós (do blog) o prazer de montar esse grande menu.
Em ordem alfabética: Ademauro Coutinho, Aldemir Suku, André P., carol vitall, Carolina Marinho, Edmilson Madureira Segundo, Geisiara Lima, Henrique de Shivas Gr., Marcelo Arruda, Philippe Wollney, R.R e Wendell Nascimento

Bom apetite – literário, antropofágico e sexual.

P.W.

Para o violão

O vento que leva
O timbre do violão.
O violão que faz
Uma linda canção.

O músico que entre
As suas cordas cria
Com emoção.

O compositor que fez
A letra com amor
Para o violão.

Ademauro Coutinho

NEIM.

Chorar por um filho que ainda não nasceu. Tão pouco pelo dia que ele não morreu. Visitar um quarto que era bom. Pelo tentar esquecer, as aranhas invadiram os cantos das paredes onde fizemos juras, lá por ter tanto espaço em nossa relação, fizeram assim suas habitações. A vista plana que hoje é: favelas de lã.

Tomar um porre por um filho que poderia ser meu, pedir ao açougueiro uma caneca de sangue de minha geração. Alisar uma toquinha branca vazia de idéia, por o sol em seus olhos para que possa, apesar de eu ser de trevas, encandearem-me, risonhas luzes.

Rezar por este que poderia ser eu. Sentar no milho das lendas de nossas mães. Ver Cristo de mexendo e ter vontade de tirar ele do favor que nos fez na cruz. Ter nas madrugadas a visita de um choro. Seria melhor que terem notícia desta bala. Nem sei pra quê: tanto agouro.

Chorar por algo que ainda nem se sabe se vai ou não nascer. Ter fé no milagre que duvidamos se o curandeiro curou. Apostar nos cavalos que nem pernas têm. Esperar na porta o corpo maltratado de meu amor. Imaginar um berço que no escuro o breu chorou. Alisar a cabeça vazia de um neném que a mãe de mim matou.

Aldemir Suku

[sem título]

Sempre sabendo saber, subir e sofrer,
Sigo sentindo, sem sombra, som e sentido,
Sorrindo, sambando, sangrando e sumindo.

Sentado sozinho em suma sina,
Sujo, sóbrio e soberano,
Sirvo sonâmbulo a sonhos sutis,
Seguro segredos santos a singir
Sintonias sísmicas de sinos suburbanos.

Simétricos sons simultâneos,
Sintetizam sigilos subterrâneos,
Saboreiam sais subcutâneos
Secando os sabores são das senzalas.

Sórdida sacarose sacramentada,
Suor simboliza sua semelhança,
Silêncio simplifica suas sinistras substâncias,
Semestres selvagens e senhores sem semblantes.

Séculos e séculos se somaram,
Socorro soaram em salas sem sanar
E simplesmente sigo surdo a solfejar,
Esta sistemática sinfonia de Ss (éssis).

André P.
Goiana, 11/02/2011

Aos que me dizem, me olham e me tratam...

É assim que me dizem;

É assim que me tratam;

É assim que me olham...

Para muitos, não passo de um depósito de dejetos

Onde urinam e defecam

Olhares confundidos,

Pensamentos não concluídos...

E entre descargas de sentimentos descomidos,

Consumo todos os seus insumos e sumo.

E é assim que os vejo;

É assim que os digo;

É assim que os trato...

O alimento que me dão não é digno de um prato

Mas ainda os considero uma fonte de esterco que me aduba.

E eu, ainda que pareça mendigar ajuda,

Sou um rico catador de lixo,

Louco das pancadas do viver,

A procurar, reciclar e devolver

As merdas que eles puseram no mundo.


André P.
Goiana, 07/02/2011

[...]

na dor, pela dor
um poema
do corpo frágil
veio ele
eterno
mesmo que anônimo.

carol vitall

[sem título]

[sem título]
quando percebi
a chuva
que caía
meus óculos já povoavam
gotas

carol vitall

(`)

(`)
as flores
eu não me nego à beleza das flores
abertasexplosão
( não sumo – assumo
meus espinhos )

carol vitall

[...]

Nosso arbítrio não é livre
Obedece ao apito deles
E ao negarmos, somos cegos
E ao resignarmos, somos reles
- Fantoches sem opção
Cúmplices desse crime cruel
E ao olharmos para o céu
Esperando caridade
Esquecemos que o trabalho é o exercício da paixão


Confundimos passividade e alento
Põe-se o conforto na realização
Mas ao contestarmos, somos fortes
E mudarmos, nascemos
E ao vivermos, buscamos
Na alegria e na anarquia o sustento

Carolina Marinho

...

uma sílaba
emitida aqui
e o silêncio
se foi mais pra lá


Edmilson Madureira Segundo
[2011]

Censo do sindicato dos poetas

O trabalho vai matar a poesia.
Um dia quando acordar
O mundo não será mais
De elefantes cor-de-rosa,
Estrelas na cara,
Fumaça de fábrica verde-amarelada,
Paradoxos, versos repetidos,
Coisas infinitas, bonitas, finas.
Tudo será automático,
Os poetas acordarão cedo
Pregados nas suas cadeiras
Usando gravatas apertadas.
Terão que cumprir horário,
Dizer sempre sim ao chefe,
Fazer hora extra,
Uma média de poesia por dia.
Pronunciarão a palavra protocolo muitas vezes,
Assinarão ponto todo dia,
Fim do mês se contentarão com um salário,
Férias uma vez por ano de trinta dias.
Depois de tudo transformado
Vão se aposentar,
Se suicidar por não ter mais o que fazer.

Geisiara Lima
Timbaúba

Transporte

Carros circulam,
Transportando quem precisa
Pra lá e pra cá...
Pernas já não resistem a longas distâncias,
E não sou eu
Que depois de um dia de trabalho miserável
Vou questionar.
Preciso de você
E nada pode trazer
Então os carros não fazem tudo
E o mundo continua a desandar.

Geisiara Lima
22-12-2010, Timbaúba

Barulho

Os sons que escuto não são de música.
A vida em sociedade é dura e não dá pra argumentar.
É uma sinfonia tosca, melodias repetidas,
Sons que delimitam a vida
Fazem cair em desespero,
Arrancar os cabelos:
- Não posso me atrasar!
Sinto saudade da boa vagabundagem,
Da dívida alegre
E da velha bateria
Que fez abrir os ouvidos,
Nunca devia ter aberto os olhos.

Geisiara Lima
22-12-2010, Timbaúba

Departamentos

Seus arquivos bem justificados
E pedidos de mais e mais,
Seus pedaços de papéis picados
Dizendo que não posso errar.
Material desperdiçado
As traças reinarão.
Quem pode ter o pescoço erguido,
Segurar a cabeça num prato,
As mãos num teclado,
Automaticamente trabalhar

Faço tudo que me pedem
Pacientemente de bico fechado,
Não reconheço o olhar.
O espaço criativo é forjado,
Tenho quinze minutos
Antes do chefe voltar.

Geisiara Lima
22-12-2010 Timbaúba

Fraqueza atual

A carne já foi menos fraca
Agora qualquer faca de pão pode cortar.
Abraço forçado,
Aperto de mão é necessário
Pra qualquer bêbado me fazer chorar.
Um dedo pra fazer gozar,
Gesto pra mudar,
Machucado pra infeccionar
Infecção pra matar,
Bactéria pro mundo se alertar,
Roupa ficar velha pra jogar,
TV pra ficar bem no sábado,
Um dia em casa
Pra perceber o que não há.

Geisiara Lima
22-12-2010 Timbaúba

Não Prisões

I

Tanto pensei que correto fosse pensar que sempre possível seria um sonho realizar...

II

Que amores fossem como dádivas e não prisões.

III

Que amores fossem certos e perdidos não.

IV

É que não se cria a Natureza o homem para fácil viver, principalmente os que Dela esperam Os Seus Planos.

V
Como o fazem os Bons Pais que severos com os seus filhos são, assim o é que penso que seja o fato.

VI

Mas a idade revela que do Amor não se pode ter por muito o que o causa: efêmera é a Paixão senão é Sublime.

VII

De facto, crescer preciso é se não a Vida passa sem crescer poder...

VIII

Só lamentando Eu vi muitos dias amanhecerem e sumirem...

IX

Que raiou o Sol e o perdi sem a Cor ver.

X

Prefiro que assim o seja, mesmo que a Ela outro homem a Paixão lhe dê.

XI

Que não seja Eu O Eleito ou O Cristo.

XII

Mas que não permita-me pensar a Sã Razão que assim o foi em um momento, pois o que constitui Eleição de um Ser Maior é o que para Nós O Melhor o é, e para tudo em Nós O Ser Maior tem também o seu Plano e a sua Hora.

XIII

Disso, agradeço a Ela, acima de tudo, ter me dado olhos que vêem Além, sem disso precisar dizer que Sou O Mais Sábio, ou que arrogante me ponha Eu ante o Outro.

XIV

Certeza eu tenho de que mudado o fui, para melhor O Ser o que tem em mim lá dentro.

XV

Que a cá em peito meu Outro Coração impulsiona já o meu Passo.

XVI

E que posso tanto ser quanto “o que pode mais do que o permite a sua própria natureza”.

XVII

Mordia-me outrora os meus dentes a minha carne própria, na dúvida, mergulhado, como quem arruinado muito não pára de chorar.

XVIII

Hoje não só entendo como sei que foi para O Meu Melhor o Passado meu sentir, para no Presente ter Eu um Conhecimento Certo do que de vir há: de que na Vida nada em vão é, como se pensa o Tolo; que tudo Preparo é e Esforço mútuo, como se tivesse dessa Vida outra Após e dessa Além.

XIX

A Força que move o braço meu não some se o braço meu sumir. A Força que rege os sonhos meus não cessa nunca de Existir.

XX

É que Preguiçoso o é “o ato de pensar ter tudo um fim”: sem os olhos abrir e tentar mais fundo ver, o que naquele Mar permanece obscuro mais.

XXI

E foi assim que descobri que em Vida até os Amores são como tratos: que se a Vida é vivida desse modo o é para O Melhor Dela Mesma, e é por Nós somente que a Vida se faz tal como é, mesmo que disso, inconscientes todos – vivamos sem saber O Seu Rumo.

XXII

Torcendo estou eu para que continue assim a Vida minha, na certeza de que, nesse Equilíbrio, possa Ela atravessar sem despencar.

XXIII

Na certeza de que possa eu vencer sempre sabendo ser O Esforço uma Virtude e defeito não.

XXIV

E que cousas eu possa precisar alcançar sem temer cair.
(...)

Henrique de Shivas Gr.

O Futuro

Vi coisas belas nos céus vibrando
como nuvens elásticas o vento esmagando
no balaço descompasso do espaço.

Vi sidérios de óvnis prateados
doirados de luzes e de um vapor-neônico
e containers de ferro submersos em amálgamas de rubro-fluido.

Vi navios de diamante cintilar risonhos
na estrada que vai da Terra ao Sol
e aves de metal movidas a fogo e plasma-etérea.

Vi reinos de máquinas em vapor pleno
do sulfúrico-ácido o mar brotando
na aurora de um paraíso-magnético.

Vi ruas de siderúrgico-aço o chão botando
e tratores de vinte metros um vão abrindo:
um rombo em meio à superfície de um metal.

Vi mulheres com bundas de plástico o músculo embotando
e homens de cérebros eletrodinâmicos
da vida a equação fazendo.

E pássaros com cantos de microfone
antenados às redes de telecinese mundiais
voando sobre uma linha de espuma e ondas magnéticas.

E jasmins de sintéticos-perfumes brotando sob a luz das lâmpadas de sódio
ricas da fotossíntese que o carbono engendra
e plácidas de nutrientes que o adubo encontra.

Henrique de Shivas Gr.
Coleção POEMAS DO FUTURO

Partido da Poesia

Queremos manter a ordem
- eles dizem – a ordem
É a burrice geral

Somos os defensores da paz
- se arrogam eles – sem saber
Que a paz não se defende
Se pratica.

Somos donos da moral
-pontificam – mentindo
A si mesmos, envergonhados
De seus terríveis segredos

Só não tocam na poesia
Que ela pertence aos amantes
Aos magos, aos navegantes
O além mar e céu e tudo
E a poesia
Que é bela e transparente
Joga com a sombra de tudo
No campo da luz do dia
E ascendem a chama da vida
No seio da noite imensa.

Marcelo Arruda

Crônica de poeta do interior.

ao Ave Sangria

Nos trataram como loucos-bêbados-bichas pelo modo que falávamos, pelo jeito que andávamos, pelo ritmo compulsivo que bebíamos, das nossas caras tristes, sorridentes e roupas sujas.

Hei! man
A vida é feita de pedaços do céu

Olhos inquisidores perguntavam para que tanto sinal de fumaça, o que se passa em suposto intelecto em tanto sinal de vadiagem? – brindar em fuleragem a nós mesmos.

Hei! man
Pobre de quem não teve o seu

E gritamos: - vão todos tomar no cú com o seu domingo de tédio sal/cristão anúncio de segunda-feira bélica atentando contra os princípios de si mesmo de transar até as quatro da manhã.

Hei! man
Voce precisa correr mais riscos do que eu
Hei! man
Pobre de quem não percebeu

P.W.

.cores.

A minha alma em cores, curvas e temores
desliza no céu branco,
contornando as nuvens de pensamento, tormento e talento
que me camufla de uma realidade daltônica, fria e morta.

R.R

.sonho ou sobrevivência.

um choque de realidade
abrem meus olhos sem charme
eu posso enxergam atrás dos disfarces
em cada causada deixo um pedaço da carne
do meu corpo que exposto a todo tipo de maldade
num país de tantas crenças
eu te pergunto
sonho ou sobrevivência?

R.R

Sete Anos

Talvez você não tenha ouvido os meus olhos te avisar
porque no meio de todo esse barulho que a vida faz
tentando nos mostrar o verdadeiro sentido que ela tem,
mas que ninguém consegue ver ou explicar isso.
Você tenha se distraído com
o luar que eu trouxe e joguei no céu pra te impressionar quando faltasse o que falar
antes de eu tentar te beijar.
Porque eu já não consigo disfarçar o apreço que sinto por você
eu já não consigo mais esconder esse amor sol que está
prestes a nascer.
Talvez você não tenha percebido o meu desejo traduzindo o futuro
porque em meio a toda essa soberba secura que o tempo tem em
nos consumir, mas que ninguém consegue amainar ou sucumbir;
Você tenha se apaixonado pela atmosfera que eu tinha criado só pra te
envolver, guando o frio chegasse antes de eu tentar te abraçar.
Por que eu já não consigo mais disfarçar o que sinto por você
eu já não consigo mais esconder esse amor represado que está
prestes a trasbordar.

Wendell Nascimento

Entenda o que escrevo e saberás o que penso

Os meus pés sangram
mas eu não irei olhar meu cansaço ocultar
a sorte de não ter mais pra onde ir.
Já que enquanto sangro a vida diz:
Seja o que você tem tempo pra ser,
antes que o que você não tem tempo
venha lhe consumir

Wendell Nascimento

Sei Não

Não sei de onde vem esse estranho
e irremediável desejo de sumir com
todas as dores e duvidas do mundo.

Wendell Nascimento

[...]

Não quero saber do tino do mundo.
Eu vou saber envelhecer
pois o amor é meu reduto.
Hoje a noite faz frio, a noite acho que vai chover.
Mas, o que é que não se pode mudar?

Wendell Nascimento

Ninguém vai ver

Eu queria sangrar mas não há mais sangue.
Eu durmo com o mundo todo dia e ele acorda
toda manhã e não consegue me ver.
Eu deveria sumir.Mas, acho que já fiz isso e não me dei conta
por que eu tinha um coração, um amor, um sonho e os perdi dentro
do vazio que a esperança deixou antes de se suicidar.
Eu vou chorar mas, ninguém vai ver.

Wendell Nascimento

17 fevereiro 2011

entrevista com Ademauro Coutinho e André Philipe

Os poeta Ademauro C. e André P. falam sobre a importância dos livretos, recitais e sarais por essas bandas da zona da mata pernambucana - que mata mesmo!

Para assistir a entrevista clique aqui.

P.W








OBS: Os livretos dos poetas podem ser baixados gratuitamente pelo blog do Silêncio Interrompido, na seção DOWNLOAD [livretos poéticos] ou clique aqui

IAPÔI cineclube - DOMINGO - 20/02

O IAPÔI Cineclube da continuidade ao estudo sobre a obra de um dos mais importantes diretores do cinema italiano, Ettore Scola. O próximo filme exibido será "Um Dia Muito Especial".

SERVIÇO:
Onde? No Polytheama em Goiana
Quando? Domingo - dia 20 de fevereiro de 2011
Que Horas? 16hrs
Quanto? Gratuito

SINOPSE:
Roma, 6 de maio de 1938. Benito Mussolini e Adolf Hitler se encontraram para selar a união política que, no ano seguinte, levaria o mundo à 2ª Guerra Mundial. Praticamente toda a população vai ver este acontecimento, inclusive o marido fascista de Antonietta (Sophia Loren), uma solitária dona de casa que conhece acidentalmente Gabriele (Marcello Mastroianni), seu vizinho, quando seu pássaro de estimação foge e ela o encontra pousado na janela do vizinho. Antonietta nunca falara com Gabrielle, que tinha sido demitido recentemente da rádio onde trabalhava por ser homossexual. Ela, por sua vez, era uma esposa infeliz e insegura pelo fato de não ter uma formação profissional. Gradativamente os dois desenvolvem um tipo muito especial de amizade.

FICHA TÉCNICA:
título original: (Una Giornata Particolare)
lançamento: 1977 (Itália)
direção:Ettore Scola
atores:Sophia Loren, Marcello Mastroianni, John Vernon, Patrizia Basso.
duração: 105 min
gênero: Drama
status: Arquivado

Blog: www.ipoicineclube.blogspot.com

Contatos:
caiovd@hotmail.com
philippewollney@yahoo.com.br

13 fevereiro 2011

ELETRICCIDADES







Trabalho Experimental de Philippe Wollney [texto] & Elthon Araújo [fotos].
Óptica poética dos afetados de radiação eletro-magnética, ode ao fornicar das torres de uma sub-estação de eletricidades ao por-do-sol, fotopoema de vizinhos. Para obter a versão em PDF acesse: E-LIVRO [ ELETRICCIDADES]

Vídeos dos Poetas no Festival Cocultura.

Ademauro Coutinho.

André P.

Vidal de Sousa.

Philippe Wollney.

Tácio Évanis [participação especial]

Vídeos de Poetas do Silêncio Interrompido no Festival Cocultura -1° Festival de Coco da Zona da Mata Norte de Pernambuco, que aconteceu em setembro de 2010.
Realizamos o Lançamento do Livreto dos Poetas Ademauro Coutinho [ TRIZ-TE ] e de André P. [ AS POSSIBILIDADES MULTIPLICADAS E JUNTAS ], os livretos podem ser baixados gratuitamente neste Blog pelo link DOWNLOAD LIVRETOS


MOMENTO LANÇAMENTO DO LIVRETO: ANDRÉ P.

se não visualizar a janela de vídeo clic no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=i3FMV_KCD1c


MOMENTO LANÇAMENTO DO LIVRETO: ADEMAURO COUTINHO

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http://www.youtube.com/watch?v=Pye3jJ2Rovw


RESITAL: POETAS NO FESTIVAL COCULTURA

se não visualizar a janela de vídeo clic no link abaixo: 
http://www.youtube.com/watch?v=R7pu5e3Dvvs

09 fevereiro 2011

Hoje eu sou da Mata

para Philippe Wollney

Querido Diário,

São 17 horas e a safra da tarde alimenta as usinas.

Vestido de preto com alma de punk,

Concerto as rabecas para o cavalo marinho.

Na vitrola,

O Sepultura da o tom da brincadeira

E eu sou coco e viola,

Melaço de cana e feijoada.

Pife e guitarras sobre a mesa,

Quero mais é me esbaldar!

Fogueirinha e gatinhas à margem do rio…

Vou tocar reggae, maracatu e forrozar.
.
.
Giordano Bruno Gonzaga [ Sujeito Verbo ]

Escritor vs Muriçocas, parte I

This is your name: Muriçocas

Para quem esta chegando do passado a esse novo século vá logo se acostumando com os climas tronxos, coisas que só podem acontecer no Brasil, filas pra tudo, trânsito e outros congestionamentos, câmeras em todos os lugares, desastres da natureza a todo tempo, pessoas nascendo cada vez mais estúpidas e um verdadeiro problema que eu particularmente vivo e alguns de vocês, quer dizer alguns, aqueles que moram na torre de babel estão isentos deste pequeno problema. Que é nada mais nada menos que: muriçocas.

Muriçocas são pequenos mosquitos do satanás que não vão deixar você descansar um minuto sequer. E por mais que você lute e busque soluções elas sempre irão voltar. Como aquele namorado chato que quando te encontra ou namorada no caso das mulheres é bem mais difícil, enfim, assim como estes dois, as muriçocas, ah eu odeio fazer essas comparações, quero engordar esse texto e fazer com que fique legal, mas, agora assim, esses bichos nós nunca saberemos como, mas, eles sempre vão voltar e fiquem certo: que serão longas horas que você passará de saco cheio até que finalmente eles morram.

Matando com as próprias mãos.
Primeiro. Táticas de guerra, saber onde o inimigo se esconde.
Segundo. Espremer-los contra parede não deixando ele escapar de seu território pois, ele pode denunciar sua posição.
Terceiro. Ter ótimos reflexos, sentir onde o inimigo vai beliscar, saiba, que sempre é nas pernas, nucas, costas e nos braços. Os mais safados, por baixo das saias, mas, até hoje não temos nenhuma ocorrência disto.

Tentativas de camuflagem.
Sentindo as mordidas vejo que é a hora de me camuflar, calças de pano, camisa de mangas, mesmo que eu esteja afim de dar uns amassos na patroa não há escapatória, tira a calça rapidinho e depois veste se não quiser levar picada na bunda em duplo sentido. A calça pode e tem que ser de pano não jeans não ser que você queria dormir já pronto pro trabalho.
Outra solução é procurar mexer o corpo pra que elas não pousem e nisso vale tudo, forró, axé, dançar o creu, pular, vale até simular síndromes de tourette ou parkson.
As vezes vasculho meus bolsos na esperança de achar ali perdido alguma nota, quando acho, não penso nem em terminar essa texto, corro pro supermercado, mercadinho, quitanda, bocada, qualquer lugar que venda baygon e mando uma rajada semelhante a cena de Rambo com sua metralhadora. Quando não tenho essa maravilha em minhas mãos vou com sentinela, mas, as muriçocas já adquiriram uma mascara de gás para evitar o cheiro da fumaça, isso não adianta nada, queimar aquela rodela verde que eu chamo de oiti de marciano por algumas horas, uma catinga de lascar, quando penso que vai ter resultado, está eu tomando nebolizador por causa da fumaça que causa asma. E os mosquitos comemoram – e isso companheiros e companheiras a causa é nobre e luta continua.

Achando falhas no campo de batalha.
Isso acontece comigo simplesmente porque vacilei, certamente só eu como o vizinho também que fez essa cagada, deixando a caixa d’água aberta, poças d’água, mato ou terreno baldio, tudo isso faz com que esse mosquito vindo do inferno nasça para por o terror no mundo.

Cessar fogo?
Certamente vou, pelo menos, por enquanto que eu estiver dormir ou for ver aquelas coisas no computador que só vejo quando a mulher dorme. É ai que elas atacam, no fraco do homem, nas canelas, nas costas. Ficam voando em cima da minha cabeça. E há aquelas que zombam quando se erra a mira da palma de mão, então quando começo a me irritar, elas passam voando dando risinhos bem no início do espaço sonoro do ouvido, ô barulho incomodante.
Por mais que limpe sempre a casa por mais que a preguiça seja um dos meus pecados favoritos, mantenho tudo limpo, mesmo assim sofro com a turma da Maga. Apelido esse que acabei arranjar. Porém quando ela esta gordinha de sangue fica doidona e nem levanta vôo. E ai que se deve pega-las.

Vingança com as próprias mãos
A danada fez o que fez comigo, esperou lá no teto eu chegar cansando do trabalho, tomar um banho o cheiro recém saído do banho é que a excita ainda mais, na hora que me sento, ponho um café pra ver as boas notícias do jornal, ela desce e chama a canbada, vai por baixo da mesa, pois, adora ser discreta, senta de leve no couro, que é pra não assustar e dá a primeira mordida da noite. Na intimidade a mesma coisa, no vuco-vuco dos corpos pegando fogo elas participam picando as costas, depois no sono profundo elas trabalham livremente.
Passaram a noite assim, na maior farra, quando amanhecem estão nas paredes, gordas de sangue e cansadas, então, é ai que você respira, ri, esquenta a mão e manda ver, é uma verdadeira chacina, eu simplesmente exponho minha alma selvagem e de carnificina. As que escapam, contam a história, as que não, ficam pregadas na parede para que as formigas façam o resto do trabalho, recolher seus corpos e enterrá-las nas mais profundas e desconhecidas cavernas aonde minha curiosidade sobre as formigas não acompanham.

Fim feliz?
Nada quem dera, se todas as muriçocas morrerem de uma só vez, eu estaria simplesmente satisfeito, haveria uma festa e feriado nacional, a rendição das muriçocas. Enquanto isso, vou ai, procurar dormir. E detalhe enquanto fiz esse texto matei cinco delas, mesmo com a raja de baygon, mesmo com os sentinelas acessos, e minhas palmadas, elas, ainda insistem, porque? Porque?
Soube que uma nova arma foi criada, uma raquete que dá choque e isso tem isso um grande avanço já que pode derrubar vários pelotões delas. Mas enquanto os novos recursos não chegam da capital, vou me camuflando como posso.
Ops... Acabei de matar a sexta muriçoca, quer dizer, a sétima, depois disso, não falo mais nada.

--
Aldemir Sukhu

Escritor vs Muriçocas, parte II

Num sei o que há com as segundas-feira mas me sufoca o colarinho em ver que tive um dia tão monótono e não fiz nada que mudasse o giro do mundo. Apenas acordei atrasado, passei no trabalho, fui pro computador, andei pelo centro da cidade pra resolver pequenos terremotos, passei na casa da minha mãe que acompanha a Folha de Pernambuco o Bandeira 2 diariamente pra ver se não eu estou lá na página policial dado como morto, comei, falei besteiras, passei na casa da turma, algumas cervejas e a mesma ladainha de sempre: mulheres, despedidas, ônibus de volta pra casa, casa, sono, sonhos.

***

Antes de chegar perambulei calmamente mais temendo a assaltados ou sismas, nas ruas do centro da cidade, já tarde, os olhos tristes amarelados do postes guiando-me e minha sombra carregando os rascunhos do muro desaparecendo de tanta propaganda. Como mudei de endereço; quer dizer, mudei tudo em mim, barba, cabelo, endereço, jeito, idioma, atitude, olhos, beijo, sexo, mudei tudo de lugar para ver se meu habitar ganhava novos ares e está ganhando. Percebi que só mudar os moveis de lugar ou jogar algumas coisas que a casa fica mais limpa e espaçosa.

***

Chegando na casa nova os dois cachorros que moram comigo e mais um cara, me recepcionaram, antes, era uma família inteira, hoje são apenas dois cães fervendo de emoção dentro dessa casa vazia.

***

Brinquei um pouco com os dois e a preocupação já latejava – vai ser uma longa noite. Como sai de casa apenas levando um dúzia de calças, alguns livros e discos, três pares de sapato, um lençol, um relógio e uma mala. Não tinha como transportar mais nada, faltava uma coisa fundamental que era um ventilador e o resto de tudo o que possui nesta vida queimei no esquecimento da memória.

***

Noite alta, tento ler, o tédio cresce entre os campos mudos dessa quarto, o vazio, a solidão, o esquecimento e a falta de habito de visitar outras memórias.

***

Quando elas percebem que estou triste e muito de dentro mim, aproveitam a frágil e cega situação e se organizam pra fazer a festa na minha depressão. E tome mordida e tome tapa pra se derrubo seu ataque massivo. Caço muriçocas com os olhos, mas, apenas escuto os risinhos de suas minusculas asas. Assim foram as primeiras semanas nesta casa. Voava pela madrugada, pensamentos, diálogos comigo mesmo em voz alta e algumas poesias recitadas pra ninguém ouvir. Tentava matar o tempo seja lá como fosse. Mas eu só conseguia dormir às 6h da manhã, era à hora em que elas se cansavam e iam pra suas malocas. O sono durava muito pouco, apenas 1h. No domingo eu me apresentava com um aspecto cansando, olheiras como uma bacia d'águas nos meus olhos, bocejos, mais bocejos, a engrenagem da mente cada vez mais parando de circular. E as danadinhas já ansiosas para mais uma noite de inquietação e sangue.

***

Andei louco por dentro de casa, pois, não estava mais suportando o aperreio que as muriçocas me causavam, mosquitos do inferno, como fantasmas que atormentam as casas para que possam ter mais privacidade – como é que um homem bem dorme mal? Andando de um canto a outro e vigiado cada voo delas fiquei a perguntar isso varias vezes.

***

Mexendo nas coisas da minha nova residência encontrei num quarto abandonado um ventilador, triste, coberto de poeira, esquecido e mal tratado semelhante a mim nesse dia. Dei uma limpada e fui ver qual era seu problema. Detectei numa fração de segundos com o olho a fio que só eram alguns fios desencontrados. Nada que um estilete e uma fita isolante não resolva – enquanto isso as muriçocas já beiçavam minhas pernas – rezei pra tudo quanto é Santo pra que isso desse certo. Quando pluguei a tomada no interruptor. Nossa. Vu-ala. Gênio. Fabuloso. Funciona. Caros amigos e amigas, conhecidos e conhecidas, pessoas comuns e extraterrestres, futuras namoradas e inimigos de briga, confesso uma coisa a vocês. Eu nunca sentirá uma alegria tão insignificante como essa. É duro. Viver num país mediócre como esse onde somos abençoados por dificuldades. As minhas dificuldades são baseadas nessas histórias que há um bom tempo vocês leem ou não. Mas. Nunca realmente senti feliz em vê-lo ali girando e soprando flocos e mais flocos de poeira. Espelhei nesse objeto velho e esquecido e por causa de um problema ninguém o quis, mesmo assim, ele me mostra o quanto ele estar disposto a dar um minuto de sossego na minha vida já que tudo me incomoda.

***

Cai no colchão me lágrimas, chorei muito, durante uns 20 minutos e senti o vento empoeirado do ventilador sujo tanger minhas lágrimas, pra que não caíssem em mim, pude ir além do silêncio, da dor, da melancolia, do tédio e do mal humor, sentir abraçado por aquele eletrodoméstico funcionar a todo custo pra mim.

***

Depois disso comecei a zombar das muriçocas – olha bando porra, nunca mais vocês vão morder o negão aqui, olha, vão ficar com fome, vão ficar fome, vão ficar com fome – depois o ventilador deu um teco e fiquei logo preocupado pois, minha alegria sempre foi pouca, quando vi o danadinho estava só tentando esboçar um sorriso de satisfação em me servir e ficou num tec-tec-tec sempre quando terminava o curso da esquerda.

***

Fiquei deitado no escuro, coberto como um pacote, finalmente, paz. O ventilador foi me ninando. Até que adormeci como há muito tempo não fazia. O mais emocionante é que de manhã ele ainda estava lá.

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Aldemir Sukho